Missa do 33º.
dom. comum. Palavra de Deus: Daniel 12,1-3; Hebreus 10,11-14.18; Marcos
13,24-32.
Tudo
acabará. Tudo chegará a um fim. Nada perdurará para sempre. Nada permanecerá
como está. Isso é bom ou ruim? Depende. Para quem está vivendo uma situação de
felicidade, a consciência do fim é entendida como um estraga-prazer, mas para
quem está vivendo uma situação de dor, de injustiça, de sofrimento, a
consciência do fim é um alívio, uma esperança que ajuda a pessoa a não se
desesperar.
Tanto
o profeta Daniel quanto Jesus nos falam do fim. Fim do mundo? Não exatamente.
Eles nos falam do fim de um tipo de mundo: o nosso mundo, marcado pela
injustiça, ferido pela violência, agredido por muitos de nós, seres humanos.
Haverá um fim para a injustiça, para a violência, para o sofrimento, para tudo
aquilo que produz morte. Mas esse fim, segundo o profeta Daniel, será precedido
por “um tempo de angústia” – não é exatamente esse o tempo em que estamos
vivendo atualmente? – mas, “nesse tempo, teu povo será salvo” (Dn 12,1).
Ao
anunciar o fim deste mundo marcado pela injustiça, Daniel quer nos ajudar a despertar
a nossa fé e a nossa esperança. A angústia do tempo em que estamos vivendo
precisa ser entendida como dores de parto. Deus nos fez uma promessa: “O que
nós esperamos, conforme a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde
habitará a justiça” (2Pd 3,13). Quanto mais se aproxima a hora do cumprimento
dessa promessa, quanto mais se aproxima a hora do parto, maiores são as dores.
Nós, que cremos nas promessas de Deus, precisamos suportar a dor com alegria e
esperança porque se aproxima a hora da nossa salvação definitiva!
Mas
há um outro aspecto extremamente positivo, lembrado por Daniel: a hora do fim é
a hora onde Deus fará justiça; é a hora onde cada ser humano será colocado
diante de Deus para prestar contas de como viveu sua breve vida sobre a face da
terra. Se a morte iguala todos os seres humanos, o jugalmento de Deus os
diferencia: haverá um destino diferente para os que fizeram o bem e para os que
fizeram o mal, para os que lutaram para viver segundo a justiça e para os que
escolheram seguir o caminho da injustiça (cf. Dn 12,2). Isso significa que nossos
esforços por um mundo melhor não se perderão. Todo bem que fizemos em favor da
salvação nossa e da humanidade será recolhido e levado à perfeição por Deus.
Jesus,
ao nos tornar conscientes do fim, nos convida a nos preparar para o encontro
definitivo com Ele: “Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande
poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os
eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra” (Mc 13,26-27). Jesus
recolherá os Seus da face da terra, assim como recolherá cada gota de suor e
cada lágrima que os Seus derramaram na luta para tornar o mundo um lugar menos
injusto e menos desumano. Tudo será recolhido por Ele e transformado. Até mesmo
o nosso corpo, humilhado e exposto à morte, será transformado num corpo
glorioso (cf. Fl 3,20-21)!
É
preciso que se diga mais uma vez: Jesus não quer provocar angústia em nós, mas
nos tornar conscientes da necessidade de nos preparar para uma passagem. O fim
é o momento da passagem mais importante da nossa vida e da história humana. O
provisório precisa dar lugar ao definitivo; a visão não clara precisa dar lugar
ao ver face a face; as perguntas precisam dar lugar às respostas; a mentira precisa
dar lugar à verdade; a injustiça precisa dar lugar à justiça. O fim é tudo
isso. O fim é o momento em que as feridas serão definitivamente curadas e as lágrimas
definitivamente enxugadas.
É
verdade que, para muitas pessoas, o fim já aconteceu há muito tempo. Para uma
mãe ou um pai que perdeu o filho numa doença ou num acidente, o fim já
aconteceu. Para um filho que perdeu a mãe ou o pai, o fim já aconteceu. Para um
noivo ou uma noiva, um marido ou uma esposa que perdeu a pessoa amada, o fim já
aconteceu. Mas não! Esse tipo de fim tem um desdobramento. O fim é a
ressurreição, o reencontro com aqueles que partiram antes de nós, conforme a
promessa de Deus (cf. 1Ts 4,13-18). Talvez aqui caibam as palavras da letra de
uma música do Legião Urbana: “E nossa história não estará pelo avesso, assim,
sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar. E até lá vamos viver. Temos
muito ainda por fazer. Não olhe pra trás; apenas começamos. O mundo começa
agora; apenas começamos” (Metal contra as
nuvens, 1991).
Quanto
a nós, que aqui estamos, a pergunta principal não é “quando Jesus virá?”, mas
“como Ele vai me encontrar?”. O próprio Jesus nos questiona: “Quando o Filho do
homem voltar, encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18,8). Como Jesus me
encontrará: como alguém que desistiu do bem e passou a fazer o mal, ou como
alguém que perseverou no caminho do bem? Como alguém que lutou o quanto pôde
para se manter honesto, fiel e justo, ou como alguém que abandonou esses
valores e seguiu o fluxo do mundo? Enfim, que possamos meditar no coração essas
palavras de São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados a
respeito do amor”.
Ao
final dessa homilia, façamos nossa a oração do salmista: “Ó Senhor, sois minha
herança e minha taça, meu destino está seguro em vossas mãos! Tenho sempre o
Senhor ante meus olhos, pois se o tenho a meu lado não vacilo. Eis por que meu
coração está em festa, minha alma rejubila de alegria e até meu corpo no
repouso está tranquilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte nem vosso
amigo conhecer a corrupção. Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto
a vós, felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado!” (Sl
16,5-6.8-11).
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
Que Deus abençoe a vida de todos vocês.Que nunca falte pastores pára conduzir os rebanhos..
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