sexta-feira, 26 de junho de 2020

IGREJA: CRISTO JUNTO A TODO SER HUMANO


Missa de São Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Neste dia em que celebramos os apóstolos São Pedro e São Paulo, chamados de “as duas colunas” da Igreja de Cristo, precisamos nos perguntar se a Igreja ainda hoje tem alguma importância para o mundo. A Igreja que Jesus fundou sobre os apóstolos é necessária para a humanidade? Se sim, em que sentido?
A Igreja é tão necessária para a humanidade quanto procura fazer-se próxima desta, o que significa dizer também que a Igreja é vista como desnecessária tanto quanto se mantém distante dos dramas que marcam a história humana no mundo atual. “Talvez este tempo de edifícios eclesiais vazios ponha simbolicamente em evidência o vazio escondido nas Igrejas e o seu possível futuro – se não fizermos uma séria tentativa de mostrar ao mundo um rosto do Cristianismo completamente diferente. Estivemos demasiado preocupados em converter o ‘mundo’ (o ‘resto’), e menos preocupados em convertermo-nos a nós mesmos; e isto não significa apenas ‘melhorarmo-nos’, mas passar radicalmente de um estático ‘ser cristãos’ a um dinâmico ‘tornar-se cristãos’” (Pe. Thomás Halick, “O sinal”).
Essas palavras do Pe. Thomás Halick, interpretando o sinal das nossas igrejas vazias neste tempo de pandemia, nos provocam uma séria revisão de vida, seja no sentido particular, enquanto cristãos, seja no sentido comunitário, enquanto Igreja. Jesus não construiu a Igreja a partir dos apóstolos para ser uma Instituição em função de si mesma, mas, sim, para ser “um hospital de campanha após a batalha, cuidando das feridas de seus fiéis e saindo para encontrar os que foram machucados, excluídos ou que se afastaram” (Papa Francisco, março de 2013). Quanto mais próximos nós, cristãos, enquanto Igreja viva, nos colocamos junto aos homens e mulheres do nosso tempo, com suas preocupações e inquietações, com sua sede de sentido e de orientação, mais cumprimos a nossa missão e mais a Igreja tem sentido em ser e existir.
A pergunta que hoje se coloca é: a Igreja está aberta ou fechada à humanidade? “No dia anterior a ter sido eleito Papa, o cardeal Bergoglio citou um trecho do Apocalipse em que Jesus está à porta e bate. E acrescentou: hoje, Cristo está batendo a partir do interior da Igreja e quer sair. Devemos aprender a ampliar radicalmente os limites da nossa visão da Igreja. Cristo trespassou aquela porta que havíamos fechado com medo dos outros. Atravessou a parede que tínhamos erigido à nossa volta. Abriu um espaço cuja amplitude e profundidade nos obrigaram a olhar em volta” (Pe. Thomás Halick, “O sinal”).
Às vezes, as coisas precisam ser viradas do avesso, para enxergarmos a verdade que está diante dos nossos olhos. Um dia antes de sua eleição papal, Francisco virou do avesso Apocalipse 3,20 e teve a coragem de nos fazer enxergar que Cristo está do lado de dentro da Igreja batendo à porta e querendo sair, isto é, exigindo que a sua Igreja se desacomode, saia de si mesma e caminhe na direção das pessoas, colocando-se junto de todos aqueles que necessitam do sal, da luz e do fermento do Evangelho em suas vidas! Portanto, precisamos estar conscientes de que a insignificância da Igreja para as pessoas do nosso tempo é diretamente proporcional à distância que nós, enquanto Igreja, mantemos em relação a essas mesmas pessoas e seus dramas humanos.  
A liturgia de hoje nos coloca diante de dois homens que passaram por um processo de transformação, ao se encontrarem com Jesus Cristo e seu Evangelho. Simão, um pecador de peixes, tornou-se Pedro, chamado por Jesus a ser um pescador de homens e a confirmar seus irmãos na firmeza da fé. A ele Jesus confiou as chaves do Reino: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). A missão de Pedro, da Igreja e de cada um de nós, cristãos discípulos de Jesus, consiste em ajudar a humanidade a se desligar daquilo que a adoece e destrói e ligar-se àquilo que lhe confere vida e salvação. Neste sentido, também cada um de nós precisa tornar-se consciente do quê precisa se desligar e ao quê precisa se ligar, se conectar, para não ser adoecido, nem destruído.
Um outro homem, cuja vida passou por uma longa transformação, foi Paulo. De grande perseguidor da Igreja e dos cristãos, Saulo foi alcançado por Jesus e transformado no seu maior apóstolo, tendo como missão levar o Evangelho da salvação aos povos pagãos: “Para os fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo. E, isto tudo, eu faço por causa do Evangelho” (1Cor 9,22-23). Através da pessoa de Paulo, Jesus nos mostra que todos nós podemos passar por um processo de transformação; todos nós podemos aprender a nos colocar junto das pessoas do nosso tempo e fazer algo em vista da salvação das mesmas; todos nós podemos, não obstante nossa fragilidade humana, nos tornar um Evangelho vivo para aqueles que convivem conosco.  
Enfim, vivendo numa época de forte questionamento e de rejeição a todo tipo de instituição, tendo consciência de que alguns líderes da nossa Igreja atentaram contra a sua credibilidade perante o mundo, que cada um de nós, cristãos, possa reavivar a sua fé em Jesus Cristo, filho do Deus vivo, sabendo que essa mesma fé pode até estar cansada, abatida, desfigurada e sem sentido, às vezes, mas Jesus continua vivo e absolutamente necessário para quem necessita ser salvo e encontrar um sentido para sua vida. Que o testamento espiritual do apóstolo Paulo – “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7) nos sirva de inspiração e nos ajude a tornar a Igreja de Jesus Cristo presente no coração da humanidade, junto a todo ser humano que o Pai quer salvar.   

Pe. Paulo Cezar Mazzi


Um comentário:

  1. Muito inspiradora sua homilia, uma chave de leitura para o testemunho de quem assume sua fé e missão alicerçada nos baluartes da igreja. Pedro e Paulo apóstolos de Jesus.

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