quinta-feira, 5 de novembro de 2020

A FÉ SOBREVIVE QUANDO ALIMENTADA DE ESPERANÇA

 Missa do 32. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 6,12-16; 1Tessalonicenses 4,13-18; Mateus 25,1-13.

 

A sua vida hoje é o que você esperava dela? Talvez, a maioria das pessoas responda “não” a essa pergunta. No entanto, a vida é como ela é, e não como nós gostaríamos que ela fosse. Certamente, alguns ou muitos dos nossos sonhos ainda não foram concretizados, assim como algumas das nossas metas ainda não foram alcançadas. Mas, pior do que ainda não termos realizado nosso sonho ou alcançado nossa meta, é não termos nenhum sonho, nenhuma meta. Pior do que não termos nossa esperança realizada é caminharmos na vida sem nenhuma esperança. Uma pessoa sem esperança é alguém que não espera nada, nem da vida, nem dos outros, nem de Deus, nem de si mesma, e quem não espera nada simplesmente morreu por dentro.

Jesus não nos quer mortos por dentro; ele não nos quer desprovidos de esperança. No seu Evangelho ele pergunta pela nossa esperança; não só se temos esperança, mas como estamos alimentando nossa esperança. Através da parábola das dez virgens que esperam pelo noivo, Jesus pergunta a nós, sua Igreja, se ainda esperamos por ele, nosso Esposo; se ainda mantemos no horizonte da nossa fé a certeza de que ele está vindo ao encontro de cada um de nós, conforme a promessa: “Ele virá... para aqueles que o esperam para lhes dar a salvação” (Hb 9,28).

Seja para aqueles que ainda esperam por ele, seja para aqueles que desistiram de esperar, Jesus virá para todos, mas só celebrarão com ele a festa de casamento aqueles que estiverem com suas lâmpadas acesas, símbolo bíblico da fé. Quando começaram a esperar pelo noivo, as lâmpadas das dez virgens estavam acesas, mas a chama das lâmpadas era alimentada com óleo, da mesma forma como nosso celular é alimentado por uma bateria. Como o noivo demorou, o óleo que havia na lâmpada foi consumido e, para se manter a lâmpada acesa, foi preciso usar a reserva de óleo. Eram “dez” as virgens, número que simboliza a humanidade. Cinco virgens – chamadas “previdentes” – tinham levado essa reserva, mas cinco não – chamadas “imprevidentes”. A humanidade se divide em pessoas que se responsabilizam pela sua salvação e pessoas que não se responsabilizam.

O nosso problema não está na fé (lâmpada acesa), mas numa fé que não é alimentada pela esperança (reserva de óleo). A grande maioria das pessoas cristãs um dia teve fé em Jesus; um dia sentiu sua lâmpada interior acesa! Mas essa chama inicial não suportou a demora do Senhor, uma demora que faz parte do Seu mistério. Por mais que tenhamos fé em Deus, não podemos controlá-Lo, não podemos enquadrá-Lo nas nossas expectativas: Ele virá e se manifestará em nossa vida quando Ele quiser, quando for a hora certa, e não quando esperamos que Ele venha. Essa impossibilidade de controlar Deus e de fazê-Lo “funcionar” pela força da nossa fé faz com que nossa lâmpada consuma todo o seu óleo e se apague.

Jesus nos ensina que a fé não pode sobreviver sem esperança. Pode ser que a resposta para as nossas perguntas e a cura para as nossa feridas não sejam tão rápidas quanto imaginamos, quanto esperamos, e aí, se não estivermos preparados para esperar pelo Senhor, nossas lâmpadas se apagarão por falta de óleo; numa palavra, nossa fé perderá o sentido por falta de esperança. Uma vida sem oração e sem contato com a Palavra de Deus é como uma lâmpada cuja reserva de óleo se esvazia a cada dia, sem ser abastecida, ou como um celular cuja bateria se descarrega a cada momento.  

Porque o Senhor demora, porque Deus é mistério e não pode ser controlado por nós, nossa esperança precisa ser exercitada, até se tornar uma esperança incansável. Quem não cuida, não alimenta, não cultiva e não protege sua esperança torna-se uma pessoa triste, apática, negativa e pessimista perante a vida; é como uma lâmpada sem óleo, uma pessoa sem vida interior. Cuidar da fé e alimentar a esperança é responsabilidade de cada um de nós. O marido não pode fazê-lo pela esposa, nem a esposa pelo marido; os pais não podem fazê-lo pelos filhos, nem os filhos pelos pais.

Nossa época é marcada pelo excesso de cobrança externa e pela falta de cuidado interno. As mesmas pessoas que vivem cobrando que fora delas haja luz não se dão ao trabalho de cultivar sua luz interior. São pessoas que assumiram o papel de parasitas: se acostumaram a se alimentar da energia dos outros. Para elas vale a advertência do Evangelho: as virgens previdentes não puderam emprestar óleo às outras, pois cada lâmpada tem que ter sua própria reserva de óleo, assim como cada celular tem que ter sua própria bateria. Tendo que improvisar de última hora, as virgens imprevidentes, que foram à cidade comprar óleo, perderam o momento em que o noivo chegou e não puderam entrar na festa.

Eis, portanto, a advertência de Jesus: ninguém pode viver da fé do outro, nem da esperança do outro. A salvação é responsabilidade individual. Manter a fé e a esperança vivas, alimentadas, cuidadas e protegidas dentro de nós é responsabilidade nossa. Embora não saibamos o dia e a hora em que Jesus virá, sabemos que cada dia e cada hora que passa nos aproxima do encontro com ele. O futuro desse encontro é confiado às nossas mãos (óleo = responsabilidade).  

 

ORAÇÃO: Senhor Jesus, teu Evangelho me chama a esperar por Ti com minha lâmpada acesa, com minha fé viva. A atitude da espera exige de mim perseverança na fé; exige que minha fé se desdobre em esperança. Apresento a Ti minha reserva de óleo, minha esperança provada e cansada, uma esperança que necessita ser reavivada.

Reaviva em mim a graça do teu Espírito! Renova minha fé e fortalece minha esperança! Eu creio e confio na Tua promessa de vir para dar a salvação àqueles que não desistiram de esperar-Te. “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos! Peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não vos amam!”.    

 

             Pe. Paulo Cezar Mazzi

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