Missa do 6º dom. da Páscoa. Atos dos
Apóstolos 8,5-8.14-17; 1Pedro 3,15-18; João 14,15-21.
“Não vos deixarei órfãos” (Jo 14,18),
nos disse Jesus. No mundo em que vivemos, há um forte sentimento de orfandade. Muitas
pessoas se sentem sozinhas. Elas sentem que não há ninguém que se importe com
elas. Muitas pessoas estão, de fato, sozinhas. E isso não se deve apenas ao
individualismo, que é muito forte nos tempos atuais. Há uma outra questão: a ausência
do pai. O pai está ausente na maioria das famílias brasileiras. Além disso,
nosso mundo rejeita a figura do pai porque rejeita a autoridade, rejeita ter
que se submeter a alguém. O ser humano moderno se julga capaz, autossuficiente,
dono do seu próprio nariz, suficientemente adulto para precisar ter um pai.
Ora, a rejeição do pai é também
rejeição de Deus: nosso mundo há um bom tempo rejeita Deus; rejeita uma
autoridade divina e, consequentemente, rejeita toda igreja ou religião que
assuma a postura de dizer o que é certo e o que é errado. Cada um decide sobre
isso segundo aquilo que lhe convém. Desse modo, seja devido à ausência do pai,
seja devido à rejeição da figura paterna, o fato é que nós, seres humanos,
temos nos sentido órfãos, desprotegidos diante de situações que nos ameaçam, desorientados
quanto ao caminho a seguir, carentes de afeto, de colo, de amor.
Se Jesus não quer que seus discípulos
se sintam órfãos, Ele também não os quer infantilizados, como pessoas que se
recusam a crescer. Jesus nunca infantilizou seus discípulos. No entanto, Ele quis
assumir junto a eles o papel de “paráclito”, isto é, de alguém que está ao lado
do outro para defendê-lo, protegê-lo, ampará-lo, incentivá-lo. Ora, se nós
precisamos de um “paráclito”, significa que existem pessoas, situações,
atitudes, pensamentos, ideias e estruturas que atentam contra a vida do ser
humano, que corrompem sua consciência, invertem seus valores, roubam seus
sonhos e confundem sua busca religiosa – e de tudo isso precisamos aprender a
nos defender.
“Eu
rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre
convosco: o Espírito da Verdade” (Jo 14,16-17). Antes de subir ao Pai, Jesus prometeu
enviar o Espírito Santo aos seus discípulos, para ser o “Defensor” de cada um
deles. O mundo em que vivemos é hostil, isto é, ele combate contra a verdade, a
justiça e o bem. O Espírito Santo nos defende de tudo aquilo que pode nos
afastar de Jesus e da verdade do seu Evangelho. O Espírito Santo não nos
defende da vida, mas da covardia perante a vida. O Espírito Santo quer estar ao
nosso lado não para nos blindar contra as dificuldades, mas para nos fortalecer
e nos orientar na forma de lidar com elas.
“Ele
permanece junto de vós e estará dentro de vós” (Jo 14,17). Estando dentro de
nós, o Espírito Santo quer nos ensinar a viver a partir de dentro e não mais a
partir das circunstâncias externas. Muitas pessoas deixaram de escrever a
própria história e construir a própria vida, para apenas reagir ao que lhes acontece.
Assim, se lhes acontece algo bom, elas ficam bem; se lhes acontece algo ruim,
elas ficam mal. Em outras palavras, sua vida é determinada pelas circunstâncias
externas. Mas aquele que se deixa conduzir pelo Espírito Santo aprende a usar sua
liberdade e sua responsabilidade para decidir como agir, diante de cada coisa
que lhe acontece. O Espírito Santo nos capacita a nos responsabilizar pela
nossa vida, ao invés de ficar lamentando por ela não ser como gostaríamos que
fosse.
“Não
vos deixarei órfãos” (Jo 14,18). Jesus, com essas palavras, nos garantiu que nunca
estamos sozinhos. O Espírito Santo sempre esteve conosco. O Pai sempre está
conosco. Jesus sempre estará conosco! Além disso, o Espírito Santo testemunha
que nós somos filhos – portanto, não somos órfãos! Temos um Pai que nos ama e
que, justamente por nos amar, enviou seu Filho para nos salvar. Jesus, por sua
vez, nos enviou a sua força como Ressuscitado – o Espírito Santo, para estar
sempre junto a nós. Ele é o Espírito da Verdade. Ele fará triunfar a verdade de
Deus sobre toda mentira do mundo. Ele deseja nos conduzir para a Verdade que
nos cura e nos liberta.
O
Espírito Santo é força que nos coloca em movimento e nos impulsiona para frente,
para o que será, para que se realize em nós o desígnio do Pai. Por isso, Pedro
e João, ao chegarem à Samaria, “oraram pelos habitantes..., para que recebessem
o Espírito Santo” (At 8,15). Um cristão sem o Espírito Santo não resiste aos
ataques do mundo. O próprio Pedro nos tornou conscientes de que é praticamente
certo que há muitos sofrimentos à espera de todo aquele que procura viver
segundo o Evangelho. No entanto, Pedro nos dá este conselho: “Será melhor
sofrer praticando o bem, se esta for a vontade de Deus, do que praticando o mal”
(1Pd 3,17). Cristo também teve que enfrentar a hostilidade do mundo. Ele sofreu
em seu próprio corpo a violência do mundo, a ponto de morrer numa cruz, “mas
recebeu nova vida pelo Espirito” (1Pd 3,18). Eis porque é preciso dizer mais
uma vez: o Espírito Santo não está em nossa vida para nos ajudar a fugir do
mundo, mas para defender a nossa fé e a nossa esperança, de modo que, no muno em que vivemos, a vida
prevaleça sobre a morte, o bem sobre o mal, a justiça sobre a injustiça, a
bondade sobre a maldade.
Confiemos
ao Espírito Santo toda pessoa que precisa da Sua defesa, do Seu amparo, da Sua
força, da Sua proteção... Confiemos ao Espírito Santo a humanidade e todo
sentimento de orfandade que há em nosso mundo. Peçamos que Ele venha reavivar
em todo ser humano o sentimento de filiação, de ser filho amado do Pai, salvo
em Jesus Cristo, destinado à alegria da vida eterna.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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