quinta-feira, 14 de março de 2019

A ORAÇÃO NOS TRANSFIGURA QUANDO NOS ABRE À VONTADE DO PAI

Missa do 2º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 15,5-12.17-18; Filipenses 3,17 – 4,1; Lc 9,28b-36.

            “Quem vê cara, não vê coração”. Este ditado nos ensina que a aparência muitas vezes nos engana. Para conhecer uma pessoa, é preciso ver não o que ela aparenta ser, mas ver as suas atitudes, o seu comportamento. “Quem vê cara, não vê coração”. No entanto, o rosto reflete o estado da alma: se estamos alegres ou tristes, tranquilos ou preocupados, serenos ou angustiados, isso se reflete em nosso rosto.
            Como está o rosto das pessoas à nossa volta? Quando olhamos o rosto delas nas redes sociais, nós as vemos sempre felizes e sorrindo; mas quando olhamos esse rosto ao vivo, no dia a dia, ele muitas vezes se apresenta bem diferente, pois o coração está tomado de preocupação e ansiedade, de medo e de incerteza, de tristeza e de angústia.
            O Evangelho de hoje nos fala da transfiguração do rosto de Jesus. Ele havia acabado de anunciar aos discípulos que deveria sofrer muito em Jerusalém, ser morto, mas que ressuscitaria ao terceiro dia (cf. Lc 9,22). Essas palavras certamente provocaram tristeza no coração dos discípulos, desfigurando o rosto deles e o do próprio Jesus. Então, “mais ou menos oito dias depois dessas palavras, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante” (Lc 9,28-29).
            Na quarta-feira de cinzas, Jesus nos falou a respeito da atitude correta na oração – entrar no quarto da nossa consciência, fechar a porta para todo barulho exterior, e orar ao Pai que se encontra no mais íntimo de nós mesmos (cf. Mt 6,6). Na última terça, Jesus nos ensinou a oração do Pai Nosso (cf. Mt 6,9-13). Na última quinta, ele nos falou da importância de rezarmos com absoluta confiança no Pai (cf. Mt 7,7-11), e no Evangelho de hoje, Jesus nos mostra o efeito da oração em nossa vida: ela nos transfigura; ela transforma o nosso rosto entristecido, angustiado e preocupado num rosto alegre, sereno e confiante.
            O que aconteceu enquanto Jesus rezava? O mesmo que aconteceu com Abraão. Num momento de grande angústia e de incerteza, quando Abraão começava a desacreditar da promessa divina de se tornar pai de uma grande multidão, “o Senhor conduziu Abraão para fora e disse-lhe: ‘Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz!’ E acrescentou: ‘Assim será a tua descendência’” (Gn 15,5). Quando estamos angustiados, tristes e preocupados, ficamos fechados em nossa própria dor, nos sentindo como se estivéssemos trancados num quarto escuro, sem conseguirmos achar a porta de saída. Mas a oração tem esse poder de nos conduzir para fora desse lugar. A oração tem esse poder de tirar os nossos olhos daquele horizonte estreito do nosso problema, e de dirigi-los para o céu, para a infinidade das estrelas que brilham no escuro, lembrando-nos de que “Deus tem o poder de realizar por nós infinitamente além do que podemos pedir ou conceber, mediante o seu poder que age em nós” (Ef 3,20).  
            O rosto de Jesus se transfigurou porque, enquanto rezava, o Pai o conduziu para fora da sua angústia e da sua tristeza e fez também com que Pedro, Tiago e João, antes angustiados e tristes com a notícia da morte de Jesus, agora pudessem ver a sua glória (cf. Lc 9,32). Mas, será que a oração tem mesmo esse poder mágico de transformar rapidamente um rosto desfigurado num rosto transfigurado? Na verdade, não. O que acontece é que, quando nossa oração é verdadeira, sincera, bem feita, nós saímos dela dispostos a fazer a vontade de Deus e é isso que transfigura o nosso rosto, porque devolve paz ao nosso coração. Sempre que nos afastamos da vontade de Deus, começamos a perder a paz de espírito, e essa perda de paz se reflete em nosso rosto. Por outro lado, sempre que, por meio da oração, voltamos a alinhar o nosso coração ao coração de Deus, acolhendo e abraçando a sua vontade, voltamos a sentir paz, e o nosso rosto consequentemente irradia essa paz.
            No final do Evangelho, São Lucas mostra que a oração de Jesus não trouxe benefícios apenas a ele; ela também fez com que a nuvem da presença de Deus envolvesse Pedro, Tiago e João. Na oração, nós subimos a Deus e Ele desce a nós, nos envolvendo na sua Presença misteriosa, uma Presença que não podemos tocar, mas que nos envolve na verdade do seu amor e da sua graça para conosco. “Da nuvem... saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!’” (Lc 9,35). Se, na oração, nós desejamos ter um contato direto com Deus e receber respostas diretas para as questões que nos angustiam, o Pai nos convida a escutar o que o seu Filho nos diz no Evangelho de cada dia.
Enfim, se Pai nos convida a escutar seu Filho, o Filho, por sua vez, escuta o Pai na oração, e porque o escuta, seu rosto se transfigura. Nós, escutando o Filho, podemos ter também a nossa vida transfigurada ao menos momentaneamente, pois a nossa transfiguração definitiva e completa se dará no momento da ressurreição, como indica o apóstolo Paulo: “De lá (do céu) aguardamos o nosso Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,20-21).

                ORAÇÃO: Pai, as preocupações e angústias do tempo presente me fazem sentir-me dentro de um quarto escuro, sem que eu veja uma saída. Peço-Te: conduz-me para fora como conduziste Abraão, e faz-me erguer os olhos para contemplar as estrelas do céu, pois eu creio que tens o poder de fazer por mim infinitamente além do que posso pedir ou imaginar.
            Senhor Jesus Cristo, nas noites escuras da minha vida, leva-me contigo à presença do Pai. Concede-me um coração verdadeiramente orante, capaz de apresentar ao Pai tudo aquilo que aflige a minha alma, depositando nas mãos d’Ele minhas preocupações. Mais do que isso, que a minha oração seja tão verdadeira e tão eficaz, que eu possa sair dela disposto(a) a abraçar a vontade do Pai em minha vida.
            Espírito Santo, Tu és a força de Deus que transfigura a partir de dentro tudo aquilo que está desfigurado. Vem sobre nós com o Teu poder! Transfigura-nos na imagem do Filho Jesus, e faz de cada um de nós uma presença capaz de transfigurar o ambiente em que nos encontramos, ajudando cada pessoa a reencontrar a sua alegria e a sua paz na conformação da sua vida à vontade do Pai. Amém.

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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