Numa época de corrupção
religiosa, onde os filhos do sacerdote Eli “eram homens vagabundos” (1Sm 2,12),
que “se deitavam com as mulheres que permaneciam à entrada da tenda da reunião”
(1Sm 2,23), Deus chamou Samuel para ser
profeta em Israel (cf. 1Sm 3,1-21). Numa época em que muitos pastores de
Israel, ao invés de apascentarem o povo que lhes foi confiado, tornaram-se
“pastores de si mesmos”, não mais se dedicando em restaurar o vigor das ovelhas
abatidas, curar as que estavam doentes e ir em busca das que se extraviaram,
além de dominar sobre elas com dureza e violência (cf. Ez 34,2-4), Deus fez uma
promessa a Israel: “Eu vos darei
pastores segundo meu coração, que vos apascentarão com conhecimento e
prudência” (Jr 3,15).
Numa
época em que alguns líderes da nossa Igreja levavam uma vida moral promíscua,
distante dos pobres, indiferentes aos sofredores e corrompidos pelo dinheiro,
Jesus, na sua imagem enquanto Crucificado, disse ao jovem Francisco, de Assis: “Reconstrua a minha Igreja, que está em
ruínas”. Igualmente hoje, numa época em que chegamos ao absurdo de, em
algumas paróquias, as ovelhas terem que se defender dos seus próprios pastores,
que se comportam em relação a elas como lobos, maltratando-as, provocando
divisões, usando sua pseudo autoridade
espiritual para ameaçá-las, além de roubarem suas paróquias, Jesus procura por
jovens que não tenham sua consciência corrompida, jovens que sejam capazes de
compaixão e desejem cuidar de Suas ovelhas, tanto daquelas que não têm pastor,
como daquelas que estão sendo machucadas emocional e espiritualmente por maus
pastores (cf. Mt 9,36-38).
Numa época como a nossa, em que
alguns padres e bispos têm como objetivo principal seu próprio bem estar, gastando
tempo e dinheiro com a ornamentação das suas igrejas e com seus paramentos, enquanto
se mantêm distantes dos pobres, dos desempregados e dos que sofrem, Jesus
procura por jovens que aceitem o desafio de dedicar sua própria vida como
médicos de corpos e de almas; jovens que
estendam suas mãos para serem ungidas pelo Espírito Santo e, desse modo, se
tornem capazes de tocar nas feridas das pessoas; jovens que, a exemplo do
próprio Jesus, sejam homens misericordiosos, cujo coração é sempre guiado pela
miséria dos que sofrem.
Numa época como a nossa, onde
não poucos “ministros de Deus” não têm a coragem de enfrentar e resolver seus
próprios conflitos sexuais e, com isso, acabam por envolver pessoas nas suas
próprias feridas, causando traumas, provocando escândalos, levando à perda da
fé e manchando a imagem da nossa Igreja, Jesus procura por jovens que aceitem o
desafio de fazer um caminho sofrido, mas libertador, de autoconhecimento, ordenando
seus afetos e fazendo da sua própria sexualidade uma oferenda ao Pai a serviço
da salvação da humanidade, como o próprio Jesus fez, ao dizer: “Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu,
porém, formaste-me um corpo... Por isso eu digo: Eis-me aqui... Eu vim, ó Deus,
para fazer tua vontade” (Hb 10,5.7).
Enfim,
numa época em que bispos da nossa Igreja agem como muitos pais hoje em dia que,
por medo de perderem o afeto de seus filhos, não os corrigem com firmeza, mesmo
sabendo dos estragos que provocam em si mesmos e nos outros; numa época em que bispos
não têm pulso firme para interditar aqueles que precisam ser interditados (cf.
Mt 18,15-17), uma vez que estão destruindo a fé de muitos paroquianos; numa
época em que bispos, por serem fracos, acabam por alimentar nos maus padres a
sensação de impunidade – bispos que agem
como médicos que, por terem pena de seus pacientes com câncer, lhes receitam
“melhoral infantil” ao invés de quimioterapia –, Jesus procura por jovens
que aceitem se tornar verdadeiros profetas, homens de pulso firme, a exemplo de
Samuel, a exemplo de Paulo de Tarso, a exemplo de Francisco de Assis, a exemplo
do Papa Francisco, para devolverem à Igreja credibilidade e decência.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Que texto maravilhoso! Não sei se está ou estará, mas devia ser publicado no jornal diocesano! Todos deveriam ler isso...
ResponderExcluirIsabel, foi publicado no Ascensor de agosto.
ResponderExcluirPadre Paulo tanta verdade, que nos deixa muito triste,disolados e sem esperança de um futuro mais limpo e verdadeiro que Jesus que chegou ao extremo pôr nós, nos ajude a passar por esta tormenta,e renove a nossa esperança e nos envie jovens com verdadeiro Espírito missionário.
ResponderExcluirParabéns padre Paulo. Muito lúcida essa reflexão!
ResponderExcluirFiquei emocionado....sem palavras ..Parabéns de verdade....
ResponderExcluirPela importância do texto, sugiro que seja mais divulgado para que os verdadeiramente católicos tomem conhecimento. Parabéns Padre Paulo pela emocionante e corajosa reflexão!
ResponderExcluirQuero ser padre assim, assumindo as opções radicais oriundas do evangelho, numa Igreja pobre, para os pobres e com os pobres. Me ajude, padre!
ResponderExcluirBoa noite, Gabriel. Me passe seu contato, por favor. Abraços. Deus o abençoe!
ExcluirSer luz no mundo, eis o desafio para todo aquele que tem um chamado sublime de Deus. Oremos por todos os sacerdote, em especial. Belo texto.
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