Missa do 3º. dom. da quaresma. Palavra de Deus:
Êxodo 3,1-8a.13-15; 1Coríntios 10,1-6.10.12; Lucas 13,1-9
Uma das perguntas mais antigas da
humanidade é esta: “Por que algumas pessoas sofrem mais do que outras?” Ou
então: “Por que meu casamento não deu certo, mas o dos outros deu?” Ou ainda:
“Por que meu filho morreu de câncer ou de acidente, mas os filhos dos outros
estão vivos e esbanjando saúde?” Por trás da pergunta “por quê?” há uma outra
pergunta: “De quem é a culpa?”, ou então, “Quem é o responsável pelas tragédias
que atingem algumas pessoas?”
Desde a época de Jesus até hoje,
muitas pessoas julgam ter encontrado a resposta para essas perguntas: “Deus é o
responsável pelo mal que existe no mundo, e Ele envia o mal para punir toda
pessoa que peca”. Portanto, quando alguma tragédia atinge determinadas pessoas
é porque aquelas pessoas fizeram por merecer; elas tinham alguma culpa e esta
culpa tinha que ser expiada, redimida, através daquele sofrimento.
Jesus rejeita totalmente essa teoria.
Assim como de uma fonte de água não tem como jorrar água doce e salgada, assim
também é com Deus: Ele é amor, Pai rico em misericórdia e em perdão. Ele não se
alegra com a morte do pecador, mas deseja que ele se converta e viva (cf. Ez
18,23). Além disso, todos nós estamos num mundo onde o mal encontra espaço de
sobra para agir, e Deus não vai colocar uma redoma de vidro para proteger
alguns das tragédias e deixar propositalmente outros expostos a essas mesmas
tragédias. Ao invés de julgarmos as pessoas atingidas por tragédias merecedoras
das mesmas, devemos refletir seriamente sobre essas palavras de Jesus: “Se
vocês não se converterem, morrerão todos do mesmo modo” (Lc 13,3.5).
No início da quaresma, meditamos
sobre a importância da conversão por meio de um exemplo muito simples: se você
se dá conta de que está dirigindo seu carro numa estrada que vai terminar num
abismo, você mudaria de direção? Embora a resposta pareça óbvia, não são poucas
as pessoas que se recusam a mudar suas atitudes, mesmo sabendo que a vida delas
está caminhando na direção de um abismo. Na Sagrada Escritura, essa mudança de
atitude, essa mudança de direção, se chama conversão.
Pelo fato de Deus ser amor, misericórdia e perdão, muitas pessoas escolhem
adiar sua conversão e continuarem numa situação de pecado, situação que, de
alguma forma, lhes proporciona alguma vantagem. No entanto, Jesus diz
claramente: “Mude, antes que seja tarde! Pare de ser irresponsável com sua
vida. Você está se destruindo! Você está criando condições para que a destruição
atinja sua família, aquilo que você mais ama!”
O salmo de hoje nos fala de Deus
como Aquele que “perdoa toda a tua culpa... O Senhor é indulgente, é favorável,
é paciente, é bondoso e compassivo” (Sl 103,3.8). Mas tome cuidado: existe perdão
para uma pessoa que erra, que se engana, que faz algo errado por ignorar o erro
que está cometendo, mas não existe perdão para quem sabe que está errado e não
aceita mudar suas atitudes. A graça de Deus sempre respeita a nossa natureza, a
nossa liberdade. Deus não pode me mudar se eu não quero mudar. Portanto, quando
Jesus afirma: “Se vocês não se converterem, morrerão todos do mesmo modo” (Lc
13,3.5), está nos tornando conscientes disso: não existe perdão para quem,
sabendo que está errado, não aceita mudar suas atitudes; não existe perdão para
quem faz corpo mole, para quem é preguiçoso e para quem tem má vontade em mudar
suas atitudes. A vida sempre nos confrontará com as consequências das nossas
atitudes.
Diante de todo ser humano, Jesus
sempre procurou agir com misericórdia e amor, apostando na sua capacidade de
mudança, de conversão, de regeneração. De fato, Jesus não veio quebrar a cana
que estava rachada, nem veio apagar o pavio que ainda fumegava (cf. Is 42,3).
No entanto, após semear sua Palavra em nossa consciência, após ter adubado
devidamente as raízes da árvore que somos, ele tem todo o direito de nos cobrar
os frutos de que somos capazes de produzir. Eis, portanto, a parábola que ele
nos conta no final do Evangelho de hoje: “Certo homem tinha uma figueira
plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. Então disse
ao vinhateiro: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e
nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?’” (Lc 13,6-7).
Há quanto tempo a vida tem dado
sinais de que você precisa mudar suas atitudes? Quantas tragédias ainda serão
necessárias para você se dar conta de que está se destruindo, ou destruindo
pessoas à sua volta? Deus plantou você neste mundo como uma árvore fecunda,
capaz de produzir bons frutos. Até quando você vai se comportar na vida como
uma árvore inútil, que tem preguiça de fazer o bem de que é capaz? Um dia eu e
você seremos cortados da terra, isto é, seremos recolhidos por Deus. Como nos
apresentaremos diante d’Ele: com as nossas mãos vazias ou com as nossas mãos
cheias das boas atitudes que tomamos em favor do bem da humanidade?
Diante da iminência de se cortar a
figueira que não estava produzindo frutos, o servo sugeriu: “Senhor, deixa a
figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que
venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás” (Lc 13,8-9). Este servo
representa Jesus. Ele é não somente nosso intercessor junto do Pai, mas também
aquele que diariamente lança o adubo do Evangelho nas raízes da nossa
consciência, na esperança de que voltemos a produzir frutos, fazendo o bem que
somos capazes de fazer. Temos mais este ano, mais esta quaresma, mais um tempo
para sairmos da nossa preguiça espiritual e nos dedicarmos com seriedade à
nossa conversão. Quando menos imaginarmos, este tempo terminará e o Senhor nos
visitará. Será a hora do nosso julgamento. Que ele seja um julgamento de
salvação e não de condenação.
ORAÇÃO: Deus Pai, Tu és misericórdia
e perdão; és bondoso e paciente. Peço-Te perdão por ter julgado as pessoas que
morreram vítimas de tragédias como mais pecadoras do que eu. Diante dos
acontecimentos que se dão todos os dias, ensina-me a ouvir o que estás querendo
me dizer, em vista da minha conversão e salvação.
Senhor Jesus, Tu és a presença da
misericórdia do Pai em nosso meio. Muito obrigado por Tua intercessão diante d’Ele
em favor da minha salvação. Eu acolho com alegria o adubo do Teu Evangelho nas
raízes da árvore da minha vida, na esperança de que ela volte a produzir frutos
que comprovem a minha conversão.
Espírito Santo, visita-me na minha
infertilidade. Neste tempo de outono, quando as folhas começam a cair e as
árvores começam a dormir, que a minha consciência se mantenha desperta e que a
graça da Tua fecundidade abençoe meus pensamentos, meus sentimentos e minha
atitudes, ajudando-me a produzir os frutos de que sou capaz, para a salvação
minha e da humanidade. Amém.
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