Missa do 19º.
dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 18,6-9; Hebreus 11,1-2.8-19; Lucas 12,32-48.
Prestemos atenção a esses textos
bíblicos: “A noite da libertação... foi esperada por teu povo, como
salvação para os justos e como perdição para os inimigos” (Sb 18,6.7). “A fé é
um modo de já possuir o que ainda se espera” (Hb 11,1). “Foi pela fé que
Abraão... residiu como estrangeiro na terra prometida, morando em tendas... pois
esperava a cidade alicerçada que tem Deus mesmo por arquiteto e construtor” (Hb
11,8.9.10). “Sejam como pessoas que estão esperando seu senhor voltar (...),
para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater... Porque
o Filho do Homem vai chegar na hora em que vocês menos o esperarem” (Lc
12,36.40).
Todos eles têm uma palavra em comum,
ou melhor, uma atitude em comum: a atitude da espera, a atitude de quem vive a
partir de uma força interior chamada “esperança”. O contrário da esperança é o
desespero, é a atitude de uma pessoa que desistiu de esperar; ela não espera
por nenhuma mudança, por nenhuma transformação; sua vida se fechou no problema
ou no sofrimento que ela está enfrentando e ela não crê nem espera pela
possibilidade de qualquer saída daquela situação. Quem desiste de esperar,
desiste de viver, desiste de sonhar, de desejar, de se abrir para algo novo que
possa surgir em sua vida.
A Palavra de Deus quer hoje
despertar a nossa esperança, quer abrir os nossos olhos para que possamos nos
dar conta de que a vida não é só aquilo que estamos vivenciando neste momento.
Assim como nos campos de concentração só não enlouqueciam e não se suicidavam as
pessoas que tinham esperança de sobreviver a todo aquele sofrimento, porque
esperavam reencontrar alguém que estava fora dali, assim a esperança é
absolutamente necessária para não morrermos antes da hora, para não nos
entregarmos ao pessimismo ou ao desespero, diante dos sofrimentos ou das
dificuldades que estamos enfrentando. Somente quem tem esperança no amanhã
suporta sofrer hoje; somente quem tem esperança de mudar suporta o sofrimento
de enfrentar seus fantasmas numa terapia; somente quem tem esperança de cura
suporta o sofrimento de um tratamento médico. Assim como Abraão, somente quem
espera pela cidade futura, construída por Deus, suporta morar em tendas neste
mundo, isto é, suporta a insegurança e a transitoriedade de tudo aquilo que é
terreno.
Mas a esperança nunca é uma espera
passiva. Nada muda por si mesmo; as coisas começam a mudar quando nós, movidos
pela esperança, nos desacomodamos, nos mexemos e nos dispomos a enfrentar o que
precisa ser enfrentado, para que a nossa esperança nos leva aonde desejamos
chegar. Neste sentido, o Evangelho é muito claro: o bom servo não espera pelo
seu senhor comendo, bebendo e embriagando-se, mas trabalhando corretamente,
isto é, fazendo aquilo que lhe compete fazer. Uma pessoa que diz ter esperança
em mudar sua vida, mas não toma nenhuma atitude que possibilite tal mudança ou,
pior ainda, tem atitudes contrárias à mudança que deseja, é uma sabotadora da
sua própria esperança; é alguém que nem tem como ser levado a sério.
Justamente neste dia em que
comemoramos o dia dos pais, a carta aos Hebreus nos fala da fé e da esperança
de Abraão, uma fé e uma esperança que provocaram nele uma miraculosa transformação:
“de um só homem, já marcado pela morte, nasceu a multidão ‘comparável às
estrelas do céu e inumerável como a areia das praias do mar’” (Hb 11,12). Abraão
não apenas teve fé em Deus, mas também precisou aprender a esperar em Deus; ele
esperou 25 anos pelo cumprimento da promessa de ter um filho! “Ele, esperando
contra toda esperança (humana), teve fé e assim tornou-se pai de muitos povos”
(Rm 4,18). Esperar contra toda esperança humana significa que nossa esperança
não se apoia em nossa inteligência, ou em nossa força, ou em nossos recursos, mas
em Alguém que é maior do que nós e que pode mudar nossa situação! Portanto,
nós, cristãos, não temos esperança em algo, mas em Alguém; nós não esperamos
por algum acontecimento, mas por uma Pessoa: esperamos por Jesus.
Como está o coração do pai? É um
coração carregado de esperança ou povoado pelo desespero? Assim como Abraão, o
pai é “um homem marcado pela morte”, um homem que tem seus medos e suas
fraquezas, seus erros e seus pecados. Sobretudo no mundo de hoje, o pai é um
homem fragilizado, agredido pela violência, exposto a situações injustas,
seduzido pela corrupção, sugado pelo consumismo etc. Se existem pais que
encontraram em Deus seu suporte, seu fundamento, há inúmeros outros que
acabaram se escorando na bebida, nas drogas e num estilo de vida destrutivo, de
modo a se ausentarem da família e da vida dos filhos. Contudo, a figura do
servo, no Evangelho, nos fala da importância do pai como cuidador dos bens do
Senhor. Hoje não se pode mais pensar no pai como única força de sustento de uma
casa, mas sua presença, sem dúvida, faz muita diferença no seio de uma família
e na estrutura emocional dos filhos.
Que
você, pai, à semelhança de Abraão, de disponha a caminhar com Deus, mesmo
quando não entende para onde Ele está conduzindo sua vida. Que você aprenda a
crer e a esperar sempre em Deus, pois “Quem confiou no Senhor e ficou
desiludido? Ou quem perseverou no seu temor e foi abandonado? Ou quem clamou
por ele e ele o desprezou?” (Eclo 2,10), pergunta o autor do Eclesiástico. E
ainda: “Os que esperam em ti não ficam envergonhados, ficam envergonhados os
que negam por um nada a sua fé” (Sl 25,3), declara o salmista. Que Jesus, ao
voltar, encontre você, pai, vivendo fielmente sua vocação de cuidador daqueles
que a vida lhe confiou. Enfim, que você se deixe cuidar pelo Pai do Céu, que o
colocou na terra para ser a própria presença d’Ele junto da sua família e que,
apesar das suas limitações humanas, escolheu sua figura de pai para expressar o
amor, a proteção e o cuidado d’Ele para com cada ser humano.
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