Missa
de Cristo Rei do Universo. Palavra de Deus: Ezequiel 34,11-12.15-17; 1Coríntios
15,20-26.28; Mateus 25,31-46.
A
história humana tem um fim? As guerras, a fome, as doenças, a violência, as tragédias,
os acidentes e as injustiças sociais costumam colocar um fim precoce à vida e
aos sonhos de muitas pessoas. Mas, nem a história individual de cada pessoa,
nem a história humana tem como fim a morte, e sim o encontro com Aquele que é o
princípio e o fim (cf. Ap 1,17), Aquele por meio de quem o Pai decidiu reunir e
restaurar todas as coisas; “as que estão na terra e as que estão no céu” (Ef
1,10). Portanto, mais do que um fim, a história humana tem uma finalidade, uma
razão, um sentido, um para quê: no horizonte da história humana está o encontro
com Jesus Cristo, por meio de quem foram feitas todas as coisas (cf. Jo 1,3), o
Redentor de todo ser humano.
Esse
encontro já foi anunciado nos Evangelhos dos dois últimos domingos, na parábola
das virgens prudentes – Cristo deve nos encontrar com a lâmpada da fé acesa,
alimentada pelo óleo da esperança (cf. Mt 25,1-13) – e na parábola dos talentos
– Cristo nos pergunta se estamos nos responsabilizando pela tarefa que a vida está
nos pedindo neste momento (cf. Mt 25,14-30). O que temos agora diante dos
nossos olhos é o momento solene em que “todos os povos da terra” são reunidos
diante de Jesus, e ele separa “uns dos outros, assim como o pastor separa as
ovelhas dos cabritos” (Mt 25,32).
“Todos
os povos da terra” se encontrarão com Jesus porque “Deus o constituiu juiz dos
vivos e dos mortos” (At 10,42), o que significa que “todos nós teremos de
comparecer manifestamente no tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a
retribuição do que tiver feito durante sua vida no corpo, seja para o bem, seja
para o mal” (2Cor 5,10). Aquele que hoje é o Salvador e o Redentor de todo ser
humano, assumirá sua função de Juiz de todo ser humano, e nos julgará não
segundo as aparências, mas segundo a verdade do nosso coração, a verdade das
nossas atitudes.
Esperar
pelo julgamento de Cristo significa esperar pelo cumprimento da promessa que
Deus fez por meio do profeta Ezequiel: “Eu farei justiça entre uma ovelha e
outra” (Ez 34,17). Quantas injustiças são cometidas diariamente na face da
terra? Quantas pessoas partiram dessa vida sem ver justiça? Quantos hoje à
nossa volta têm fome e sede de justiça? Especialmente em nosso país,
lamentavelmente caracterizado por ser desigual e injusto, um país que favorece
a impunidade, quantos sofrem com a falta de justiça; quantos desistiram de
esperar por justiça?
Durante
sua vida terrena, Jesus conheceu de perto o sofrimento e as injustiças humanas.
Nenhum sofrimento e nenhuma injustiça passam despercebido dele. Ele se
identifica com os que sofrem e com os que são injustiçados. Ele é o justo Juiz
a quem o Pai concedeu o poder de julgar todo ser humano, e, como o Evangelho
deixa claro, esse julgamento se dá não em relação à nossa vivência religiosa,
mas social, humana, cotidiana; concretamente, na maneira como nos posicionamos
diante de quem sofre.
São João
da Cruz costumava dizer que “no entardecer da vida, seremos julgados a respeito
do amor”. Quando sua vida terrena terminar, Jesus lhe perguntará se você amou,
e, como acabamos de ver no Evangelho de hoje, amar não é um sentimento, mas uma
atitude: amar é dar de comer, dar de beber, cuidar, visitar, não abandonar,
defender, fazer-se próximo de quem precisa. Segundo o Papa Francisco, “a pandemia
do Covid-19 despertou, por algum tempo, a consciência de sermos uma comunidade
mundial que viaja no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos. Deus
queira que tenhamos dado um salto para uma nova forma de viver e descubramos,
enfim, que precisamos e somos devedores uns dos outros” (FT nn.34-35).
A
cena do julgamento final nos convida a olhar para o presente, para a maneira
como hoje estamos tratando as pessoas menos favorecidas, sobretudo aquelas mais
expostas ao sofrimento à nossa volta. Diante das ovelhas feridas desse imenso
rebanho que é a humanidade, Deus assumiu um compromisso: “Vou cuidar de minhas
ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia
de nuvens e escuridão. Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar
a da perna quebrada, fortalecer a doente” (Ez 34,14.16). É através dos homens e
mulheres de bem que Deus cumpre essa promessa; é através das nossas mãos que
Deus cuida das pessoas à nossa volta. O nosso culto e a nossa oração a Deus só
se revelam verdadeiros quando saímos deles dispostos a cuidar das pessoas que
necessitam de nós.
ORAÇÃO:
Senhor Jesus Cristo, hoje venho pedir perdão por toda atitude minha de
indiferença para com os necessitados. Quando o Senhor permite que uma pessoa
carente cruze o meu caminho, é porque há algo que eu posso fazer por ela.
Hoje
teu Evangelho me recorda que, no entardecer da minha vida, eu serei julgado(a)
a respeito do amor. O Senhor, como justo Juiz, me perguntará se eu amei, se eu
me deixei afetar pelo sofrimento das outras pessoas, se eu dei minha
colaboração para tornar esse mundo mais justo e mais humano.
Quero
abrir-me àqueles que estão à minha volta. Quero abraçar contigo a missão de procurar
a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, cuidar daquela que está ferida e defender
aquela que está ameaçada por algum tipo de maldade ou injustiça. Ajuda-me a não
me fechar em mim mesmo(a), mas a me fazer próximo(a) de toda pessoa que eu
puder ajudar. Amém!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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