quarta-feira, 30 de setembro de 2020

A FALTA DE CUIDADO COM O MEIO AMBIENTE NOS DESTRUIRÁ

 Missa do 27. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 5,1-7; Filipenses 4,6-9; Mateus 21,33-43

 

            “Não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela” (Is 5,6). Este ano estamos sentindo de maneira mais agressiva os efeitos do aquecimento global: uma estiagem mais severa, a ausência de chuvas, as temperaturas mais altas; até mesmo o Pantanal – a região mais úmida do Planeta! – está queimando, o que antes era impossível; uma situação agravada pela desmatamento da Amazônia, o qual aumentou gravemente a partir das ações do Governo de enfraquecer o Ibama na sua função de fiscalizar e punir os que desmatam e provocam incêndios; tudo isso em nome do lucro de pessoas gananciosas.

“Não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela” (Is 5,6). Por que Deus tomou essa decisão tão drástica para com a sua vinha? Por que ela não aceitou mais ser cuidada por Ele. Ora, se você perguntar a uma pessoa se ela gostaria de ser cuidada por Deus, certamente lhe dirá que sim, mas quem é que hoje aceita ser orientado pela Palavra de Deus? Quem aceita ouvir os profetas que falam em nome de Deus? Quem aceita sofrer as podas, as correções, a colocação de limites imposta por Deus, para o próprio bem do ser humano?

Quando a humanidade decide livrar-se da dependência em relação a Deus para viver uma vida livre de poda, de cerca, de muro, de torre de vigia, o resultado só pode ser este: “Vou desmanchar a cerca, e ela será devastada; vou derrubar o muro, e ela será pisoteada. Vou deixá-la inculta e selvagem: ela não terá poda nem lavra, espinhos e sarças tomarão conta dela; não deixarei as nuvens derramar a chuva sobre ela” (Is 5,5-6). Quantas pessoas você conhece que se parecem com uma vinha devastada, pisoteada, tomada por espinhos e mato, secando e morrendo, por falta de chuva? Essa situação não é provocada por Deus, mas escolhida pela própria pessoa. Ela é consequência da nossa decisão em seguir pela vida movidos pelos nossos interesses egoístas, mesmo sabendo que tais interesses produzem destruição para nós mesmos, para os outros e para o Planeta.

Nossa Igreja sempre levantou a voz para defender a Amazônia e o meio ambiente. Essa mesma Igreja tem levantado a sua voz para denunciar o abuso de uma economia de mercado que destrói o ser humano e o Planeta, mas essa voz tem sido atacada até mesmo por católicos de dentro da nossa Igreja, católicos que agem exatamente como os sumos sacerdotes e os anciãos agiam na época de Jesus, atacando os profetas. Esse ataque não é físico; é o ataque da não escuta, da rejeição aos nossos bispos, tachados que “comunistas” quando levantam a sua voz profética para denunciar as injustiças sociais e a destruição do meio ambiente. As redes sociais são o campo preferido desses católicos que querem os profetas “fora da Igreja”.

“Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram” (Mt 21,39). Que o mundo rejeite Deus e sua palavra profética é compreensível e esperado, mas que pessoas cristãs combatam a profecia dentro da Igreja, isso revela a grave inversão de valores que estamos permitindo que corrompa a nossa consciência e nos faça defender aqueles que provocam a morte e atacar aqueles que defendem a vida. Não é de admirar que Deus esteja decepcionado com muitos cristãos do nosso tempo: “Esperava que ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas selvagens... Eu esperava deles frutos de justiça - e eis injustiça; esperava obras de bondade - e eis iniquidade” (Is 5,2.7).

            Os frutos são a imagem bíblica do nosso comportamento, das nossas atitudes. Que atitudes podemos ter diante do desmatamento? Quem de nós se dedica ao cultivo de uma árvore, à preservação do meio ambiente à nossa volta? Quem de nós expressa o seu protesto diante das políticas de desproteção do meio ambiente do atual Governo? O nosso egoísmo e o nosso individualismo enquanto povo brasileiro está nos matando como filhos e como irmãos, e nós não estamos nos dando conta de que a destruição do outro – incluindo o meio ambiente – produz destruição para nós mesmos. Portanto, as mesmas mãos que se levantam em oração para suplicar chuva também precisam agir em favor do Planeta, também precisam lutar pela defesa da Amazônia, do Pantanal, do meio ambiente.

            Algumas palavras do Papa Francisco* sobre o cuidado com a nossa “casa comum”:

 

1. Explorar a criação: isso é pecado. Acreditamos que estamos no centro, fingindo ocupar o lugar de Deus e, assim, arruinamos a harmonia da criação, a harmonia do desígnio de Deus. Tornamo-nos predadores, esquecendo a nossa vocação de guardiões da vida. É claro, podemos e devemos trabalhar a terra para viver e nos desenvolver. Mas o trabalho não é sinônimo de exploração e vem sempre acompanhado do cuidado: arar e proteger, trabalhar e cuidar... Essa é a nossa missão (cf. Gn 2,15).

 

2. Não podemos esperar continuar crescendo em nível material, sem cuidarmos da casa comum que nos acolhe. Os nossos irmãos mais pobres e a nossa mãe terra gemem pelos danos e injustiças que provocamos e exigem outra rota. Exigem de nós uma conversão, uma mudança de rumo: cuidar também da terra, da criação. Portanto, é importante recuperar a dimensão contemplativa, ou seja, olhar a terra, a criação como um dom, não como algo a ser explorado pelo lucro. Quando contemplamos, descobrimos nos outros e na natureza algo muito maior do que a sua utilidade.

 

3. Muitas vezes, a nossa relação com a criação parece uma relação entre inimigos: destruir a criação em meu benefício; explorar a criação em minha vantagem. Não nos esqueçamos de que se paga caro por isso. Não esqueçamos daquele ditado: “Deus perdoa sempre; nós perdoamos às vezes; a natureza não perdoa nunca”. Cada um de nós pode e deve se tornar um “guardião da casa comum”, capaz de louvar a Deus pelas suas criaturas, de contemplar as criaturas e de protegê-las.

 

* “Cuidado da casa comum e atitude contemplativa”, a partir da leitura de Gênesis 2.8-9.15.

 

Eis, portanto, a nossa súplica: “Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a! Foi a vossa mão direita que a plantou; protegei-a, e ao rebento que firmastes! E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus! Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome! Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós, seremos salvos!” (Sl 80).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

2 comentários:

  1. Uma voz profética em meio as cinzas da destruição da natureza por omissão dos homens que valoriza o ter ao ser, mesmo com a perspectiva fatal do extermínio de nossa "casa comum".

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  2. Muito obrigado, Pe. Mazzi, pelas suas palavras proféticas!

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