sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O GRITO DA ESPERANÇA


Missa do 1º.dom. do advento. Palavra de Deus: Jeremias 33,14-16; 1Tessalonicenses 3,12 – 4,2; Lucas  21,25-28.34-36.

            No mundo em que vivemos não há um lugar separado ou reservado apenas para os que creem, para os que são justos e íntegros. Os problemas que afetam a humanidade como as doenças, a violência, as drogas, as guerras, o risco do desemprego, o mercado desumano, as catástrofes ambientais, as injustiças sociais etc., produzem angústia e medo em todos os seres humanos. A diferença está na forma como as pessoas reagem ao que lhes acontece: enquanto muitos se desesperam, os cristãos são chamados à atitude da esperança, mantendo sua fé nas promessas de Deus e na sua justiça.
            O Evangelho que ouvimos deixa claro que a nossa fé e a nossa esperança em Jesus não nos livrarão dos problemas e da instabilidade política, econômica e emocional que atualmente afetam a humanidade, mas espera-se de nós uma postura de firmeza e de confiança em Deus, sabendo que a história humana caminha para a sua libertação definitiva, conforme o próprio Jesus afirmou: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21,28).
            Como estamos neste momento: levantados ou derrubados, em pé ou caídos? Caminhamos de cabeça erguida, firmados na esperança, ou nos arrastamos pela vida cabisbaixos, expressando uma total ausência de esperança em nosso olhar, em nossas palavras e em nossas atitudes? O tempo que iniciamos hoje se chama “advento”, cujo sentido está em “esperar Aquele que vem”. O Advento “nos ensina a gritar esperança no sofrimento, a confiar em tempos melhores, a provocá-los” (Pe. Adroaldo). É tempo de acordar a esperança, que talvez se encontre adormecida dentro de nós. Esperança é o oposto do derrotismo, da passividade, do negativismo; é uma maneira de enfrentar a vida: “Se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, sobretudo dos que têm fé” (1Tm 4,10).
            Muitas pessoas deixaram de esperar; elas deixaram de esperar em relação a si mesmas ou a alguma mudança/superação; elas deixaram de esperar em relação à outra pessoa ou ainda em relação a alguma situação econômica/social; muitos, infelizmente, têm deixado de esperar em Deus e por Ele. Mas a esperança nos faz desejar algo novo. Só quem está insatisfeito deseja algo novo. A insatisfação, a indignação, são forças de esperança atuando em nós. A esperança não funciona em nós como um tranquilizante; pelo contrário, ela nos inquieta, nos desinstala, nos faz buscar mudanças.
            Muitas pessoas têm dado respostas erradas à sua insatisfação, refugiando-se nas drogas, na bebida, na comida e no consumismo. Mas Jesus nos alerta: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida” (Lc 21,34). Não podemos negociar a nossa esperança de um mundo melhor, trocando-a por compensações egoístas, baratas e ilusórias. Não podemos nos tornar insensíveis, no sentido de cairmos na indiferença para com as promessas de Deus e para com o destino da humanidade. Devemos tomar cuidado com tantas coisas que o mundo inventa para nos distrair: enquanto ficamos distraídos com elas, não nos damos conta de que estamos caminhando na direção da destruição de nós mesmos.
“Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36). Eis a chave para reacender a nossa esperança e nos preparar para a segunda vinda de Jesus: a oração. Na verdade, só uma pessoa que tem esperança pode orar. “Cada oração é uma expressão de esperança. Uma pessoa que não espera nada do futuro não pode orar. Só pode haver vida e movimento quando você não aceita mais as coisas como são e olha para frente rumo ao que ainda não é... Um homem com esperança não se preocupa em saber como seus desejos serão cumpridos. Assim, sua oração não se dirige à graça, mas Àquele que a proporciona. É essencial para a oração de esperança que não se peçam garantias, não se imponham condições, nem se exijam provas, mas apenas que você espere tudo do Outro sem constrangê-Lo em momento algum... Sempre que orarmos com esperança, poremos nossa vida nas mãos de Deus. Medo e ansiedade desaparecem, tudo que recebemos e tudo de que somos privados não são nada senão um dedo apontando na direção da promessa de Deus de que vamos viver por completo” (Henri Nouwen, Oração, pp.43-50).
            Ao iniciarmos hoje o tempo do advento, que possamos percorrer este caminho como ele verdadeiramente deve ser, o caminho do homem em pé, do homem acordado, do homem que ora com esperança, sustentado por esta certeza: “Cristo virá para salvar aqueles que o esperam” (cf. Hb 9,28). Ele disse que quer nos encontrar em pé, e não caídos. Ainda que às vezes enfrentemos fortes tempestades e que os ventos contrários nos curvem até o chão, sejamos como o babu: podemos até ser curvados ao chão, mas jamais nos quebraremos; jamais ficaremos caídos, prostrados ao chão, derrotados pelo desânimo. A força da esperança nos haverá nos levantar novamente. Enfim, como desejou o apóstolo Paulo, que Cristo, ao chegar “com todos os seus santos”, encontre os nossos corações marcados por uma “santidade sem defeito aos de Deus, nosso pai” (cf. 1Ts 3,13).
            Pe. Paulo Cezar Mazzi

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