sexta-feira, 19 de outubro de 2018

QUAL LUGAR VOCÊ ESCOLHE OCUPAR?

Missa do 29º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 53,10-11; Hebreus 4,14-16; Marcos 10,35-45.

            Existe uma pergunta no coração de cada pessoa: “Qual é o meu lugar neste mundo?” Ou então: “Há um lugar para mim neste mundo?” Por que carregamos essa pergunta conosco? Porque temos medo de ser ignorados; temos medo de não ser reconhecidos. Então, procuramos lugares de destaque, lutamos para alcançar os primeiros lugares, fazemos de tudo para não ficar por último, para trás, esquecidos ou ignorados por todos.
            Jesus, no Evangelho de hoje, faz outra pergunta a cada um de nós: “Que lugar você gostaria de ocupar, neste mundo, como meu discípulo?” Ou então: “Que lugar você, como meu discípulo, escolhe ocupar neste mundo?” Enquanto Jesus escolheu ocupar o lugar do serviço, o lugar da humildade e da simplicidade, Tiago e João pediram-Lhe permissão para ocuparem o lugar do poder: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!” (Mc 10,37). Enquanto Jesus escolheu descer do alto para se colocar junto de toda pessoa humilhada e rebaixada, Tiago e João queriam que Jesus os colocasse no alto, acima de todos; portanto, distantes de tudo o que é pequeno, humilde, baixo e insignificante aos olhos do mundo.
            Ora, onde é o lugar de todo e qualquer discípulo de Jesus? Junto de toda pessoa abatida e humilhada. O lugar de todo discípulo de Jesus é junto de quem precisa de proteção, de ajuda, de compaixão, de justiça. Assim como o lugar do médico é junto da pessoa enferma, o nosso lugar como discípulos de Jesus é junto das pessoas ignoradas pela nossa sociedade; especialmente, junto das pessoas oprimidas e injustiçadas por aqueles que exercem o poder de maneira injusta e desumana.
            Ao vir ao mundo, Jesus fez uma escolha; ele escolheu servir e dar a sua vida em resgate por muitos. A vida toda de Jesus foi um serviço em favor do bem, do resgate, da recuperação e da salvação de muitas pessoas. O sentido da vida de Jesus estava nisso: em servir, em ajudar, em doar-se pelo bem dos outros. Portanto, cada um de nós, discípulos de Jesus, precisa hoje se perguntar: “Eu estou prestando algum serviço em favor da humanidade?” “A maneira como eu vivo tem ajudado alguém a ser resgatado do sofrimento, da injustiça, do erro, da autodestruição, do desespero, da descrença?” “Será que eu estou vivendo apenas em função de mim mesmo, exigindo que as pessoas que estão à minha volta me sirvam?”
            Há algo preocupante nas novas gerações: a maioria das crianças e adolescentes tem se comportado como pessoas que nasceram para serem servidas. É uma geração egocêntrica, para a qual o mundo tem que girar em torno dela e dos seus caprichos. São incapazes de servir porque são incapazes de enxergar o outro e as suas necessidades. Neste sentido, os pais e educadores têm um grande desafio: ajudar as crianças e adolescentes do nosso tempo a descerem do pedestal em que foram colocados desde pequenos, a não olharem os outros de cima para baixo, a se darem conta de que ninguém é melhor do que ninguém, a compreenderem que o sentido da vida está em servir, em fazer da própria existência um serviço para o bem das outras pessoas.  
            Ao rejeitar o poder e ao escolher o serviço, Jesus quis nos fazer um alerta: todo poder corrompe, inclusive o poder religioso. Aqui nós precisamos lembrar mais uma vez que a Eucaristia que comungamos é pão sem fermento, porque Jesus foi uma pessoa que não se deixou corromper pelo poder; Jesus nunca se tornou alguém inchado de orgulho, de arrogância e de poder. Portanto, o que se espera de nós, que comungamos a Eucaristia – pão sem fermento –, é que sejamos homens e mulheres não inchados, não arrogantes nem orgulhosos, cristãos que não olhem as pessoas de cima para baixo, que não esperem ser servidos, mas que façam de sua própria vida um serviço para o bem daqueles que foram chamados a resgatar.        
            Hoje é o Dia Mundial das Missões. Aqui é oportuno lembrar, mais uma vez, as palavras do Papa Francisco: “Eu sou uma missão nesta terra e por isso estou neste mundo” (A alegria do Evangelho, n.273). O sentido da nossa vida não está em subir num pedestal e esperar que as pessoas nos admirem, ou sentar-se num trono e esperar que as pessoas nos reverenciem e nos sirvam. O sentido da nossa vida está em realizar a missão que fomos chamados a realizar, em servir as pessoas que fomos chamados a servir, em resgatar as pessoas que fomos chamados a resgatar com a nossa existência única e original.
            Segundo o Papa Francisco, a existência única de cada um de nós “é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, em um momento determinado da história, um aspecto do Evangelho” (Alegrai-vos e Exultai, n.19). Isto significa que onde quer que nos encontremos, ali devemos nos colocar a serviço, testemunhando a presença viva do Evangelho d’Aquele que veio servir e dar sua vida em resgate por muitos. E o Papa Francisco afirma: “Deus permita que você consiga identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a sua vida... O Senhor a levará ao cumprimento mesmo no meio dos seus erros e momentos negativos, desde que você não abandone o caminho do amor e permaneça sempre atento à Sua ação sobrenatural que purifica e ilumina” (Alegrai-vos e Exultai, n.24).
            Deus abençoe a missão que você é e que o Espírito Santo o(a) configure a Jesus Cristo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Que a sua existência seja expressão desse serviço capaz de resgatar para Deus todas as pessoas que, por algum motivo, se encontrem perdidas d’Ele.    

Oração: Deus Pai, às vezes me vejo perguntando pelo meu lugar no mundo, por causa do medo de não ser reconhecido(a) ou amado(a). Ajuda-me a ocupar o lugar que o Senhor preparou para mim, o lugar onde sou chamado(a) a ser um sinal vivo do Evangelho de teu Filho Jesus.
Senhor Jesus Cristo, retira de mim todo fermento de orgulho, de arrogância e de busca pelo poder. Quero fazer da minha existência um serviço em favor daqueles que precisam ser recuperados, resgatados, reencontrados. Assim como o Senhor, eu quero passar por este mundo fazendo o bem e deixar, com a minha vida, uma mensagem de fé, de esperança e de amor para as outras pessoas.
Espírito Santo, leva-me aonde as pessoas necessitem da palavra do Evangelho, aonde elas necessitem de força para viver, aonde falte a esperança, aonde haja alguém que necessite ser resgatado. Torna-me consciente da missão que eu sou e fiel em relação ao serviço que sou chamado(a) a realizar pelo bem e pela salvação de cada ser humano. Amém.

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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