quinta-feira, 1 de agosto de 2019

PRECISA-SE DE JOVENS QUE DESEJEM SE TORNAR PADRES... COM UM MÍNIMO DE DECÊNCIA E COERÊNCIA



Numa época de corrupção religiosa, onde os filhos do sacerdote Eli “eram homens vagabundos” (1Sm 2,12), que “se deitavam com as mulheres que permaneciam à entrada da tenda da reunião” (1Sm 2,23), Deus chamou Samuel para ser profeta em Israel (cf. 1Sm 3,1-21). Numa época em que muitos pastores de Israel, ao invés de apascentarem o povo que lhes foi confiado, tornaram-se “pastores de si mesmos”, não mais se dedicando em restaurar o vigor das ovelhas abatidas, curar as que estavam doentes e ir em busca das que se extraviaram, além de dominar sobre elas com dureza e violência (cf. Ez 34,2-4), Deus fez uma promessa a Israel: “Eu vos darei pastores segundo meu coração, que vos apascentarão com conhecimento e prudência” (Jr 3,15).
  Numa época em que alguns líderes da nossa Igreja levavam uma vida moral promíscua, distante dos pobres, indiferentes aos sofredores e corrompidos pelo dinheiro, Jesus, na sua imagem enquanto Crucificado, disse ao jovem Francisco, de Assis: “Reconstrua a minha Igreja, que está em ruínas”. Igualmente hoje, numa época em que chegamos ao absurdo de, em algumas paróquias, as ovelhas terem que se defender dos seus próprios pastores, que se comportam em relação a elas como lobos, maltratando-as, provocando divisões, usando sua pseudo autoridade espiritual para ameaçá-las, além de roubarem suas paróquias, Jesus procura por jovens que não tenham sua consciência corrompida, jovens que sejam capazes de compaixão e desejem cuidar de Suas ovelhas, tanto daquelas que não têm pastor, como daquelas que estão sendo machucadas emocional e espiritualmente por maus pastores (cf. Mt 9,36-38).
Numa época como a nossa, em que alguns padres e bispos têm como objetivo principal seu próprio bem estar, gastando tempo e dinheiro com a ornamentação das suas igrejas e com seus paramentos, enquanto se mantêm distantes dos pobres, dos desempregados e dos que sofrem, Jesus procura por jovens que aceitem o desafio de dedicar sua própria vida como médicos de corpos e de almas; jovens que estendam suas mãos para serem ungidas pelo Espírito Santo e, desse modo, se tornem capazes de tocar nas feridas das pessoas; jovens que, a exemplo do próprio Jesus, sejam homens misericordiosos, cujo coração é sempre guiado pela miséria dos que sofrem.
Numa época como a nossa, onde não poucos “ministros de Deus” não têm a coragem de enfrentar e resolver seus próprios conflitos sexuais e, com isso, acabam por envolver pessoas nas suas próprias feridas, causando traumas, provocando escândalos, levando à perda da fé e manchando a imagem da nossa Igreja, Jesus procura por jovens que aceitem o desafio de fazer um caminho sofrido, mas libertador, de autoconhecimento, ordenando seus afetos e fazendo da sua própria sexualidade uma oferenda ao Pai a serviço da salvação da humanidade, como o próprio Jesus fez, ao dizer: “Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo... Por isso eu digo: Eis-me aqui... Eu vim, ó Deus, para fazer tua vontade” (Hb 10,5.7).
            Enfim, numa época em que bispos da nossa Igreja agem como muitos pais hoje em dia que, por medo de perderem o afeto de seus filhos, não os corrigem com firmeza, mesmo sabendo dos estragos que provocam em si mesmos e nos outros; numa época em que bispos não têm pulso firme para interditar aqueles que precisam ser interditados (cf. Mt 18,15-17), uma vez que estão destruindo a fé de muitos paroquianos; numa época em que bispos, por serem fracos, acabam por alimentar nos maus padres a sensação de impunidade – bispos que agem como médicos que, por terem pena de seus pacientes com câncer, lhes receitam “melhoral infantil” ao invés de quimioterapia –, Jesus procura por jovens que aceitem se tornar verdadeiros profetas, homens de pulso firme, a exemplo de Samuel, a exemplo de Paulo de Tarso, a exemplo de Francisco de Assis, a exemplo do Papa Francisco, para devolverem à Igreja credibilidade e decência.
           
Pe. Paulo Cezar Mazzi       

9 comentários:

  1. Que texto maravilhoso! Não sei se está ou estará, mas devia ser publicado no jornal diocesano! Todos deveriam ler isso...

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  2. Padre Paulo tanta verdade, que nos deixa muito triste,disolados e sem esperança de um futuro mais limpo e verdadeiro que Jesus que chegou ao extremo pôr nós, nos ajude a passar por esta tormenta,e renove a nossa esperança e nos envie jovens com verdadeiro Espírito missionário.

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  3. Parabéns padre Paulo. Muito lúcida essa reflexão!

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  4. Fiquei emocionado....sem palavras ..Parabéns de verdade....

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  5. Pela importância do texto, sugiro que seja mais divulgado para que os verdadeiramente católicos tomem conhecimento. Parabéns Padre Paulo pela emocionante e corajosa reflexão!

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  6. Quero ser padre assim, assumindo as opções radicais oriundas do evangelho, numa Igreja pobre, para os pobres e com os pobres. Me ajude, padre!

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    1. Boa noite, Gabriel. Me passe seu contato, por favor. Abraços. Deus o abençoe!

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  7. Ser luz no mundo, eis o desafio para todo aquele que tem um chamado sublime de Deus. Oremos por todos os sacerdote, em especial. Belo texto.

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