Missa do 1. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 2,1-5; Romanos 13,11-14a; Mateus 24,37-44.
Houve
um tempo em que a espera enchia a vida de sentido. Esperava-se a Páscoa para se
comer o “ovo de Páscoa”; esperava-se o Natal para se ganhar o presente desejado;
esperava-se o casamento para se experimentar o prazer de uma relação sexual.
Mas o tempo da espera foi eliminado da existência humana. Antes mesmo do tempo
da Quaresma, os ovos de chocolate são comprados e consumidos, de forma que o
dia da Páscoa não tem mais novidade alguma a se aguardar. Da mesma forma, as
famílias de boa condição financeira presenteiam seus filhos em qualquer tempo,
e a relação sexual deixou de ser exceção, passando a ser regra no namoro. Portanto,
não há mais o que esperar, e o não ter pelo quê esperar esvaziou a vida de
sentido.
Advento
é tempo de espera. Não estamos esperando apenas alguma coisa acontecer, mas estamos
esperando o nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo: “Ele virá, uma segunda vez, (...)
àqueles que o esperam, para lhes dar a salvação” (Hb 9,28). O tempo do advento
existe para nos ensinar a importância da espera. Uma vida sem espera é uma vida
sem horizonte, sem amanhã. Todos nós precisamos esperar: esperar pela resposta
à nossa pergunta; esperar pela cura da nossa ferida; esperar até que a noite
termine e nasça o dia; esperar até que seja completada a obra que Deus iniciou
em cada um de nós: “Tenho plena certeza de que aquele que começou em vós a boa
obra há de levá-la à perfeição até o dia de Cristo Jesus” (Fl 1,6), isto é, da
segunda Vinda de Cristo.
Só
a espera nos livra do desespero e de uma vida sem sentido. Foi a espera em reencontrar
pessoas da própria família que fez com que muitos judeus não enlouquecessem e
não se suicidassem nos campos de concentração. A espera é o gemido do Espírito
Santo em nós: “gememos interiormente, suspirando pela redenção do nosso corpo”
(Rm 8,23). O tempo do Advento existe para nos tornar conscientes de que vivemos
o tempo do “ainda não”: ainda não terminamos a corrida; ainda não encerramos a
luta; ainda não chegamos à meta. Precisamos aprender a suportar o “ainda não”,
até que o Senhor Jesus venha e cumpra cada uma das suas promessas a nosso
respeito.
Nós,
cristãos, estamos vivendo o tempo entre a Páscoa e a segunda Vinda de Cristo,
entendido biblicamente como o tempo da conversão, da necessária perseverança,
da fidelidade ameaçada, da fé combatida. No horizonte da história humana há uma
promessa: o insignificante monte Sião, uma pequena colina sobre a qual foi
construído o templo de Jerusalém, se erguerá e se tornará o ponto mais alto da
terra (cf. Is 2,1-2), onde Jesus se encontrará com seus eleitos. Em outras
palavras, a aparente insignificância da nossa rotina, dos nossos dias e das
nossas atitudes em tornar o mundo melhor, será recompensada pelo próprio Jesus
que “passou por este mundo fazendo o bem” (At 10,37).
Se
não queremos que em nossa existência a espera seja substituída pelo tédio, pelo
vazio, pela perda de sentido, precisamos “acordar”. O apóstolo Paulo nos alerta
para o perigo do sono, da distração, de quem, por descuidar da sua vida
espiritual, reduziu a sua esperança a uma vida mundana: sua existência se
resume em comer, beber, consumir, desfrutar, competir, sem dar à própria uma
direção, uma razão, um sentido. A pessoa funciona como uma mera engrenagem dentro
de uma máquina, vivendo automaticamente, fazendo o que é mandada – ou o que foi
“programada” (a partir de fora) para fazer. Quando se dá conta, a vida passou e
ela não viveu, mas “foi vivida”.
Jesus
deseja nos despertar do sono de quem vive no automatismo, fazendo uma porção se
coisas sem se perguntar para onde sua vida está indo. Ele nos recorda que a sua
Vinda encontrará a humanidade exatamente como o dilúvio a encontrou: as pessoas
comiam, bebiam, casavam-se, trabalhavam, divertiam-se, sem se dar conta de que
algo estava acontecendo. Elas “nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24,39). Quem vive a
partir da carne, de maneira mundana, “nada percebe”: a existência, para essa
pessoa, não tem um para que, uma razão de ser, um sentido, mas quem vive a
partir do espírito sabe que sua existência tem uma finalidade, e as escolhas
que ela faz hoje refletirão no seu destino final.
A diferença entre viver de maneira mundana e viver
de maneira espiritual aparece nessas palavras de Jesus, revelando que, no
momento da sua Vinda, um homem “será levado e o outro será deixado”; uma mulher
“será levada e a outra será deixada” (Mt 24,40-41). A Vinda de Jesus surpreenderá a
todos (como um ladrão), mas aqueles que o esperaram, que suportaram em suas
vidas o “ainda não”, que se mantiveram firmes na fé, serão salvos, justamente
porque receberão a concretização daquilo que esperaram: a própria salvação.
Algumas perguntas podem nos ajudar neste
início de Advento: O que eu espero da vida? Eu lanço as sementes para colher
aquilo que eu desejo e espero? Eu suporto na minha história de vida o “ainda
não”? Como o Senhor Jesus me encontrará: promovendo desavenças, conflitos, brigas
e rivalidades, ou promovendo a paz (cf. Is 2,4; Rm 13,13)? Ele me encontrará agindo
com honestidade e perseverando na minha vida espiritual, ou levando uma vida
mundana: comendo, bebendo e me prostituindo?
“Vivemos esperando
dias melhores: dias de paz, dias
a mais
dias que não deixaremos para trás... Vivemos esperando
o dia em que seremos melhores: melhores no amor,
melhores na dor, melhores em tudo” (Dias
melhores, Jota Quest).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
“… Quem vive a partir da carne, de maneira mundana, “nada percebe”: a existência, para essa pessoa, não tem um para que, uma razão de ser, um sentido, mas quem vive a partir do espírito sabe que sua existência tem uma finalidade, e as escolhas que ela faz hoje refletirão no seu destino final…”
ResponderExcluirIsaías 40:
29 Dá forças ao homem acabrunhado, redobra o vigor do fraco.
30 Até os adolescentes podem esgotar-se, e jovens robustos podem cambalear,
31 Mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar.
Obrigada Pe. Paulo.
Grande abraço, Catarina!
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