quarta-feira, 30 de maio de 2018

HONRAR O SANGUE QUE NOS REDIMIU

Missa do Corpo e Sangue de Cristo. Palavra de Deus: Êxodo 24,3-8; Hebreus 9,11-15; Marcos 14,12-16.22-26.

            Sempre que comungamos numa celebração eucarística, recebemos o “corpo de Cristo”, a hóstia consagrada. No entanto, neste dia de Corpus Christi, a Palavra de Deus nos faz olhar com atenção para o “sangue de Cristo”, de maneira especial. Esta imagem do sangue apareceu nas três leituras bíblicas. Mas o que essa imagem nos diz? O sangue está em estreita relação com o corpo: ele é, por assim dizer, a “vida” do corpo. Perder muito sangue significa correr o sério risco de morrer; receber sangue, por sua vez, significa recuperar a vida, manter-se vivo ou voltar a viver.
Mas os três textos bíblicos de hoje nos falam não apenas de sangue; eles falam especificamente do “sangue derramado”. Desde o Antigo Testamento, alguns animais tinham seu sangue derramado para “selar” a aliança dos homens com Deus. O que esse sangue derramado simbolizava? Ele simbolizava o compromisso assumido perante Deus: se alguma pessoa rompesse sua aliança/seu compromisso com Deus, estaria assumindo o risco de morrer; morrer não no sentido de ser morta por Deus, mas no sentido de afastar-se do Deus Vivo e passar a percorrer um caminho de morte, um caminho de autodestruição. É por isso que Moisés, após selar a aliança entre Israel e o Senhor, aspergiu as pessoas com sangue (cf. Ex 24,6.8).
O mais significativo nas leituras bíblicas de hoje é a comparação entre o valor do sangue dos animais (Antigo Testamento) e o valor do sangue de Cristo (Novo Testamento). Enquanto alguns animais morriam, obviamente sem saber por que, e o seu sangue inconsciente era usado para alertar a consciência de Israel do risco de afastar-se de Deus e seguir um caminho de morte, o sangue de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, é um sangue consciente, o sangue d’Aquele que livremente entregou-se para a salvação do mundo. Justamente por isso, a carta aos Hebreus afirma que o sangue de Jesus é infinitamente superior ao sangue de bodes e bezerros; é o sangue que não realiza uma simples purificação exterior, mas uma purificação daquilo que temos de mais sagrado – a nossa consciência. Eis o texto bíblico: “Se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros, os santifica e realiza a pureza ritual dos corpos, quanto mais o Sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9,14-15).
            Aqui está o valor do sangue de Cristo, derramado por nós na cruz: ele realizou uma redenção eterna; eterna, não provisória, nem temporária! No entanto, o autor da carta aos Hebreus quer nos ensinar que o sangue de Cristo não tem o poder mágico de nos colocar em comunhão definitiva com Deus. O que este sangue contém é, sim, um apelo, um convite, uma provocação: que cada um de nós, que comunga do Corpo e do Sangue de Cristo, tenha a disposição de oferecer-se a Deus como Seu Filho se ofereceu; que cada um de nós viva sua vida neste mundo como Jesus viveu a d’Ele: como “corpo doado” e “sangue derramado” em favor da salvação da humanidade.
            A ideia do “sangue derramado” sempre esteve unida, na Sagrada Escritura, à ideia de sacrifício. A “hóstia” que comungamos na missa é exatamente o sacrifício de Cristo – lembremos que a palavra “hóstia” significa “sacrifício”. Não foi à toa que o apóstolo Paulo disse: “ofereçam seus corpos como hóstia viva (sacrifício vivo), santo e agradável a Deus” (Rm 12,1). Sendo assim, precisamos nos perguntar: pelo quê temos nos sacrificado? Sem dúvida, a maioria de nós se sacrifica para sobreviver neste mundo cada vez mais desumano, injusto e competitivo. Mas o perigo está em reduzirmos o nosso sacrifício às coisas materiais, não tendo a mesma disposição em nos sacrificar pelas coisas espirituais...
            Muitos pais se sacrificam para dar uma vida digna aos seus filhos. Eles também se sacrificam para lhes transmitir fé e valores espirituais? Além disso, quantos filhos hoje se sacrificam por seus pais? Que sacrifícios mulher e marido estão dispostos a fazer pelo bem, pela recuperação ou pela restauração do casamento/da família? Que sacrifícios nós fazemos pelo bem das outras pessoas, pelo bem dos necessitados, pelo bem da nossa Igreja ou da nossa comunidade? Que sacrifícios estamos dispostos a fazer em vista da nossa conversão e da nossa salvação?
            O Evangelho de hoje nos mostra que Jesus escolheu o vinho para expressar a verdade do seu Sangue derramado por nós. O vinho nasce do “sacrifício” das uvas que se entregam para serem esmagadas, da mesma forma que o pão nasce do “sacrifício” dos grãos de trigo que se entregam para serem triturados. Pão e vinho, Corpo e Sangue de Jesus, alimento de vida eterna, convite a não fugirmos daqueles sacrifícios que são necessários serem abraçados, enfrentados, em vista da nossa edificação e do bem da família, da Igreja e da sociedade.  

Oração:
Senhor Jesus Cristo, teu sangue foi prefigurado na morte de Abel, cuja vida foi tirada por seu próprio irmão (cf. Gn 4,8). Hoje pedimos que o teu precioso sangue seja aspergido sobre a consciência de todas as pessoas que, como Caim, estão feridas pela raiva e pelo ódio, expostas a tantas situações de violência, para que aprendam a dialogar com sua própria ira e não deem espaço para o mal agir sobre elas (cf. Ef 4,26-27).
Teu sangue também foi prefigurado no sangue dos cordeiros que os hebreus passaram nas portas de suas casas, para que elas fossem poupadas do espírito exterminador (cf. Ex 12,13). Hoje pedimos que o teu precioso sangue seja derramado sobre nossas casas, para nos livrar do espírito exterminador da discórdia, da dependência química, do abuso sexual, do desemprego e da desestruturação familiar.
Teu sangue foi prefigurado no sangue que Moisés aspergiu sobre o povo de Israel, no momento em que selou a aliança com Deus (cf. Ex 24,8). Diante da consciência da nossa fraqueza e da nossa infidelidade, te pedimos, como o salmista: “Purifica-nos dos nossos pecados; lava-nos no teu sangue, e ficaremos mais brancos do que a neve. Cria em nós um coração que seja puro” (cf. Sl 51,9.12). Ajuda-nos em nosso combate contra o pecado!
Teu sangue foi prefigurado no sangue dos santos inocentes, daqueles meninos que foram mortos por Herodes (cf. Mt 2,16-18). Hoje pedimos que o teu sangue seja derramado sobre as crianças do mundo inteiro, para que os “Herodes” do tráfico de drogas, da pedofilia, do abuso sexual, da fome, da violência e da guerra não tenham poder sobre nenhuma delas.
Teu sangue tem o poder de purificar nossa consciência, de perdoar nossos pecados, de curar nossas feridas: derrama-o sobre todos nós! Teu sangue é a expressão do teu amor, amor que nos amou até o fim. Ensina-nos a amar até o fim! Teu sangue é a expressão de uma vida entregue, doada, oferecida como sacrifício pelo bem da humanidade. Que assim seja a nossa vida também. Desse modo, estaremos honrando o sangue que nos redimiu. Que assim seja!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 25 de maio de 2018

DERRUBAR MUROS E CONSTRUIR PONTES

Missa da Santíssima Trindade. Palavra de Deus: Deuteronômio 4,32-34.39-40; Romanos 8,14-17; Mateus 28,16-20.

O que é melhor para a nossa vida: um muro ou uma ponte? Depende da situação que estamos vivendo. Se nos sentimos ameaçados por alguma coisa, um muro é melhor; se temos o desejo de estreitar laços com as pessoas, uma ponte é melhor. Algumas vezes o Papa Francisco chamou a nossa atenção para o fato de que nós deveríamos aprender a derrubar muros e construir pontes. No entanto, a cultura moderna, marcada por um forte individualismo, nos incentiva a fazer o contrário: destruir pontes e, no lugar delas, levantar grandes muros que nos mantenham distantes uns dos outros. Desse modo, nossos relacionamentos vão sendo descuidados, machucados e até mesmo destruídos, porque usamos a nossa energia emocional para construir muros ao invés de pontes.
Ao nos falar de Deus como Santíssima Trindade, a celebração de hoje nos lembra que Deus se revelou na Sagrada Escritura como um construtor de pontes e não de muros. A primeira ponte que Deus estendeu na direção da humanidade se deu com o povo de Israel. Moisés lembrou isso na leitura que ouvimos: Deus se fez próximo de Israel, se fez Presença amorosa, libertadora e confortadora, para que Israel jamais se sentisse sozinho no mundo. Através do povo de Israel, Deus começou a Se revelar como Pai, o Pai que cuida dos Seus filhos na terra, que os acompanha no caminho da vida e os orienta com Sua palavra.
Apesar dessa paternidade de Deus para com Israel, sabemos que esse povo diversas vezes levantou muros que o separaram de Deus, como o muro da infidelidade religiosa, o muro das injustiças sociais e o muro da falta de solidariedade e de cuidado para com o próximo, especialmente o necessitado. Mas a boa notícia é que Jesus derrubou todos esses muros e no lugar deles construiu pontes, restabelecendo a comunhão do ser humano com Deus e dos homens entre si (cf. Ef 2,14-18), de modo que, por meio de Jesus Cristo, todos nós podemos ter acesso ao Pai (cf. Ef 2,18), isto é, podemos entrar em comunhão com o Pai.       
A prova de que Deus é ponte e não muro está justamente na Sua imagem de Pai. Basta lembrarmos que a palavra “pai” fala da relação com o “filho”, assim como a palavra “filho” fala da relação com o “pai”. O apóstolo Paulo nos dá hoje a alegria de compreender que cada um de nós é convidado a viver na mesma relação de comunhão e amor que existe entre Deus Pai e Seu Filho Jesus Cristo: “(...) recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá – ó Pai! O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus” (Rm 8,15-16). Se é verdade que nós às vezes levantamos muros que nos separam de Deus, ou às vezes sentimos que Ele está distante de nós, indiferente ao que nos acontece, precisamos silenciar e ouvir dentro de nós a voz do Espírito Santo que clama “Abá – Papai!”. Era assim que Jesus, o Filho, se dirigia a Deus nas suas orações.
Clamar a Deus de “Abá – Papai” não significa clamar por alguém que está ausente e distante e que precisamos que se faça presente e próximo de nós. Deus jamais se faz ausente ou distante de um filho Seu! Portanto, quando clamamos a Deus de “Abá – Papai” estamos professando nossa fé na verdade de que não somos órfãos e não fomos abandonados às mãos do acaso neste mundo. Assim como Jesus, nós temos Deus por Pai, e assim como Jesus, nós podemos declarar que em nenhuma situação estamos sozinhos, mas o Pai está sempre conosco! (cf. Jo 16,32). Justamente por isso, Paulo afirma que o Espírito Santo “atesta”, comprova, certifica, não deixa dúvida alguma, de que somos filhos de Deus e Ele nos ama com o mesmo amor com que ama Seu Filho Jesus.
Se a palavra “Pai” remete ao “Filho” e se a palavra “Filho” remete ao “Pai”, o amor, a relação, a íntima comunhão que existe entre Pai e Filho foi revelada na Sagrada Escritura como sendo a Pessoa do Espírito Santo. Neste sentido, o Espírito Santo é a ponte por meio da qual Pai e Filho se encontram todos os dias. Ele é também a ponte que nos coloca em comunhão com o Pai e o Filho. Assim, entendemos que todo ser humano que se deixa conduzir pelo Espírito de Deus torna-se um construtor de pontes neste mundo, torna-se uma pessoa capaz de curar, recuperar e restaurar relacionamentos, diminuindo distâncias e convertendo situações de isolamento e solidão em oportunidades de comunhão. 
No Evangelho deste domingo da Santíssima Trindade Jesus nos confia a missão de ir pelo mundo inteiro, anunciar a verdade do Seu Evangelho a toda pessoa, convidando-a a viver na comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Justamente por isso, toda pessoa que é batizada o é “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 20,19). O Pai enviou seu Filho como Salvador de todo ser humano e igualmente prometeu derramar o Espírito Santo sobre todo ser humano (cf. Jl 3,1). Jesus, por sua vez, morreu na cruz para reunir todos os filhos de Deus dispersos (cf. Jo 11,52). Por meio d’Ele – dizendo mais uma vez – todos nós temos acesso ao Pai (cf. Ef 2,18); todos, e não somente alguns. Por fim, o Espírito Santo é o vento que sopra onde quer (cf. Jo 3,8); Ele é a ponte que o Pai estende, por meio do Filho, na direção de todo ser humano que precisa ser reencontrado e reintroduzido na comunhão com a Santíssima Trindade.
Sejamos colaboradores na obra que o Pai, o Filho e o Espírito Santo realizam em vista da salvação de cada ser humano. Ajudemos a derrubar os muros do individualismo, da indiferença e da intolerância que estão nos mantendo distantes uns dos outros e, sobretudo, das pessoas necessitadas, e construamos pontes que devolvam humanidade, solidariedade e esperança ao nosso mundo. Oremos à Santíssima Trindade: “Glória ao Pai que, por seu poder, me criou à sua imagem e semelhança! Glória ao Filho que, por amor, me libertou de todas as frustrações e me abriu a porta do céu! Glória ao Espírito Santo que, por sua misericórdia, me santificou e, continuamente, realiza esta santificação pelas graças que todos os dias recebo de sua infinita bondade. Glória às três adoráveis pessoas da Trindade, como era no princípio e agora e sempre e por todos os séculos dos séculos! Eu vos adoro, Trindade beatíssima, com devoção e profundo respeito e Vos dou graças por nos haverdes revelado tão glorioso e inefável mistério. Humildemente Vos suplico me concedais que, perseverando até à morte nesta crença, possa ver e glorificar no céu o que firmemente creio na terra: um Deus em três pessoas distintas Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!” (Retirada do livro: Orações do Povo de Deus. Editora Vozes).
“Trindade Santíssima – Pai, Filho, Espírito Santo – presente e agindo na Igreja e na profundidade do meu ser. Eu vos adoro, amo e agradeço. E pelas mãos da Virgem Maria, minha Mãe Santíssima, eu me ofereço, entrego e consagro inteiramente a vós, nesta vida e para a eternidade.
Pai Celeste, a vós me ofereço, entrego e consagro como filho(a). Jesus Mestre, a vós me ofereço, entrego e consagro, como irmão(a) e discípulo(a). Espírito Santo, a vós me ofereço, entrego e consagro, como ‘templo vivo’ para ser santificado. Maria, Mãe da Igreja e minha Mãe, vós que estais na mais íntima união com a Santíssima Trindade, ensinai-me a viver em comunhão com as três divinas Pessoas, a fim de que a minha vida inteira seja um hino de glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Amém” (Pe. Tiago Alberione).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 17 de maio de 2018

RESPIRE FUNDO!

Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João 20,19-23.

            “Então o Senhor Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2,7). “Envias teu sopro e eles são criados, e assim renovas a face da terra” (Sl 104,30). “Quando chegou o dia de Pentecostes,... veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam” (At 2,1-2). Jesus “soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20,22).
            Falar do Espírito Santo é como falar do vento (cf. Jo 3,8): não podemos vê-lo, nem descrevê-lo em si mesmo; só podemos falar dos seus efeitos, só podemos tentar descrever aquilo que o vento provoca por onde passa. A imagem bíblica do Espírito Santo como respiro de Deus, como sopro dos Seus lábios, nos indica que Ele é o autor da vida: onde está o Espírito, existe vida; onde Ele está ausente, não existe vida. De fato, quando Deus ordenou ao profeta Ezequiel que profetizasse o Espírito sobre a vida e a esperança de Israel – vida e esperança que estavam mortas –, disse: “Espírito, vem dos quatro ventos e sopra sobre esses mortos para que vivam” (Ez 37,9). O Espírito penetrou-os e eles viveram... (cf. Ez 37,10).
            Nós precisamos do Espírito Santo tanto quanto precisamos de ar para respirar e viver. Por isso, o Espírito Santo deve ser clamado, buscado, pedido. O próprio Jesus nos disse que “o Pai do céu dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem” na oração (Lc 11,13). Essa necessidade vital do Espírito Santo aparece num outro texto bíblico, quando Deus se refere à reconstrução do Templo: “Não pelo poder, não pela força, mas por meu espírito – disse o Senhor dos Exércitos” (Zc 4,6). Não pelo dinheiro, não pela influência daqueles que têm poder, mas por meu Espírito é que a sua vida estará segura. Não pela inteligência, não pela tecnologia, mas por meu Espírito é que você superará suas dificuldades. Não pela ciência, não pela medicina, mas por meu Espírito é que a sua ferida será curada. Não pelas armas, não pela violência, mas por meu Espírito é que a paz será estabelecida na terra. Não pelo sacrifício, não pela penitência, mas pela graça do meu Espírito é que você se converterá e se santificará. Não pelo reconhecimento dos homens, não pelo seu poder humano, mas por meu Espírito é que a Igreja recuperará a sua credibilidade e o sentido da sua presença no mundo.
            Quando o Espírito Santo está em nós, temos a certeza de que não estamos órfãos neste mundo, mas temos Deus por Pai, a quem clamamos “Abbá!” (cf. Rm 8,15; Gl 4,6). Quando o Espírito Santo está em nós, experimentamos Jesus como Senhor (cf. 1Cor 12,3), como Aquele a quem o Pai entregou o poder de salvar todo ser humano. O Espírito Santo é chamado por Jesus de “força do Alto” (Lc 24,49). Ele não anula a nossa fraqueza, não anula o barro que somos, mas nos socorre em nossa fraqueza e nos dá força para enfrentarmos aquilo que temos que enfrentar. Mas, atenção! O Espírito Santo jamais aceita ser em nós uma espécie de “droga” que nos anestesia e nos afasta da realidade; pelo contrário, Ele é o “Espírito da Verdade” (Jo 15,26; 16,13); a sua Verdade nos faz encarar a realidade à nossa volta e nos torna conscientes da nossa missão frente a essa mesma realidade.
Neste sentido, precisamos entender que o Espírito Santo é sinônimo de profundidade. Nós somos filhos do nosso tempo, filhos de uma cultura superficial. Tudo hoje é vivido na superficialidade, inclusive a nossa fé. No entanto, Deus não se encontra na superficialidade, assim como o sentido da nossa vida não está na superficialidade. Quem tem medo de ser profundo e insiste em permanecer na superficialidade consigo, com os outros e com Deus, jamais se encontrará com o Espírito Santo e jamais experimentará a Sua presença. Só quem tem a coragem de sair da margem e mergulhar na profundidade da vida, dos acontecimentos e dos relacionamentos experimenta a Verdade do Espírito Santo, Verdade que nos liberta e nos transforma.
Sim! O Espírito Santo é o fogo de Deus que tudo transforma – Ele foi visto como “línguas de fogo” que pousaram sobre os discípulos, no dia de Pentecostes (cf. At 2,3). Ele pode transformar o nosso coração de pedra – desumano, indiferente e insensível – num coração de carne, um coração que escolhe manter-se humano e sensível perante o seu semelhante (cf. Ez 36,26). “Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele. Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente. Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei” (Sequência de Pentecostes). O Espírito Santo transforma o nosso medo em coragem, a nossa tristeza em alegria; sobretudo, Ele dá ao nosso coração uma esperança que não é ilusória ou enganadora, uma esperança que jamais nos decepciona: “(...) a esperança não nos decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Deus quer derramar o seu Espírito sobre todo ser humano, e para recebê-Lo, basta apenas ter sede: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” disse Jesus, e Ele falou isso referindo-se ao Espírito Santo (cf. Jo 7,37.39).                 
            Depois de termos nos tornado mais conscientes da necessidade do Espírito Santo em nossa vida, perguntemo-nos até que ponto nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo (cf. Rm 8,14), até que ponto estamos dispostos a aceitar o fato de que não existe conciliação entre a verdade e a mentira, entra a justiça e a injustiça: sem fazermos uma opção clara pela verdade e pela justiça, o Espírito Santo não aceita morar em nós, como está escrito: “Pois o Espírito Santo, o educador, foge da duplicidade, ele se retira diante dos pensamentos sem sentido, ele se ofusca quando sobrevém a injustiça” (Sb 1,5). Se desejamos realmente o Espírito Santo em nossa vida, sejamos coerentes com esse nosso desejo e nos disponhamos a remover de nós tudo aquilo que tem ofuscado, apagado ou mesmo expulsado o Espírito Santo do nosso coração. “Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz! Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons... Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons... Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!” (Sequência de Pentecostes).
            Em muitos de nós há um medo inconsciente a respeito do Espírito Santo. Temos medo do que Ele possa fazer conosco e em nós; temos medo da Sua profundidade e de que Ele nos leve ao profundo de nós mesmos; temos medo de para onde Ele possa nos conduzir; temos medo da Sua liberdade, pois Ele sopra onde quer; temos medo porque não podemos controlar o Espírito... Quando esses medos forem reconhecidos e superados, quando pararmos de resistir ao Espírito Santo, quando tivermos a coragem de nos lançar nos Seus braços e de nos abrir à Sua graça, quando permitirmos que Ele penetre em nossas profundezas e toque nas nossas raízes mais profundas, então começaremos a nos tornar homens e mulheres novos, renovados, transformados...
            Oremos ao Espírito:
Brisa suave (Maria do Rosário)
Vem, Espírito Santo (Eliana Ribeiro)

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 10 de maio de 2018

A IMPORTÂNCIA DO CÉU NO HORIZONTE DA NOSSA VIDA


Missa da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Marcos 16,15-20.

            “Jesus foi levado ao céu, à vista deles” (At 1,9). Deus Pai “manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus” (Ef 1,20). “Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus” (Mc 16,19).
            Uma música muito antiga, cantada normalmente em missas para crianças, dizia: “Se você no céu conseguir entrar abra um buraquinho para eu passar”. Mas quem, no mundo de hoje, quer de fato ir para o céu? Embora desde o domingo de Páscoa a Palavra do Senhor nos fez este convite: “Buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1), nós somos fortemente influenciados pela cultura moderna, uma cultura estritamente terrena, para a qual o céu não existe. Desse modo, passamos a nossa vida não só correndo atrás da nossa sobrevivência, mas, sobretudo, tentando garantir o nosso lugar na sociedade de consumo, pois quem não consome, não existe. Isso tudo faz com que não tenhamos tempo para pensar no céu. Quando muito, lembramos e falamos do céu quando queremos consolar uma criança que perdeu o papai, ou a mamãe, ou seu bichinho de estimação. Então lhe dizemos: “Ele(a) foi morar no céu”.
            Mas, o que é o céu? Para a Sagrada Escritura, o céu é a nossa plena comunhão com Deus, quando então Ele enxugará toda lágrima dos nossos olhos, e nunca mais haverá morte, nem luto, nem dor (cf. Ap 21,4). O céu é um imenso banquete, repleto de comidas e bebidas deliciosas, um banquete preparado por Deus, para celebrar o desaparecimento total e definitivo do sofrimento e da morte (cf. Is 25,6-8). O céu é a casa do Pai, onde Jesus prepara um lugar para cada um de nós (cf. Jo 14,2). O céu é o troféu, a coroa da glória, o prêmio dado a quem lutou e perseverou até o fim, a quem combateu o bom combate, terminou a corrida e guardou a fé (cf. 2Tm 4,7). O céu é a retirada do véu que agora cobre os nossos olhos e nos impede de ver Deus face a face (cf. 1Cor 13,12). Enfim, o céu é o momento onde todas as nossas perguntas são respondidas, o momento onde o nosso corpo é totalmente redimido, transformado, glorificado (cf. Fl 3,20-21).
            Quem crê na existência do céu vive sua vida de uma outra maneira na terra. É capaz de suportar dificuldades e até mesmo injustiças, confiando no socorro, na intervenção e no julgamento de Deus. Sim, porque o céu é também o restabelecimento da justiça na terra (cf. 2Pd 3,13)! Quem crê no céu tem paciência com suas próprias fraquezas e com as fraquezas do seu semelhante, pois confia que Deus completará a obra que começou em cada um de nós (cf. Sl 138,8; Fl 1,6). Por outro lado, quem não crê no céu abandona sua fé, se corrompe nos seus valores e se torna uma pessoa fria, interesseira, egoísta e maldosa, porque não espera mais pelo prêmio da santidade e não crê mais na recompensa das almas puras (cf. Sb 2,22).              
            Ao falar da ascensão, da elevação de Jesus ao céu, o apóstolo Paulo afirma que Cristo é a Cabeça da Igreja, da qual somos os membros (cf. Ef 1,22). Ora, justamente porque a cabeça está unida ao corpo, nós podemos dizer que a ascensão de Jesus Cristo significa também a nossa vitória! Embora seja verdade que, ao subir para o céu, Jesus foi coberto por uma nuvem, de modo que nossos olhos não podem mais vê-lo (cf. At 1,9), nossa fé nos diz que ele está agora diante da face do Pai intercedendo por nós aqui na terra, como claramente afirma a carta aos Hebreus: “Cristo entrou no céu, a fim de comparecer diante da face de Deus em nosso favor” (citação livre de Hb 9,24). Por isso, compreendemos que Jesus “subiu aos céus não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (Prefácio da Ascensão do Senhor I).
            Segundo o Evangelho, antes de subir para o céu, Jesus deu uma ordem aos seus discípulos de todos os tempos: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15). Aqui entra a missão de cada um de nós: ser um sinal vivo do Evangelho, sobretudo para aqueles que convivem conosco e não têm o contato semanal com o Evangelho, como nós o temos. Mas, atenção! A nossa missão de anunciar o Evangelho a toda criatura precisa ser iluminada por uma incômoda verdade: “Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras” (frase atribuída a São Francisco de Assis). Nós falamos – ou deixamos de falar! – do Evangelho muito mais com nossas atitudes do que com nossas palavras. É bom não nos esquecer disso.
            Diante da ascensão de Jesus, os discípulos ficaram parados, olhando para o céu. Foi quando apareceram dois homens vestidos de branco, e lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). O tempo que vai desde a subida de Jesus ao céu até a sua volta é o tempo da Igreja, o nosso tempo como discípulos missionários do Evangelho, o tempo de descruzarmos os braços, arregaçarmos as mangas e trabalharmos pela evangelização/salvação da humanidade, na certeza de que o Senhor Jesus nos acompanha do céu, auxiliando-nos por meio do Espírito Santo (cf. Mc 16,20). E, por mais contraditório que isso pareça, a nossa missão consiste em ajudarmos as pessoas do nosso tempo a voltarem a olhar para o céu, a não deixarem de desejar e de buscar o céu, sabendo que somente a esperança no céu pode nos ajudar a suportar e a superar as provações e dificuldades aqui na terra; somente quem tem fé num futuro melhor pode viver intensamente e com sentido o presente; somente quem mantém o foco na meta a ser alcançada aceita enfrentar com coragem os obstáculos que possa encontrar ao longo do caminho. Portanto, não esqueçamos o céu!

            Oração: Deus Pai, abre os meus olhos, para que eu possa voltar a enxergar o céu no horizonte da minha vida. Devolve-me a consciência de que eu não sou simplesmente terreno(a); sou um(a) cidadão(ã) do céu, de onde estou aguardando o Senhor Jesus, que me resgatará e tornará o meu corpo semelhante ao seu corpo glorioso. Quero fazer a minha parte para ajudar a criar novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça.  
Senhor Jesus Cristo, embora meus olhos não possam Te ver, eu creio que o Senhor está no céu, diante da face do Pai, intercedendo por mim, e creio também que o Senhor está junto a mim, sustentando-me por meio da graça do Espírito Santo. Quero abraçar a missão de ser um sinal vivo do Teu Evangelho neste mundo, comprometido(a) com o cuidado da vida e da esperança à minha volta.
Espírito Santo, força do Alto, eleva minha mente e o meu coração! Que eu possa percorrer o meu caminho nesta terra buscando “as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). Visita todos aqueles que estão caídos, prostrados, derrubados pelo sofrimento e, sobretudo, pela injustiça dos homens. Devolve-lhes a esperança no céu, a capacidade da superação e o firme desejo de combater o bom combate, em vista de receber o prêmio do alto. Devolve-nos a todos o verdadeiro sentido do céu! Amém.

Pe. Paulo Cezar Mazzi        

quinta-feira, 3 de maio de 2018

PERMANECER NO AMOR SIGNIFICA TRANSFORMAR NOSSAS FERIDAS EM PÉROLAS


Missa do 6º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,25-26.34-35.44-48; 1João 4,7-10; João 15,9-17.

            “Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,7-8). Essas palavras do apóstolo João deixam claro que a nossa experiência de Deus depende da nossa experiência de amor. Sentir-se amado é uma necessidade básica de todo ser humano, tão básica quanto a necessidade de alimentação e de proteção. No entanto, inúmeras pessoas estão comprometidas nessa necessidade de serem amadas, seja porque nasceram e cresceram no seio de famílias desestruturadas, seja porque vivem em ambientes sociais marcados por diversos tipos de violência. Diante dessa realidade, a nossa missão como discípulos de Jesus se mostra urgente: somos chamados a ajudar as pessoas que não tiveram uma experiência saudável e autêntica de amor a transcenderem essa lacuna, assumindo a sua própria história de vida e abrindo-se ao verdadeiro amor, aquele de Deus, o amor que é Deus, amor que sempre esteve à espera de cada ser humano antes mesmo de nascer.
            Sim! O amor de Deus por nós existe antes de nós existirmos! “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10). Antes de cada ser humano existir, ele foi amado por Deus. Foi por isso que Jesus disse: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi...” (Jo 15,16). A existência de cada um de nós não é algo acidental ou fruto do acaso, mas fruto de uma escolha. Diante dessa verdade, eu até posso recusar o amor de Deus por mim, mas Ele não pode deixar de me amar porque não pode deixar de ser Deus, o Deus que é amor!
            Portanto, Jesus nos faz esse convite: “Permaneçam no meu amor” (Jo 15,9). ‘Embora vocês, como meus discípulos, terão que enfrentar a maldade e a injustiça dos homens, nunca duvidem do meu amor e do amor do meu Pai por vocês! Não se afastem desse amor e não desistam de amar as pessoas com esse mesmo amor. Se vocês deixarem de amar, deixarão de se configurarem a mim e se deformarão em caricaturas do meu amor. Amem-se uns aos outros não como vocês conseguirem, mas como eu amei vocês: eu os amei até o fim, até o sacrifício da minha própria vida. Amem-se como eu amei o Pai, permanecendo na obediência a Ele e fazendo tudo o que estava ao meu alcance para salvar as pessoas que Ele confiou aos meus cuidados. É assim que vocês são chamados a amar. É assim que vocês são chamados a testemunhar ao mundo que são meus discípulos’.
            Se é verdade que existem pessoas que ainda não fizeram uma experiência profunda e verdadeira de amor, também existem pessoas que desistiram de amar, seja porque se sentiram machucadas ou traídas por Deus, seja porque experimentaram a maldade e a injustiça dos homens (cf. Mt 24,12). Aqui precisamos olhar para Jesus: ele também se sentiu abandonado pelo próprio Pai na sua experiência de cruz (cf. Mc 15,34); ele, mais do que ninguém, sofreu a dor da rejeição, da maldade e da injustiça dos homens. Mesmo assim, Jesus fez uma escolha: escolheu amar, escolheu amar até o fim. Jesus fez como as ostras fazem: elas transformam suas feridas em pérolas. Desse modo, ele nos convida a não usar nossas feridas como justificativa para não mais amar, mas entendê-las como oportunidade para comprovarmos o nosso amor como um amor que resiste a tudo, amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta” (1Cor 13,7), porque é um amor assentado em Deus.
            “Permaneçam no meu amor... Eu lhes disse isso para que a minha alegria esteja em vocês e para que a alegria de vocês seja plena” (Jo 15,9.11). Quando nos falta uma experiência genuína de amor nos falta alegria. Não são poucas as pessoas que não veem alegria em nós cristãos. Além disso, nossas celebrações, em boa parte dos casos, não são vivenciadas com alegria e nem expressam uma autêntica alegria. “Não deixa de ser significativa a acusação de Nietzsche aos cristãos: ‘Teriam que cantar-me cantos mais alegres. Seria necessário que tivessem rostos de salvos para que eu cresse em seu Salvador’. Essas palavras... são um bom indício do que sentem não poucos diante de um cristianismo que lhes parece muito triste, sombrio e envelhecido... Digamos logo que a alegria do cristão não é fruto do bem-estar material ou gozo de uma boa saúde, nem nasce de um temperamento otimista. É consequência de uma fé viva no Deus salvador, manifestado em Jesus Cristo... Jesus pede a seus discípulos que vivam com uma grande alegria pelo único e assombroso fato de que Deus existe. Esta alegria é uma maneira de estar na vida, um modo de entender tudo e de viver tudo, inclusive os momentos maus. Cristo é sempre fonte de alegria e paz interior. Quem o segue de perto o sabe e, por sua vez, converte-se em fonte de alegria para outros” (Pe. J. A. Pagola).
            Enfim, o salmo que hoje meditamos afirma: “O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça... Os confins do universo contemplaram da salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai!” (Sl 98,2-4). Nossa missão como discípulos de Jesus é a mesma de Pedro: justamente porque “Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10,34-35), somos chamados a alcançar outros “Cornélios”, inúmeras pessoas que não são alcançadas pela “pastoral da manutenção” de nossas paróquias, pessoas às quais Deus também ama e sobre as quais Ele quer derramar o Espírito Santo como manifestação sensível do Seu amor (cf. At 10,44-45).
           
P.S. “Quando Pedro estava para entrar em casa, Cornélio saiu-lhe ao encontro, caiu a seus pés e se prostrou. Mas Pedro levantou-o, dizendo: ‘Levanta-te. Eu, também, sou apenas um homem’” (At 10,25-26). “A atitude humilde de Pedro faz-nos pensar como são ridículas e desprovidas de sentido certas tentativas de afirmação pessoal diante dos irmãos, certas poses de superioridade, a busca de privilégios e de honras, as lutas pelos primeiros lugares… Aqueles a quem, numa comunidade, foi confiada a responsabilidade de presidir, de coordenar, de organizar, de animar, devem sentir-se 'simples homens', humildes instrumentos de Deus. A sua missão é testemunhar Jesus e não procurar privilégios ou a adoração dos irmãos” (Pe. Joaquim Garrido, Pe. Manuel Barbosa, Pe. José Ornelas Carvalho – Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus – Dehonianos).

Oração: “Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,7-8). Pai, torna-me consciente do Teu amor em mim. Concede-me a graça de sentir o Teu amor a cada manhã e de viver a cada dia na força desse amor que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. Mesmo quando eu me sentir abandonado(a) por Ti e ferido(a) pela injustiça e pela maldade dos homens, que eu saiba transformar minhas feridas em pérolas.
 “Permaneçam no meu amor... Amem-se uns aos outros como eu amei vocês” (Jo 15,9.12). Senhor Jesus, ensina-me a permanecer no Teu amor e jamais duvidar dele. Que eu tenha a firme convicção de que nenhuma dor, nenhum problema, nenhuma situação difícil, de injustiça ou de sofrimento pode me separar do Teu amor por mim. Quero abraçar a missão de ser como Pedro, testemunha do Teu amor também por aquelas pessoas que ainda não foram alcançadas pela ação pastoral da nossa Igreja.
“Os fiéis de origem judaica... ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado também sobre os pagãos” (At 10,45). Espírito Santo, renova a Tua graça em nossos corações. Visita nossas paróquias e Dioceses; sopra sobre toda a nossa Igreja o Teu vento renovador, para impulsionar o anúncio do Evangelho. Que a Tua unção nos faça ir além daquilo que temos conseguido compreender, enxergar e fazer em nossa ação pastoral, para sermos testemunhas da alegria da salvação a todos os homens. Amém!  

 Pe. Paulo Cezar Mazzi