sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O QUE HÁ DEPOIS DO FIM?


Missa do 33º. dom. comum. Palavra de Deus: Daniel 12,1-3; Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32.

Tudo acabará. Tudo chegará a um fim. Nada perdurará para sempre. Nada permanecerá como está. Isso é bom ou ruim? Depende. Para quem está vivendo uma situação de felicidade, a consciência do fim é entendida como um estraga-prazer, mas para quem está vivendo uma situação de dor, de injustiça, de sofrimento, a consciência do fim é um alívio, uma esperança que ajuda a pessoa a não se desesperar.
Tanto o profeta Daniel quanto Jesus nos falam do fim. Fim do mundo? Não exatamente. Eles nos falam do fim de um tipo de mundo: o nosso mundo, marcado pela injustiça, ferido pela violência, agredido por muitos de nós, seres humanos. Haverá um fim para a injustiça, para a violência, para o sofrimento, para tudo aquilo que produz morte. Mas esse fim, segundo o profeta Daniel, será precedido por “um tempo de angústia” – não é exatamente esse o tempo em que estamos vivendo atualmente? – mas, “nesse tempo, teu povo será salvo” (Dn 12,1).
Ao anunciar o fim deste mundo marcado pela injustiça, Daniel quer nos ajudar a despertar a nossa fé e a nossa esperança. A angústia do tempo em que estamos vivendo precisa ser entendida como dores de parto. Deus nos fez uma promessa: “O que nós esperamos, conforme a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). Quanto mais se aproxima a hora do cumprimento dessa promessa, quanto mais se aproxima a hora do parto, maiores são as dores. Nós, que cremos nas promessas de Deus, precisamos suportar a dor com alegria e esperança porque se aproxima a hora da nossa salvação definitiva!
Mas há um outro aspecto extremamente positivo, lembrado por Daniel: a hora do fim é a hora onde Deus fará justiça; é a hora onde cada ser humano será colocado diante de Deus para prestar contas de como viveu sua breve vida sobre a face da terra. Se a morte iguala todos os seres humanos, o jugalmento de Deus os diferencia: haverá um destino diferente para os que fizeram o bem e para os que fizeram o mal, para os que lutaram para viver segundo a justiça e para os que escolheram seguir o caminho da injustiça (cf. Dn 12,2). Isso significa que nossos esforços por um mundo melhor não se perderão. Todo bem que fizemos em favor da salvação nossa e da humanidade será recolhido e levado à perfeição por Deus.
Jesus, ao nos tornar conscientes do fim, nos convida a nos preparar para o encontro definitivo com Ele: “Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra” (Mc 13,26-27). Jesus recolherá os Seus da face da terra, assim como recolherá cada gota de suor e cada lágrima que os Seus derramaram na luta para tornar o mundo um lugar menos injusto e menos desumano. Tudo será recolhido por Ele e transformado. Até mesmo o nosso corpo, humilhado e exposto à morte, será transformado num corpo glorioso (cf. Fl 3,20-21)!
É preciso que se diga mais uma vez: Jesus não quer provocar angústia em nós, mas nos tornar conscientes da necessidade de nos preparar para uma passagem. O fim é o momento da passagem mais importante da nossa vida e da história humana. O provisório precisa dar lugar ao definitivo; a visão não clara precisa dar lugar ao ver face a face; as perguntas precisam dar lugar às respostas; a mentira precisa dar lugar à verdade; a injustiça precisa dar lugar à justiça. O fim é tudo isso. O fim é o momento em que as feridas serão definitivamente curadas e as lágrimas definitivamente enxugadas.
É verdade que, para muitas pessoas, o fim já aconteceu há muito tempo. Para uma mãe ou um pai que perdeu o filho numa doença ou num acidente, o fim já aconteceu. Para um filho que perdeu a mãe ou o pai, o fim já aconteceu. Para um noivo ou uma noiva, um marido ou uma esposa que perdeu a pessoa amada, o fim já aconteceu. Mas não! Esse tipo de fim tem um desdobramento. O fim é a ressurreição, o reencontro com aqueles que partiram antes de nós, conforme a promessa de Deus (cf. 1Ts 4,13-18). Talvez aqui caibam as palavras da letra de uma música do Legião Urbana: “E nossa história não estará pelo avesso, assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar. E até lá vamos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe pra trás; apenas começamos. O mundo começa agora; apenas começamos” (Metal contra as nuvens, 1991).
Quanto a nós, que aqui estamos, a pergunta principal não é “quando Jesus virá?”, mas “como Ele vai me encontrar?”. O próprio Jesus nos questiona: “Quando o Filho do homem voltar, encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18,8). Como Jesus me encontrará: como alguém que desistiu do bem e passou a fazer o mal, ou como alguém que perseverou no caminho do bem? Como alguém que lutou o quanto pôde para se manter honesto, fiel e justo, ou como alguém que abandonou esses valores e seguiu o fluxo do mundo? Enfim, que possamos meditar no coração essas palavras de São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados a respeito do amor”.
Ao final dessa homilia, façamos nossa a oração do salmista: “Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, meu destino está seguro em vossas mãos! Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, pois se o tenho a meu lado não vacilo. Eis por que meu coração está em festa,  minha alma rejubila de alegria e até meu corpo no repouso está tranquilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte nem vosso amigo conhecer a corrupção. Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós, felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado!” (Sl 16,5-6.8-11).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário:

  1. Que Deus abençoe a vida de todos vocês.Que nunca falte pastores pára conduzir os rebanhos..

    ResponderExcluir