sexta-feira, 22 de maio de 2020

O PAI CONCEDEU AO FILHO O PODER DE SALVAR TODO SER HUMANO

Missa da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Mateus 28,16-20.

            Em nossa profissão de fé, dizemos que Jesus Cristo, nosso Salvador, “ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos”. Após a sua ressurreição, Jesus permaneceu cerca de quarenta dias com seus discípulos, mostrando-se vivo e falando-lhes do Reino de Deus, conforme nos disse o evangelista Lucas (cf. At 1,3). Depois disso, “Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não mais podiam vê-lo” (At 1,10).
            Como nós entendemos essa elevação de Jesus ao céu? O grande engano é pensar que Jesus agora está muito mais distante da humanidade do que quando esteve na terra. Para evitar tal engano, precisamos compreender que o céu não é esse espaço infinito que está acima de nós, enormemente distante da Terra. O céu é Deus, o coração do Pai, o mergulho no seu infinito amor, a participação na sua eterna glória. No caso específico de Jesus, “subir aos céus e sentar-se à direita de Deus Pai” significa que o Filho agora volta a compartilhar da onipotência do Pai.
Quando estava na terra, Jesus não podia estar em todos os lugares, junto a todas as pessoas, exatamente como acontece conosco. Mas, a partir da ascensão, Jesus compartilha do mesmo poder do Pai, o poder de libertar, curar e salvar toda pessoa, o poder de estar presente junto a todo ser humano*: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra... Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 20,16.20). Hoje, de modo especial, devemos recobrar a nossa fé nesta verdade: o Pai concedeu ao Filho o poder sobre todo ser humano, o poder de dar a vida eterna a todo ser humano (cf. Jo 17,2). Devemos ainda fortalecer a nossa fé na presença espiritual de Jesus não somente no meio de nós, mas junto a cada um de nós, uma presença nem sempre experimentada pelos nossos sentidos, mas garantida por sua própria Palavra: “Eu estarei convosco todos os dias, em qualquer situação, em todos os momentos, até o fim dos tempos, até que meu Pai complete a obra que começou em cada um de vós” (citação livre de Mt 28,10 e Fl 1,6).  
Estando agora diante da face do Pai, Jesus “é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive para sempre para interceder por eles” (Hb 7,25). Eis a razão da nossa alegria e da nossa esperança na ascensão de nosso Senhor ao céu: Jesus está diante da face do Pai intercedendo por nós, no sentido de que fortalecer nossa fé diante das tribulações próprias da nossa vida terrena. Ele não só nos acompanha em nossa caminhada terrena, mas roga ao Pai que nos fortaleça na graça do Espírito Santo, para podermos vencer o mundo, como o próprio Jesus venceu. Que Jesus rogue por nós no céu sabemos por esta Palavra:  “Cristo entrou no próprio céu, a fim de comparecer, agora, diante da face de Deus a nosso favor” (Hb 9,24).
“Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”. A nós, que hoje celebramos a ascensão de Jesus ao céu, cabe a nós, abraçar a missão que Ele nos confiou ao subir para o céu: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!” (Mt 28,19-20). Para meditar sobre este envio missionário que Jesus faz dos seus discípulos, no momento da sua ascensão, recorro às palavras do Papa Francisco, por ocasião do encerramento da Jornada Mundial de Juventude no Brasil, em julho de 2013:
“Ide!” A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9)... Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, vão; mas disse: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”. É uma ordem... Nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e não nos deu somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, Ele deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Ele sempre junto de nós nesta missão de amor.
Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.
“Não tenham medo!” Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: “Eu estou com vocês todos os dias” (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus nunca deixa ninguém sozinho! Sempre nos acompanha. Além disso, somos enviados em grupo. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos**.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

* Jesus... entra na comunhão de vida e poder com o Deus vivo, na situação de superioridade de Deus sobre todo o espaço... Está presente junto a nós e para nós... Agora já não se encontra num lugar concreto do mundo, como antes da “ascensão”; no seu poder, que supera todo e qualquer espaço, está presente junto de todos, podendo ser invocado por todos, através da história inteira, e em todos os lugares (JESUS DE NAZARÉ, Joseph Ratzinger – Bento XVI – Da entrada em Jerusalém até a ressurreição, p.254; Planeta, 2ª. edição, 2017).

 ** Papa Francisco, Homilia da Missa de encerramento da Jornada
Mundial da Juventude, Rio de janeiro, 28 de julho de 2013.

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