Missa da
Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios
1,17-23; Marcos 16,15-20.
“Jesus foi levado ao céu, à vista
deles” (At 1,9). Deus Pai “manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou
dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus” (Ef 1,20). “Depois de
falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à
direita de Deus” (Mc 16,19).
Uma música muito antiga, cantada
normalmente em missas para crianças, dizia: “Se você no céu conseguir entrar
abra um buraquinho para eu passar”. Mas quem, no mundo de hoje, quer de fato ir
para o céu? Embora desde o domingo de Páscoa a Palavra do Senhor nos fez este
convite: “Buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus”
(Cl 3,1), nós somos fortemente influenciados pela cultura moderna, uma cultura
estritamente terrena, para a qual o céu não existe. Desse modo, passamos a
nossa vida não só correndo atrás da nossa sobrevivência, mas, sobretudo,
tentando garantir o nosso lugar na sociedade de consumo, pois quem não consome,
não existe. Isso tudo faz com que não tenhamos tempo para pensar no céu. Quando
muito, lembramos e falamos do céu quando queremos consolar uma criança que
perdeu o papai, ou a mamãe, ou seu bichinho de estimação. Então lhe dizemos: “Ele(a)
foi morar no céu”.
Mas, o que é o céu? Para a Sagrada
Escritura, o céu é a nossa plena comunhão com Deus, quando então Ele enxugará
toda lágrima dos nossos olhos, e nunca mais haverá morte, nem luto, nem dor (cf.
Ap 21,4). O céu é um imenso banquete, repleto de comidas e bebidas deliciosas,
um banquete preparado por Deus, para celebrar o desaparecimento total e
definitivo do sofrimento e da morte (cf. Is 25,6-8). O céu é a casa do Pai,
onde Jesus prepara um lugar para cada um de nós (cf. Jo 14,2). O céu é o
troféu, a coroa da glória, o prêmio dado a quem lutou e perseverou até o fim, a
quem combateu o bom combate, terminou a corrida e guardou a fé (cf. 2Tm 4,7). O
céu é a retirada do véu que agora cobre os nossos olhos e nos impede de ver
Deus face a face (cf. 1Cor 13,12). Enfim, o céu é o momento onde todas as
nossas perguntas são respondidas, o momento onde o nosso corpo é totalmente
redimido, transformado, glorificado (cf. Fl 3,20-21).
Quem crê na existência do céu vive
sua vida de uma outra maneira na terra. É capaz de suportar dificuldades e até
mesmo injustiças, confiando no socorro, na intervenção e no julgamento de Deus.
Sim, porque o céu é também o restabelecimento da justiça na terra (cf. 2Pd
3,13)! Quem crê no céu tem paciência com suas próprias fraquezas e com as fraquezas
do seu semelhante, pois confia que Deus completará a obra que começou em cada
um de nós (cf. Sl 138,8; Fl 1,6). Por outro lado, quem não crê no céu abandona
sua fé, se corrompe nos seus valores e se torna uma pessoa fria, interesseira,
egoísta e maldosa, porque não espera mais pelo prêmio da santidade e não crê
mais na recompensa das almas puras (cf. Sb 2,22).
Ao falar da ascensão, da elevação de
Jesus ao céu, o apóstolo Paulo afirma que Cristo é a Cabeça da Igreja, da qual
somos os membros (cf. Ef 1,22). Ora, justamente porque a cabeça está unida ao
corpo, nós podemos dizer que a ascensão de Jesus Cristo significa também a
nossa vitória! Embora seja verdade que, ao subir para o céu, Jesus foi coberto
por uma nuvem, de modo que nossos olhos não podem mais vê-lo (cf. At 1,9),
nossa fé nos diz que ele está agora diante da face do Pai intercedendo por nós
aqui na terra, como claramente afirma a carta aos Hebreus: “Cristo entrou no
céu, a fim de comparecer diante da face de Deus em nosso favor” (citação livre
de Hb 9,24). Por isso, compreendemos que Jesus “subiu aos céus não para
afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá
à glória da imortalidade” (Prefácio da Ascensão do Senhor I).
Segundo o Evangelho, antes de subir
para o céu, Jesus deu uma ordem aos seus discípulos de todos os tempos: “Ide
pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15). Aqui
entra a missão de cada um de nós: ser um sinal vivo do Evangelho, sobretudo
para aqueles que convivem conosco e não têm o contato semanal com o Evangelho,
como nós o temos. Mas, atenção! A nossa missão de anunciar o Evangelho a toda
criatura precisa ser iluminada por uma incômoda verdade: “Pregue o Evangelho em
todo tempo. Se necessário, use palavras” (frase atribuída a São Francisco de
Assis). Nós falamos – ou deixamos de falar! – do Evangelho muito mais com
nossas atitudes do que com nossas palavras. É bom não nos esquecer disso.
Diante da ascensão de Jesus, os
discípulos ficaram parados, olhando para o céu. Foi quando apareceram dois
homens vestidos de branco, e lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais
aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu,
virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). O tempo que vai desde
a subida de Jesus ao céu até a sua volta é o tempo da Igreja, o nosso tempo
como discípulos missionários do Evangelho, o tempo de descruzarmos os braços,
arregaçarmos as mangas e trabalharmos pela evangelização/salvação da
humanidade, na certeza de que o Senhor Jesus nos acompanha do céu, auxiliando-nos
por meio do Espírito Santo (cf. Mc 16,20). E, por mais contraditório que isso pareça,
a nossa missão consiste em ajudarmos as pessoas do nosso tempo a voltarem a
olhar para o céu, a não deixarem de desejar e de buscar o céu, sabendo que
somente a esperança no céu pode nos ajudar a suportar e a superar as provações
e dificuldades aqui na terra; somente quem tem fé num futuro melhor pode viver
intensamente e com sentido o presente; somente quem mantém o foco na meta a ser
alcançada aceita enfrentar com coragem os obstáculos que possa encontrar ao
longo do caminho. Portanto, não esqueçamos o céu!
Oração:
Deus Pai, abre os meus olhos, para que eu possa voltar a enxergar o céu no
horizonte da minha vida. Devolve-me a consciência de que eu não sou
simplesmente terreno(a); sou um(a) cidadão(ã) do céu, de onde estou aguardando
o Senhor Jesus, que me resgatará e tornará o meu corpo semelhante ao seu corpo
glorioso. Quero fazer a minha parte para ajudar a criar novos céus e uma
nova terra, onde habitará a justiça.
Senhor
Jesus Cristo, embora meus olhos não possam Te ver, eu creio que o Senhor está no
céu, diante da face do Pai, intercedendo por mim, e creio também que o Senhor
está junto a mim, sustentando-me por meio da graça do Espírito Santo. Quero
abraçar a missão de ser um sinal vivo do Teu Evangelho neste mundo,
comprometido(a) com o cuidado da vida e da esperança à minha volta.
Espírito
Santo, força do Alto, eleva minha mente e o meu coração! Que eu possa percorrer
o meu caminho nesta terra buscando “as coisas do alto, onde Cristo está sentado
à direita de Deus” (Cl 3,1). Visita todos aqueles que estão caídos, prostrados,
derrubados pelo sofrimento e, sobretudo, pela injustiça dos homens. Devolve-lhes
a esperança no céu, a capacidade da superação e o firme desejo de combater o
bom combate, em vista de receber o prêmio do alto. Devolve-nos a todos o
verdadeiro sentido do céu! Amém.
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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