Missa da Ascensão
do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Mateus 28,16-20.
Em nossa profissão de fé, dizemos
que Jesus Cristo, nosso Salvador, “ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus
e está sentado à direita de Deus Pai todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar os
vivos e os mortos”. Após a sua ressurreição, Jesus permaneceu cerca de quarenta
dias com seus discípulos, mostrando-se vivo e falando-lhes do Reino de Deus, conforme
nos disse o evangelista Lucas (cf. At 1,3). Depois disso, “Jesus foi levado ao
céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não mais
podiam vê-lo” (At 1,10).
Como nós entendemos essa elevação de
Jesus ao céu? O grande engano é pensar que Jesus agora está muito mais distante
da humanidade do que quando esteve na terra. Para evitar tal engano, precisamos
compreender que o céu não é esse espaço infinito que está acima de nós, enormemente
distante da Terra. O céu é Deus, o coração do Pai, o mergulho no seu infinito
amor, a participação na sua eterna glória. No caso específico de Jesus, “subir
aos céus e sentar-se à direita de Deus Pai” significa que o Filho agora volta a
compartilhar da onipotência do Pai.
Quando
estava na terra, Jesus não podia estar em todos os lugares, junto a todas as
pessoas, exatamente como acontece conosco. Mas, a partir da ascensão, Jesus compartilha
do mesmo poder do Pai, o poder de libertar, curar e salvar toda pessoa, o poder
de estar presente junto a todo ser humano*: “Toda a autoridade me foi dada no
céu e sobre a terra... Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do
mundo” (Mt 20,16.20). Hoje, de modo especial, devemos recobrar a nossa fé nesta
verdade: o Pai concedeu ao Filho o poder sobre todo ser humano, o poder de dar
a vida eterna a todo ser humano (cf. Jo 17,2). Devemos ainda fortalecer a nossa
fé na presença espiritual de Jesus não somente no meio de nós, mas junto a cada
um de nós, uma presença nem sempre experimentada pelos nossos sentidos, mas
garantida por sua própria Palavra: “Eu estarei convosco todos os dias, em
qualquer situação, em todos os momentos, até o fim dos tempos, até que meu Pai
complete a obra que começou em cada um de vós” (citação livre de Mt 28,10 e Fl 1,6).
Estando
agora diante da face do Pai, Jesus “é capaz de salvar definitivamente aqueles
que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive para sempre para
interceder por eles” (Hb 7,25). Eis a razão da nossa alegria e da nossa
esperança na ascensão de nosso Senhor ao céu: Jesus está diante da face do Pai
intercedendo por nós, no sentido de que fortalecer nossa fé diante das
tribulações próprias da nossa vida terrena. Ele não só nos acompanha em nossa
caminhada terrena, mas roga ao Pai que nos fortaleça na graça do Espírito
Santo, para podermos vencer o mundo, como o próprio Jesus venceu. Que Jesus rogue
por nós no céu sabemos por esta Palavra: “Cristo entrou no próprio céu, a fim de
comparecer, agora, diante da face de Deus a nosso favor” (Hb 9,24).
“Homens
da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que
vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
A nós, que hoje celebramos a ascensão de Jesus ao céu, cabe a nós, abraçar a
missão que Ele nos confiou ao subir para o céu: “Ide e fazei discípulos meus
todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e
ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!” (Mt 28,19-20). Para meditar
sobre este envio missionário que Jesus faz dos seus discípulos, no momento da
sua ascensão, recorro às palavras do Papa Francisco, por ocasião do
encerramento da Jornada Mundial de Juventude no Brasil, em julho de 2013:
“Ide!”
A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada,
transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo
é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9)... Jesus não disse: se
vocês quiserem, se tiverem tempo, vão; mas disse: “Ide e fazei discípulos entre
todas as nações”. É uma ordem... Nasce da força do amor, do fato que Jesus foi
quem veio primeiro para junto de nós e não nos deu somente um pouco de Si, mas
se deu por inteiro, Ele deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a
misericórdia de Deus. Ele sempre junto de nós nesta missão de amor.
Para
onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas
as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas
para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É
para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os
ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante,
mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da
sua misericórdia e do seu amor.
“Não
tenham medo!” Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos
guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: “Eu estou com
vocês todos os dias” (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus
nunca deixa ninguém sozinho! Sempre nos acompanha. Além disso, somos enviados
em grupo. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes,
descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos**.
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
* Jesus... entra
na comunhão de vida e poder com o Deus vivo, na situação de superioridade de
Deus sobre todo o espaço... Está presente junto a nós e para nós... Agora já
não se encontra num lugar concreto do mundo, como antes da “ascensão”; no seu
poder, que supera todo e qualquer espaço, está presente junto de todos, podendo
ser invocado por todos, através da história inteira, e em todos os lugares (JESUS
DE NAZARÉ, Joseph Ratzinger – Bento XVI – Da entrada em Jerusalém até a
ressurreição, p.254; Planeta, 2ª. edição, 2017).
Mundial da Juventude, Rio de janeiro, 28 de julho de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário