Missa do 1. dom do advento. Palavra de Deus: Isaías 63,16b-17.19b;64,2b-7; 1Coríntios 1,3-9; Marcos 13,33-37.
Num momento de grande dor e de perda
de esperança para Jerusalém, Deus se dirige a essa cidade, por meio do profeta
Jeremias, e lhe garante: “Existe recompensa para a sua dor; há esperança para o
seu futuro” (Jr 31,16.17). Hoje nós iniciamos o tempo do advento, tempo que nos
convida à espera e à esperança. Como seres humanos, nós somos carregados de
desejos, e, por isso, carregados de espera: esperamos que nossos desejos se
realizem. O tempo do advento nos abre justamente para o futuro e para a
esperança, com a diferença de que, mais do que a realização dos nossos desejos
humanos, esperamos Aquele que vem.
O desejo e a esperança nos dizem que
nossa vida não pode ser vivida em função do passado, assim como o nosso
presente não pode estar fechado em si mesmo. Há um futuro e uma esperança! O
Senhor Jesus vem, e sua vinda nos convida a abrir as portas e janelas da nossa
casa interior, do nosso mundo, para respirar o ar da sua aproximação, da sua
chegada. Nós aguardamos o Senhor Jesus Cristo animados pela certeza de que o
Pai nos “dará perseverança” em nosso “procedimento irrepreensível, até ao fim,
até ao dia de nosso Senhor, Jesus Cristo. Deus é fiel; por ele” fomos “chamados
à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso” (1Cor 1,8-9).
É possível que muitas pessoas se sintam
cansadas em sua esperança. O passado ainda lhes pesa e o presente não lhes
apresenta perspectiva de mudança. Por isso, para reavivar a nossa esperança, o
profeta Isaías nos coloca diante dessa certeza: “Nunca se ouviu dizer nem
chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto tu, tenha
feito tanto pelos que nele esperam” (Is 64,3). Manter a esperança viva dentro
de si é o mesmo que abrir a porta para que Deus entre e faça aquilo que só Ele
pode fazer, em vista da nossa salvação. Não esperar em Deus e por sua salvação
é o mesmo que manter-se fechado à ação da Sua graça.
Como
esperar pelo Senhor que vem? O próprio profeta Isaías nos dá a dica: “Vens ao
encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus
caminhos” (Is 64,4). Espera-se pelo Senhor praticando a justiça com alegria,
isto é, não desistindo de ser uma pessoa justa, correta, boa, íntegra.
Espera-se pelo Senhor lembrando-se d’Ele em seu caminho cotidiano, procurando
viver segundo a sua Palavra, segundo a sua vontade. É por isso que Jesus chama
a nossa atenção para a responsabilidade que foi confiada a cada um de nós.
Esperamos pelo Senhor sendo fiéis à tarefa que Ele nos confiou. Mesmo quando
estamos desanimados e enfraquecidos em nossa esperança, precisamos abraçar
diariamente a tarefa que nos é confiada pela vida.
Para
falar da sua vinda, Jesus usa uma imagem: “É como um homem que, ao partir para
o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados,
distribuindo a cada um sua tarefa” (Mc 13,34). Cada um de nós tem uma tarefa
perante a vida; cada um de nós é responsável por cuidar de algo neste mundo. Essa
responsabilidade, esse cuidado, são sublinhados por Jesus por meio da atitude
da vigilância: “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem...
Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. O que vos
digo, digo a todos: Vigiai!” (Mc 13,35-37).
Muitas
pessoas se entregaram ao sono do desânimo, da perda de sentido de vida, ao sono
do pessimismo e da falta de esperança. São pessoas que, ao invés de serem
motivadas a partir de dentro, esperam que a motivação venha de fora; são
pessoas que, ao invés de terem uma orientação interna, esperam em vão por uma
orientação externa. No entanto, a mudança vem de dentro, não de fora; a motivação e a
orientação devem vir de dentro de nós, jamais de fora! Vigiar, não dormir, é
uma decisão que cabe a cada um de nós tomar, não esperando que o mundo torne as
coisas favoráveis a nós.
“O que vos digo, digo a todos:
Vigiai!” (Mc 13,37). Passar do sono para a vigilância significa reavivar nossa
vida de oração, sabendo que toda oração é sempre uma atitude de esperança. Quem
não tem esperança não consegue rezar. Vigiar significa diariamente colocar-se
como barro nas mãos do nosso Oleiro (cf. Is 64,7). Vigiar significa levantar-se
todo dia para caminhar ao encontro do Senhor que vem, buscando na sua Palavra a
orientação para aquele dia, para o “hoje” da nossa vida. Vigiar significa
aprender a suportar a dor, o cansaço e a impaciência da espera, sabendo que existe
recompensa para a nossa dor; há esperança para o nosso futuro (cf. Jr
31,16.17).
ORAÇÃO:
Senhor, nosso Deus, Tu és nosso Pai e Redentor. Rasga os teus céus e desce até
nós, como chuva abundante sobre a terra árida da nossa vida. Tu és o nosso Oleiro
e nós nos entregamos como barro em tuas mãos, confiantes na ação da vossa graça
em nosso favor.
Visita-nos
em nossa necessidade de conversão e de salvação! Afasta de nós o sono do
pessimismo e da falta de esperança. Fortalece-nos em nossa fé, tornando-nos
capazes de vigilância. Que o Teu Filho Jesus, ao chegar, nos encontre cuidando
daquilo que foi confiado aos nossos cuidados.
Especialmente
neste tempo de advento, reaviva a virtude da esperança no coração de todo ser
humano, dando-lhe a certeza de que há uma recompensa para a dor da espera, há
um futuro para todo aquele que luta para manter viva sua esperança. Por Jesus,
Aquele que vem. Assim seja!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi