Missa de São Pedro
e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18;
Mateus 16,13-19.
“Tu és Pedro, e
sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Neste dia em que
celebramos os apóstolos São Pedro e São Paulo, chamados de “as duas colunas” da
Igreja de Cristo, precisamos nos perguntar se a Igreja ainda hoje tem alguma
importância para o mundo. A Igreja que Jesus fundou sobre os apóstolos é
necessária para a humanidade? Se sim, em que sentido?
A Igreja é tão
necessária para a humanidade quanto procura fazer-se próxima desta, o que significa
dizer também que a Igreja é vista como desnecessária tanto quanto se mantém
distante dos dramas que marcam a história humana no mundo atual. “Talvez este
tempo de edifícios eclesiais vazios ponha simbolicamente em evidência o vazio
escondido nas Igrejas e o seu possível futuro – se não fizermos uma séria
tentativa de mostrar ao mundo um rosto do Cristianismo completamente diferente.
Estivemos demasiado preocupados em converter o ‘mundo’ (o ‘resto’), e menos
preocupados em convertermo-nos a nós mesmos; e isto não significa apenas ‘melhorarmo-nos’,
mas passar radicalmente de um estático ‘ser cristãos’ a um dinâmico ‘tornar-se
cristãos’” (Pe. Thomás Halick, “O sinal”).
Essas palavras do
Pe. Thomás Halick, interpretando o sinal das nossas igrejas vazias neste tempo
de pandemia, nos provocam uma séria revisão de vida, seja no sentido
particular, enquanto cristãos, seja no sentido comunitário, enquanto Igreja.
Jesus não construiu a Igreja a partir dos apóstolos para ser uma Instituição em
função de si mesma, mas, sim, para ser “um hospital de campanha após a batalha,
cuidando das feridas de seus fiéis e saindo para encontrar os que foram
machucados, excluídos ou que se afastaram” (Papa Francisco, março de 2013). Quanto
mais próximos nós, cristãos, enquanto Igreja viva, nos colocamos junto aos
homens e mulheres do nosso tempo, com suas preocupações e inquietações, com sua
sede de sentido e de orientação, mais cumprimos a nossa missão e mais a Igreja
tem sentido em ser e existir.
A pergunta que hoje
se coloca é: a Igreja está aberta ou fechada à humanidade? “No dia anterior a
ter sido eleito Papa, o cardeal Bergoglio citou um trecho do Apocalipse em que
Jesus está à porta e bate. E acrescentou: hoje, Cristo está batendo a partir do
interior da Igreja e quer sair. Devemos aprender a ampliar radicalmente os
limites da nossa visão da Igreja. Cristo trespassou aquela porta que havíamos
fechado com medo dos outros. Atravessou a parede que tínhamos erigido à nossa
volta. Abriu um espaço cuja amplitude e profundidade nos obrigaram a olhar em
volta” (Pe. Thomás Halick, “O sinal”).
Às vezes, as coisas
precisam ser viradas do avesso, para enxergarmos a verdade que está diante dos
nossos olhos. Um dia antes de sua eleição papal, Francisco virou do avesso Apocalipse
3,20 e teve a coragem de nos fazer enxergar que Cristo está do lado de dentro
da Igreja batendo à porta e querendo sair, isto é, exigindo que a sua Igreja se
desacomode, saia de si mesma e caminhe na direção das pessoas, colocando-se
junto de todos aqueles que necessitam do sal, da luz e do fermento do Evangelho
em suas vidas! Portanto, precisamos estar conscientes de que a insignificância da
Igreja para as pessoas do nosso tempo é diretamente proporcional à distância
que nós, enquanto Igreja, mantemos em relação a essas mesmas pessoas e seus dramas
humanos.
A liturgia de hoje
nos coloca diante de dois homens que passaram por um processo de transformação,
ao se encontrarem com Jesus Cristo e seu Evangelho. Simão, um pecador de peixes,
tornou-se Pedro, chamado por Jesus a ser um pescador de homens e a confirmar
seus irmãos na firmeza da fé. A ele Jesus confiou as chaves do Reino: “Eu te
darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado
nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19).
A missão de Pedro, da Igreja e de cada um de nós, cristãos discípulos de Jesus,
consiste em ajudar a humanidade a se desligar daquilo que a adoece e destrói e
ligar-se àquilo que lhe confere vida e salvação. Neste sentido, também cada um
de nós precisa tornar-se consciente do quê precisa se desligar e ao quê precisa
se ligar, se conectar, para não ser adoecido, nem destruído.
Um outro homem,
cuja vida passou por uma longa transformação, foi Paulo. De grande perseguidor
da Igreja e dos cristãos, Saulo foi alcançado por Jesus e transformado no seu
maior apóstolo, tendo como missão levar o Evangelho da salvação aos povos
pagãos: “Para os fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me
tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo. E, isto tudo, eu faço por
causa do Evangelho” (1Cor 9,22-23). Através da pessoa de Paulo, Jesus nos
mostra que todos nós podemos passar por um processo de transformação; todos nós
podemos aprender a nos colocar junto das pessoas do nosso tempo e fazer algo em
vista da salvação das mesmas; todos nós podemos, não obstante nossa fragilidade
humana, nos tornar um Evangelho vivo para aqueles que convivem conosco.
Enfim, vivendo numa
época de forte questionamento e de rejeição a todo tipo de instituição, tendo
consciência de que alguns líderes da nossa Igreja atentaram contra a sua
credibilidade perante o mundo, que cada um de nós, cristãos, possa reavivar a
sua fé em Jesus Cristo, filho do Deus vivo, sabendo que essa mesma fé pode até estar
cansada, abatida, desfigurada e sem sentido, às vezes, mas Jesus continua vivo
e absolutamente necessário para quem necessita ser salvo e encontrar um sentido
para sua vida. Que o testamento espiritual do apóstolo Paulo – “Combati o bom
combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7) nos sirva de inspiração e
nos ajude a tornar a Igreja de Jesus Cristo presente no coração da humanidade, junto
a todo ser humano que o Pai quer salvar.
Pe. Paulo Cezar
Mazzi