sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O GRITO DA FÉ

Missa do 30º. Dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 31,7-9; Hebreus 5,1-6; Marcos 10,46-52.

            Bartimeu, cego e mendigo, sentado à beira do caminho para Jerusalém, ouve dizer que Jesus está passando por ali e grita: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!” (Mc 10,47). O grito de Bartimeu não é um grito de desespero; é um grito de fé! Quando foi a última vez que você gritou por Deus? Quantas pessoas, por deixarem de ter fé, também deixaram de gritar por Deus? Bartimeu é a imagem de todos nós: em nossa oração, clamamos ao Deus que não podemos ver, justamente porque a Escritura diz: “Tu és um Deus que se esconde, ó Deus de Israel, o Salvador” (Is 45,15). Não é que Deus se esconda de nós! O sentido é outro: Ele não pode ser visto, enquadrado nos limites da nossa compreensão humana; Ele não pode ser controlado ou manipulado por nós. No entanto, mesmo Ele sendo o Deus invisível aos nossos olhos, a Escritura diz que “Ele está perto de todos aqueles que O invocam de coração sincero” (Sl 145,18); “Ele se revela aos que não lhe recusam a fé” (Sb 1,2).
            O grito de Bartimeu a Jesus – um grito de fé – é um sério questionamento à nossa vida de oração. Mesmo não vendo a Deus, mesmo quando não O sentimos na oração, continuamos a gritar por Ele? Num primeiro momento, o grito de Bartimeu foi sufocado pela multidão: “Muitos o repreendiam para que se calasse” (Mc 10,48). De quem é aquela voz que frequentemente nos convida a deixar de gritar a Deus, a deixar de orar? De quem é aquela voz que nos pergunta: “Para quê orar a um Deus que não existe?”, ou então, “Para quê orar a um Deus que não se importa com você?” Nós conseguimos identificar essa voz como sendo a voz do maligno, aquele que nos quer fazer desistir de orar? Se é verdade quem “aquele que procura, encontra” (Mt 7,8), é igualmente verdade que aquele que deixa de procurar, não encontrará jamais. Quem se convence de que não vale a pena gritar por Deus acaba por jogar fora a sua fé, e sem a fé, não há como Deus entrar e agir em nossa vida.
            Bartimeu não permitiu que as pessoas à sua volta o calassem: “Ele gritava mais ainda: ‘Filho de Davi, tem piedade de mim!’” (Mc 10,48). Assim como Bartimeu, nós não podemos permitir que o maligno nos convença a desistir da oração! Pelo contrário, devemos orar como o salmista: “Senhor, ouve a minha prece, que o meu grito chegue a ti! Não escondas tua face de mim no dia da minha angústia; inclina o teu ouvido para mim, no dia em que te invoco, responde-me depressa!” (Sl 102,2).
E foi graças ao grito persistente de Bartimeu que “Jesus parou e disse: ‘Chamai-o’. Eles o chamaram e disseram: ‘Coragem, levanta-te, Jesus te chama!’” (Mc 10,49). O grito persistente de Bartimeu atravessou toda aquela multidão e foi ouvido por Jesus! O grito de Bartimeu parou Jesus! Quando o nosso grito por Deus na oração é mais alto e mais persistente do que a voz do maligno que tenta nos fazer desistir de orar, nosso clamor é ouvido por Deus e Ele se volta para nós. É por isso que a Escritura diz: “Aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). A fé que sustentava o grito de Bartimeu e que precisa sustentar a nossa oração é essa: Deus existe! Eu não posso vê-Lo, e nem sempre O sinto junto a mim, mas sei que Ele existe. Além disso, sei que Ele recompensa os que O procuram, isto é, sei que Ele não deixa sem resposta quem clama por Ele!
Depois que o grito de Bartimeu o colocou diante de Jesus, este lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” Bartimeu respondeu: “Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51). Parece muito natural, e mesmo lógico, que uma pessoa que não enxerga peça a Jesus para poder ver. Mas, será verdade mesmo que nós queremos ver? Nós estamos dispostos a ver o que precisamos ver? Nós estamos dispostos a olhar com outros olhos a realidade à nossa volta? Não há dúvida de que nós precisamos pedir a Jesus que cure a nossa cegueira, o nosso olhar viciado, para que enxerguemos de uma maneira mais profunda as pessoas que convivem conosco...
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51). Precisamos pedir a Jesus que cure a humanidade da cegueira chamada ‘indiferença para com o próximo’: “Fechar os olhos diante do próximo nos torna cegos diante de Deus” (Bento XVI, Deus é amor, n.16). No mundo em que vivemos, ninguém enxerga ninguém. Cada vez mais pessoas estão com seus olhos fixos na tela de um celular e não enxergam ninguém à volta delas. Além disso, precisamos pedir a Jesus que nos liberte das imagens erradas que temos a respeito de Deus. Pior do que não podermos enxergar Deus é vê-Lo de uma maneira errada, é ter d’Ele uma imagem distorcida, que não corresponde ao que Ele verdadeiramente é. Somente o Filho, imagem visível do Deus invisível (cf. Cl 1,15), pode nos revelar (tirar o véu dos nossos olhos para podermos ver) o Pai.
Enfim, diante do clamor de Bartimeu, “Jesus disse: ‘Vai, a tua fé te curou’. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho” (Mc 10,52). Bartimeu não é apenas modelo de discípulo, mas, sobretudo, modelo de fé, porque a fé não se assenta no “ver”, mas no “ouvir”: assim como Bartimeu, nós não vemos a Deus, mas ouvimos a sua Palavra; nós não vemos Jesus, mas ouvimos o seu Evangelho. E é diante do Evangelho que devemos gritar a Jesus, isto é, declarar-Lhe a verdade da nossa fé. Como disse o apóstolo Paulo, nós, cristãos, “caminhamos pela fé, não pela visão clara” (2Cor 5,7). O que nos faz levantar e não ficar sentados à beira do caminho, lamentando a nossa miséria e esperando que os outros nos deem esmolas de compaixão, não é aquilo que vemos, mas aquilo que cremos! Como Bartimeu, nós hoje nos dispomos a seguir Jesus não porque vemos à nossa volta que tudo está bem, mas porque cremos que, ao nos deixar orientar por Jesus, passamos a enxergar a vida de uma maneira nova, e ao nos propormos viver como Ele viveu, um novo horizonte se abrirá para nós e para a humanidade.
Como Bartimeu, peçamos...  
Filho de Davi (Pe. Fabio de Melo) 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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