Missa do 5. dom.
da páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 6,1-7; 1Pedro 2,4-9;
João 14,1-12.
Como está o nosso coração nos dias
atuais? Como está o coração da humanidade? Não totalmente em paz; não
totalmente tranquilo. Pelo contrário, nosso coração tem experimentado com muita
frequência medo, ansiedade, insegurança, preocupação. Na verdade, o coração de
grande parte da humanidade anda muito perturbado, seja devido à pandemia do
coronavírus, seja devido à necessidade de sobrevivência (situação financeira).
Estamos todos no mesmo barco, atravessando um período de tempestade, e não há
como não sentirmos a forte agitação do mar da vida neste tempo.
Em meio a tudo isso, Jesus hoje fala
conosco: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim
também” (Jo 14,1). Todo ser humano enfrenta momentos de adversidade na vida. Em
se tratando de nós, cristãos, discípulos de Jesus, existe um agravante: o mundo
se opõe a quem quer viver segundo o Evangelho. Não há como ignorar que os
ataques à nossa fé são constantes. Mas Jesus nos incentiva a mantermos firme a
nossa fé. Justamente quando acontece um terremoto, é ali que se comprova a
firmeza do alicerce que sustenta a construção e a impede de ser destruída.
Na Sagrada Escritura, ter fé
significa confiar-se a alguém, apoiar-se em alguém mais forte do que nós,
alguém que nos ampara, que nos sustenta nas tempestades e contrariedades da
vida. O Pai e Jesus são maiores do que tudo o que nos acontece. Por isso,
podemos nos apoiar n’Eles. Quando o chão da nossa vida se abala, a fé nos diz
que nós temos uma Rocha que nos oferece não só refúgio na tempestade, mas
também um alicerce sólido sobre o qual colocarmos os pés e sentir que somos
amparados. Só quem se joga nos braços do Pai, através da pessoa do Filho, pode
experimentar que é amparado.
“Tenham
fé em mim!”, nos diz Jesus. A nossa fé em Jesus não funciona como um anestésico
que nos livra de sentirmos as dores pelas quais o mundo está passando, mas é a
força que nos mantém em pé e nos ajuda a enfrentar as adversidades de cabeça
erguida, não porque somos fortes, mas porque Jesus nos socorre em nossa fraqueza,
nos dando a sua força de Ressuscitado, de modo que possamos afirmar: “Tudo
posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13). A nossa fé nos faz sentirmo-nos
enraizados em Jesus, sabendo que a nossa vida não é uma folha seca jogada neste
mundo e levada pelo vento das contrariedades de um lado para outro.
Para
fortalecer a nossa fé, Jesus nos lembra que o nosso destino está ligado ao Seu:
“Vou preparar um lugar para vós, e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei
e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós” (Jo
14,2-3). É verdade que o futuro é incerto para todo ser humano, mas para cada discípulo
de Jesus há uma certeza no horizonte da sua vida: a casa do Pai, seu lugar no
coração de Deus, sua participação na vida eterna. Jesus quer que nós estejamos
onde Ele está. Jesus quer que nosso coração se fortaleça na fé como o Seu
sempre esteve fortalecido, pela comunhão com o Pai. É verdade que nem sempre podemos
ver claramente para onde nossa vida está caminhando, neste mundo cheio de
incertezas, mas a nossa fé nos diz para confiar que nada poderá nos tirar das
mãos de Jesus, que confiou cada um de nós ao coração amoroso do Pai.
Para
nos fazer experimentar que somos amparados pelo Pai, Jesus afirmou: “Eu sou o
Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). A
imagem do Caminho nos ensina que todo ser humano procura uma orientação, um
rumo para a sua vida. Muitas pessoas vivem perdidas como que dentro de um
labirinto, sem um ideal, sem um propósito. O problema é que, “para quem não
sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve” (Lewis Carroll). Por isso,
muitos abandonam a busca pelo verdadeiro Caminho, para seguir qualquer atalho
que se apresente como promessa de felicidade ou de sentido de vida. Mas Jesus é
“o” Caminho, não “um” caminho. Para o ser humano existe um caminho que leva ao
Pai, porque em Jesus o Pai veio ao homem, tendo aberto, desta forma, o Caminho.
Além
de “Caminho”, Jesus é “a Verdade”. Na Sagrada Escritura, Verdade é sinônimo de
consistência, rocha firme, certeza; é ter o chão firme sob os pés; é ter uma orientação
segura. Tudo aquilo que desconhecemos e ignoramos a nosso respeito e a respeito
da própria vida pode nos adoecer e nos aprisionar. Jesus é a Verdade que nos
cura e nos liberta, porque Ele conhece cada um de nós por dentro (Jo 2,25; 8,32).
Por
fim, Jesus afirma que é “a Vida”: não a vida ilusória e passageira deste mundo,
mas a verdadeira Vida. O ser humano não deseja apenas viver; ele necessita
encontrar um sentido para a própria vida. Somente Jesus responde a essa
necessidade que temos de sentido. Só Ele nos faz descobrir que nossa vida tem
um para quê, uma finalidade. Só Jesus nos faz entender que a nossa busca por
sentido passa não pela pergunta: “o que a vida tem para me oferecer?”, mas, sim,
pela pergunta: “o que a vida está pedindo para eu realizar, com a minha
existência, nesse momento?”
Diante
de Jesus, Caminho, Verdade e Vida, renovemos a nossa fé. Digamos como o apóstolo
Paulo: “Eu sei em quem depositei a minha fé” (1Tm 1,12): n’Aquele que é a pedra
“viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus...
Quem nela confiar, não será confundido” (1Pd 2,4.6); quem nela se apoiar,
experimentará que é verdadeiramente amparado e não precisará mais carregar em
seu coração tanta perturbação.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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