Missa de Finados. Palavra de Deus: Sabedoria 3,1-6.9; Romanos 5,5-11; João 6,37-40
A
vida do ser humano está nas mãos de alguém? Alguns pensam que ela está nas mãos
do destino, do acaso, da sorte ou do azar. Outros pensam que ela está nas mãos
da política, da economia, do mercado capitalista que se impõe sobre o mundo. Nós,
homens e mulheres de fé, acreditamos que “a vida dos justos está nas mãos de
Deus, e nenhum tormento os atingirá” (Sb 3,1). Essa afirmação bíblica nos diz
duas coisas importantes. Primeiro, a nossa vida não está em nossas mãos, isto
é, não podemos dispor dela como bem entendemos; ela nos escapa; ela é um dom
que recebemos, não uma posse que adquirimos com o nosso esforço. Segundo, a
vida de quem crê, de quem escolhe viver apoiado em algo maior que ele mesmo,
está nas mãos de Deus, Aquele que é maior que todos, Aquele de cujas mãos nada
pode ser arrancado (cf. Jo 10,28-30)
Porém,
o fato de a vida de uma pessoa de fé estar nas mãos de Deus não significa que
essa vida se desenvolva dentro de uma redoma de vidro, tendo como garantia não
sofrer nenhuma dor, nenhuma perda, nenhuma aflição. O próprio salmo 34,20
afirma que “muitas aflições se abatem sobre o justo, mas de todas elas o Senhor
o liberta”. O homem de Deus, a mulher de Deus é uma pessoa que sofre muitas
aflições porque vive num mundo contrário a Deus, contrário à vida, um mundo que,
ao mesmo tempo em que faz de tudo para manter-se distante da realidade da
morte, produz morte diariamente e de muitas maneiras.
Todos
nós morreremos um dia; todos morrem: morrem os justos e também os injustos;
morrem os que creem em Deus e também os que não creem; morrem os que fazem o
bem e também os que fazem o mal. A diferença está no pós-morte: “Aos olhos dos
insensatos parecem ter morrido; sua saída do mundo foi considerada uma
desgraça, e sua partida do meio de nós, uma destruição; mas eles estão em paz...
Sua esperança é cheia de imortalidade” (Sb 3,2-4). Mesmo nós, que temos fé, às
vezes cometemos o erro de considerar a morte de uma pessoa que amamos somente como
uma “desgraça”, uma “destruição”. É porque não enxergamos a verdadeira Vida; é
porque nos esquecemos de que a nossa esperança em Cristo não é somente para
esta vida terrena (cf. 1Cor 15,19).
Todos aqueles que
morreram em Deus, que morreram em Cristo, estão em paz, porque “sua esperança é
cheia de imortalidade” (Sb 2,4). Como está nossa esperança? Nós vivemos nossa
vida diária com esperança? Segundo o
apóstolo Paulo, a nossa esperança enquanto cristãos se deve ao fato de sermos uma
pessoa “justificada” e “reconciliada” com Deus, por meio de Jesus Cristo. Isso faz
com que a nossa vida esteja firmemente fundada numa esperança que não
decepciona. Embora cada um de nós se encontre num campo de batalha, onde as
forças do mal e da destruição atacam perigosamente cada cristão, podemos permanecer
firmes, sustentados por uma confiante segurança, sabendo que a luta terminará
de modo positivo.
Para o apóstolo
Paulo, a esperança que temos em Cristo não será desmentida, porque ela é sustentada
pelo Espírito Santo, garantia da nossa ressurreição (cf. Ef 1,14; 4,30). Eis,
portanto, a nossa atual condição de cristãos: justificados por Cristo, seremos
também salvos por ele. A morte nada mais é do que a nossa passagem da vida transitória
para a vida definitiva; ela é a dor de parto que nos faz nascer definitivamente
para a vida eterna no Pai e no Filho.
Se nós iniciamos a
reflexão de hoje nos perguntando nas mãos de quem está a nossa vida, Jesus
responde: “Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o
lançarei fora, pois desci do céu... para fazer a vontade daquele que me enviou.
Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum
daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia” (Jo 6,37-39). A nossa
fé em Jesus não é fruto da nossa vontade em crer, mas fruto da graça do Pai em
nós. Por meio da fé, o Pai nos fez ir até Jesus, nos fez aderir ao Evangelho, e
Jesus nos acolheu de braços abertos. Como o centro da vida de Jesus foi fazer a
vontade do Pai, Ele dedicou sua vida em cuidar daqueles que o Pai lhe deu, não
permitindo que nenhum se perdesse (cf. Jo 17,12).
Eis, portanto, mais
uma razão para que a nossa esperança se encha de imortalidade: nossa vida foi
confiada pelo Pai às mãos do Filho, e Jesus nos garante que, naquilo que
depender d’Ele, nenhum de nós será arrancado de suas mãos; nem mesmo a morte
tem o poder de nos tirar das mãos do Pai e do Filho, pois a vontade do Pai em
nos salvar em seu Filho Jesus Cristo nos destinou à vida eterna: “Esta é a
vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha a vida
eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40). A vida eterna já habita
no coração de quem crê em Cristo e cultiva um relacionamento de fé com ele. Quem
procura diariamente confiar sua vida às mãos do Pai e do Filho sabe que está
destinado a ressuscitar no último dia.
Que a celebração
deste dia de Finados torne nossa esperança na ressurreição e na vida eterna
plena de imortalidade, e que possamos viver os nossos breves dias neste mundo
com a consciência de sermos homens e mulheres justificados, reconciliados,
destinados à salvação em Cristo Jesus, nossa Ressurreição e nossa Vida.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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