quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A DIFERENÇA ENTRE "REAGIR" E "RESPONDER"

 Missa de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12.

 

            Diante da vida, nós sempre assumimos uma atitude, ou ativa, ou passiva. Alguns encaram a vida com otimismo; outros, com pessimismo. Alguns ficam paralisados ou retrocedem diante dos problemas; outros, enfrentam os problemas com coragem e esperança. Alguns não permitem que lhes roubem a esperança; outros, facilmente se entregam ao desespero. Diante da vida, alguns apenas “reagem” ao que lhes acontece, enquanto outros “respondem” àquilo que os atinge naquele momento.

            Enquanto “reagir” seja algo próprio dos animais – e também das pessoas que abrem mão da sua liberdade e da sua responsabilidade com a desculpa de que a realidade à sua volta não colabora para o seu crescimento ou a sua felicidade – “responder” é próprio do ser humano. Enquanto “reagir” é uma atitude que não exige de mim consciência, liberdade e responsabilidade, “responder” chama em causa as três coisas: diante daquilo que me acontece, eu consulto minha consciência, faço uso da minha liberdade e respondo de acordo com os meus valores, com a minha vocação, com a missão que eu sou.   

            Neste dia em que celebramos todos os Santos, lembramos que todos nós somos chamados à santidade. O Deus que é Santo e nos chama a sermos santos nos chama a sair do piloto automático da “reação” para assumirmos a tarefa de orientar a nossa existência a partir da “resposta” que escolhemos dar diante das situações que nos atingem. Desse modo, enquanto a pessoa “mundana” apenas “reage” ao que lhe acontece, a pessoa chamada à santidade “responde” ao que lhe acontece, e responde – dizendo mais uma vez – a partir da sua consciência e da sua liberdade de filha de Deus.

                A imagem do homem santo e da mulher santa foi colocada diante dos nossos olhos pelo Evangelho que acabamos de ouvir, o Evangelho das bem-aventuranças. Segundo o Papa Francisco, a santidade consiste em: ter um coração inquieto, insatisfeito, no sentido de estar aberto ao crescimento; agir com humildade e mansidão; saber chorar com os que choram; buscar a justiça com fome e com sede; olhar e agir com misericórdia; ter intenções retas no coração; semear a paz ao seu redor; questionar e incomodar a sociedade com sua própria vida de santidade (Gaudete et Exsultate, nn. 67-94). E Francisco brilhantemente conclui afirmando: “Para viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja favorável” (GE, n.91). E ainda: “Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade” (GE, n.94).

            Segundo o Pe. Adroaldo, s.j, o cristão que vive a partir da sua vocação à santidade, “se sente sereno, livre, pensa positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as adversidades, integra suas contradições, ama sem pôr condições, (...) introduz amor onde há ódio, revela a paciência onde existe intransigência, manifesta compreensão onde existe revolta, comunica paz onde existe a violência, deixa transparecer uma presença alegre onde impera a tristeza”.

            Além do Evangelho, também o livro do Apocalipse dirigiu o nosso olhar para os “Santos”. Antes de serem encontrados no céu, diante do trono de Deus e do Cordeiro (Cristo ressuscitado), essas pessoas viveram na terra em meio aos outros seres humanos. Enfrentando as diversas situações do cotidiano, elas permitiram que suas frontes fossem marcadas por Deus, isto é, abriram a consciência para Deus e aceitaram fazer com Ele um caminho de santificação, passando da atitude da mera reação para a atitude de responder diante da realidade segundo os valores do Evangelho.

            O Apocalipse afirma que essas pessoas compõem “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar”, imagem do desejo de Deus de salvar todas as pessoas; “estavam de pé”, imagem da ressurreição; estavam “vestidas com roupas brancas e traziam palmas na mão”, imagem de quem venceu a tentação, a provação e a morte; e “todos proclamavam com voz forte: ‘A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro’”, porque, de fato, “a santidade não é o fruto do esforço humano, que procura alcançar Deus com suas forças, e até com heroísmo; ela é dom do amor de Deus resposta do homem à iniciativa divina” (missal dominical, p.1367).

            Os Santos são pessoas que “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). Portanto, “os santos, de hoje e de sempre, não são encontrados nos pacíficos ambientes dos templos ou dentro dos limites da instituição eclesial, mas nas encruzilhadas da pobreza e da injustiça, nas ‘periferias existenciais’, em perigosa proximidade com o mundo da violência e da marginalidade, em situações de risco, onde a luz do amor brilhará mais do que nunca. São pessoas anônimas que estão presentes em todos os lugares, como fermento na massa, despertando esperança em tempos difíceis” (Pe. Adroaldo, s.j.).

            Ao celebrarmos todos os Santos, abracemos nossa vocação à santidade, nos abrindo ao chamado do Senhor, que “nos quer santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa... Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (Papa Francisco, GE n.14). Enfim, lembremo-nos de que a santidade consiste em “morrer e ressuscitar continuamente” com Cristo (Papa Francisco, GE, n.20).

 

ORAÇÃO: Pai Santo, marca-me na fronte com o sinal de que pertenço a Ti. Concede-me a sabedoria do Espírito Santo para que eu não simplesmente reaja diante dos acontecimentos, mas responda-lhes segundo a liberdade e a responsabilidade que me foram dadas enquanto pessoa chamada à santificação. Sei que não devo esperar que tudo me seja favorável só para então viver segundo o Evangelho de Teu Filho.

Quero, com a Tua graça, trilhar o caminho da minha santificação diária, mesmo que isso me traga sofrimentos e tribulações. Livra-me de uma vida medíocre, superficial e indecisa. Que eu saiba oferecer diariamente e com amor o meu sacrifício pela santificação da Igreja e da humanidade. Resgata todo ser humano do erro, do pecado e da autodestruição, pelo sangue de Teu Filho, no qual todos nós encontramos redenção e santificação. Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

Nenhum comentário:

Postar um comentário