Missa do 25. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 55,6-9; Filipenses 1,20c-24.27; Mateus 20,1-16a
Desde crianças, aprendemos que existe
uma recompensa para o fato de uma pessoa esforçar-se em ser boa, correta e
justa. Para nós, é mais do que natural e justo entender que a pessoa que se
esforça mais merece alcançar a vitória, enquanto que aquela que se esforça
menos ou não se esforça merece somente a derrota. Eis, portanto, duas palavras,
dois conceitos, duas ideias muito comuns em nossa maneira de entender a vida e
que nos distanciam da maneira de Deus entendê-la: o mérito e a recompensa.
A ideia de mérito e recompensa pode
funcionar muito bem nas empresas, sobretudo quando se pensa em melhorar a
produção e em “incentivar” os funcionários a apresentarem resultados mais
eficientes, mas é uma ideia perigosa no campo da fé, uma ideia que distorce
completamente a imagem de Deus em nós. Quem compreende a vida somente a partir
da lógica do mérito e da recompensa não compreende e não aceita o fato de que
Deus queira salvar todas as pessoas (cf. 2Tm 2,4); não compreende e não aceita
que Jesus tenha vindo para salvar as pessoas consideradas pecadoras e perdidas,
e não as pessoas que se consideravam justas (cf. Mc 2,17).
A verdadeira imagem de Deus nos é
revelada por Jesus na parábola do Evangelho que acabamos de ouvir. Deus Pai sai
continuamente, a toda hora, para nos chamar. A história de cada ser humano e de
todos nós é exatamente isto: um chamado à salvação. Ao chamar pessoas de manhã bem
cedo, às nove horas, ao meio dia, às três e às cinco da tarde, Deus revela seu
desejo de que todos sejam salvos. Ele encontra cada ser humano num momento específico
da sua vida, ou seja, Deus compreende e acolhe cada ser humano na sua situação
particular. Portanto, precisamos estar cientes de que em cada momento da vida pessoal,
assim como em cada época da história da humanidade, existe um chamado do Senhor
à salvação.
Até aqui não há problema algum.
Saber que Deus deseja que todos sejam salvos nos parece até uma ideia simpática.
O problema é quando chega a hora do “pagamento”, a hora em que a nossa simpatia
pela salvação de todos se transforma em sentimento de injustiça pelo fato de
que nos darmos conta de que a bondade de Deus vai além da sua justiça, não se
importando com a nossa medida estreita do mérito e da recompensa. Para surpresa
nossa e de quem está lendo ou ouvindo o Evangelho, todos recebem o mesmo
salário! Aqui começa o desmonte da nossa imagem de Deus: Ele não é apenas
justiça, mas também bondade, misericórdia, gratuidade!
Ao
nos contar essa parábola, Jesus quer nos ajudar a conhecer melhor como é o
coração do Pai e a despertar em nós a confiança, a alegria e a gratidão pela salvação
que Ele oferece a todo ser humano, indistintamente. A justiça de Deus não está
presa na ideia de mérito e recompensa. Ela consiste em nos tratar não segundo
os nossos méritos, mas o segundo o Seu amor gratuito para conosco, levando em
conta principalmente a nossa necessidade de sermos salvos. É como se Jesus dissesse:
‘Meu Pai não olha quem merece; Ele olha quem precisa. Meu Pai não quer salvar
apenas aqueles que merecem; Ele quer salvar a todos, porque todos precisam ser
salvos’.
Esse
misterioso e surpreendente espaço de gratuidade que existe no coração de Deus aparece
descrito no Salmo 127, com essas palavras: “É inútil levantar de madrugada e
retardar o vosso repouso para ganhar o pão sofrido do trabalho; esse mesmo pão
Deus concede aos seus amados enquanto eles dormem” (v.2). Por mais que isso nos
escandalize, precisamos entender que a salvação não é um pão obtido com suor do
nosso rosto, mas dom do Pai para todos os seus filhos, para todas as pessoas
que necessitam ser salvas, ainda que aos nossos olhos parecem não o merecer!
Para
evitar mal entendidos, é importante esclarecer que Jesus não está incentivando a
esperteza nessa parábola. Deus conhece o coração de cada um. Os trabalhadores
que começaram a trabalhar às cinco da tarde (v.6) só receberam o convite para
trabalhar àquela hora. Ninguém deles agiu de caso pensado, de maneira
estratégica, ficando escondido o dia inteiro e só aparecendo na última hora
para trabalhar. Historicamente, esses trabalhadores representam os povos
pagãos, que só se abriram à fé muitos séculos depois dos judeus, representados
na parábola pelos trabalhadores que foram chamados logo de manhã.
Diante
de tudo o que foi exposto, alguém poderia perguntar: “Que vantagem recebemos
por termos observado os seus mandamentos?” (Ml 3,13s). A resposta depende do
que entendemos por “vantagem”. Na verdade, nós precisamos nos perguntar se amamos
verdadeiramente a Deus ou se estamos apenas interessados na recompensa que Ele
pode nos dar mediante aquilo que pensamos ser mérito nosso. Deus não tem
pessoas a premiar pelos seus méritos de justiça, mas filhos a resgatar, curar e
salvar no Seu amor. Não nos esqueçamos de que não somos pessoas justas, mas
pessoas justificadas. Se Deus fosse somente Justo, sem ser também Bom, ninguém de
nós teria salvação (cf. Sl 143,2).
ORAÇÃO:
Pai, tua graça e teu amor me visitam nas horas mais imprevistas do meu dia. Constantemente,
o Senhor passa e me chama a trabalha na tua vinha. Quero acolher o teu chamado;
quero abraçar o momento em que a tua graça passa, e me alegrar por fazer parte
a Igreja, da assembleia dos que foram chamados por ti a serem salvos em teu
Filho Jesus.
Hoje
rezo especialmente por todos os homens, por aquelas pessoas que ainda não foram
alcançadas pelo anúncio do Evangelho. Sei e confio que o Senhor conhece cada um
na sua individualidade e na sua história de vida. Que a graça do teu Espírito
desperte a consciência de cada ser humano para o bem, a verdade, a justiça e a
bondade. Que a ação pastoral da nossa Igreja seja a expressão visível do teu
amor e da tua bondade, que desejam salvar a todas as pessoas.
Livra-me
do orgulho e da presunção de ser uma pessoa justa. Que eu jamais duvide da tua
justiça, mas confie, sobretudo, na força da tua bondade que sempre encontrará
caminhos para chegar ao coração de cada ser humano. Enfim, que eu sempre me
alegre pela abertura de cada pessoa à tua graça e possa trabalhar contigo e com
teu Filho Jesus pela salvação de todas as pessoas. Amém!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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