quinta-feira, 10 de maio de 2018

A IMPORTÂNCIA DO CÉU NO HORIZONTE DA NOSSA VIDA


Missa da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Marcos 16,15-20.

            “Jesus foi levado ao céu, à vista deles” (At 1,9). Deus Pai “manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus” (Ef 1,20). “Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus” (Mc 16,19).
            Uma música muito antiga, cantada normalmente em missas para crianças, dizia: “Se você no céu conseguir entrar abra um buraquinho para eu passar”. Mas quem, no mundo de hoje, quer de fato ir para o céu? Embora desde o domingo de Páscoa a Palavra do Senhor nos fez este convite: “Buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1), nós somos fortemente influenciados pela cultura moderna, uma cultura estritamente terrena, para a qual o céu não existe. Desse modo, passamos a nossa vida não só correndo atrás da nossa sobrevivência, mas, sobretudo, tentando garantir o nosso lugar na sociedade de consumo, pois quem não consome, não existe. Isso tudo faz com que não tenhamos tempo para pensar no céu. Quando muito, lembramos e falamos do céu quando queremos consolar uma criança que perdeu o papai, ou a mamãe, ou seu bichinho de estimação. Então lhe dizemos: “Ele(a) foi morar no céu”.
            Mas, o que é o céu? Para a Sagrada Escritura, o céu é a nossa plena comunhão com Deus, quando então Ele enxugará toda lágrima dos nossos olhos, e nunca mais haverá morte, nem luto, nem dor (cf. Ap 21,4). O céu é um imenso banquete, repleto de comidas e bebidas deliciosas, um banquete preparado por Deus, para celebrar o desaparecimento total e definitivo do sofrimento e da morte (cf. Is 25,6-8). O céu é a casa do Pai, onde Jesus prepara um lugar para cada um de nós (cf. Jo 14,2). O céu é o troféu, a coroa da glória, o prêmio dado a quem lutou e perseverou até o fim, a quem combateu o bom combate, terminou a corrida e guardou a fé (cf. 2Tm 4,7). O céu é a retirada do véu que agora cobre os nossos olhos e nos impede de ver Deus face a face (cf. 1Cor 13,12). Enfim, o céu é o momento onde todas as nossas perguntas são respondidas, o momento onde o nosso corpo é totalmente redimido, transformado, glorificado (cf. Fl 3,20-21).
            Quem crê na existência do céu vive sua vida de uma outra maneira na terra. É capaz de suportar dificuldades e até mesmo injustiças, confiando no socorro, na intervenção e no julgamento de Deus. Sim, porque o céu é também o restabelecimento da justiça na terra (cf. 2Pd 3,13)! Quem crê no céu tem paciência com suas próprias fraquezas e com as fraquezas do seu semelhante, pois confia que Deus completará a obra que começou em cada um de nós (cf. Sl 138,8; Fl 1,6). Por outro lado, quem não crê no céu abandona sua fé, se corrompe nos seus valores e se torna uma pessoa fria, interesseira, egoísta e maldosa, porque não espera mais pelo prêmio da santidade e não crê mais na recompensa das almas puras (cf. Sb 2,22).              
            Ao falar da ascensão, da elevação de Jesus ao céu, o apóstolo Paulo afirma que Cristo é a Cabeça da Igreja, da qual somos os membros (cf. Ef 1,22). Ora, justamente porque a cabeça está unida ao corpo, nós podemos dizer que a ascensão de Jesus Cristo significa também a nossa vitória! Embora seja verdade que, ao subir para o céu, Jesus foi coberto por uma nuvem, de modo que nossos olhos não podem mais vê-lo (cf. At 1,9), nossa fé nos diz que ele está agora diante da face do Pai intercedendo por nós aqui na terra, como claramente afirma a carta aos Hebreus: “Cristo entrou no céu, a fim de comparecer diante da face de Deus em nosso favor” (citação livre de Hb 9,24). Por isso, compreendemos que Jesus “subiu aos céus não para afastar-se de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (Prefácio da Ascensão do Senhor I).
            Segundo o Evangelho, antes de subir para o céu, Jesus deu uma ordem aos seus discípulos de todos os tempos: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15). Aqui entra a missão de cada um de nós: ser um sinal vivo do Evangelho, sobretudo para aqueles que convivem conosco e não têm o contato semanal com o Evangelho, como nós o temos. Mas, atenção! A nossa missão de anunciar o Evangelho a toda criatura precisa ser iluminada por uma incômoda verdade: “Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras” (frase atribuída a São Francisco de Assis). Nós falamos – ou deixamos de falar! – do Evangelho muito mais com nossas atitudes do que com nossas palavras. É bom não nos esquecer disso.
            Diante da ascensão de Jesus, os discípulos ficaram parados, olhando para o céu. Foi quando apareceram dois homens vestidos de branco, e lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). O tempo que vai desde a subida de Jesus ao céu até a sua volta é o tempo da Igreja, o nosso tempo como discípulos missionários do Evangelho, o tempo de descruzarmos os braços, arregaçarmos as mangas e trabalharmos pela evangelização/salvação da humanidade, na certeza de que o Senhor Jesus nos acompanha do céu, auxiliando-nos por meio do Espírito Santo (cf. Mc 16,20). E, por mais contraditório que isso pareça, a nossa missão consiste em ajudarmos as pessoas do nosso tempo a voltarem a olhar para o céu, a não deixarem de desejar e de buscar o céu, sabendo que somente a esperança no céu pode nos ajudar a suportar e a superar as provações e dificuldades aqui na terra; somente quem tem fé num futuro melhor pode viver intensamente e com sentido o presente; somente quem mantém o foco na meta a ser alcançada aceita enfrentar com coragem os obstáculos que possa encontrar ao longo do caminho. Portanto, não esqueçamos o céu!

            Oração: Deus Pai, abre os meus olhos, para que eu possa voltar a enxergar o céu no horizonte da minha vida. Devolve-me a consciência de que eu não sou simplesmente terreno(a); sou um(a) cidadão(ã) do céu, de onde estou aguardando o Senhor Jesus, que me resgatará e tornará o meu corpo semelhante ao seu corpo glorioso. Quero fazer a minha parte para ajudar a criar novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça.  
Senhor Jesus Cristo, embora meus olhos não possam Te ver, eu creio que o Senhor está no céu, diante da face do Pai, intercedendo por mim, e creio também que o Senhor está junto a mim, sustentando-me por meio da graça do Espírito Santo. Quero abraçar a missão de ser um sinal vivo do Teu Evangelho neste mundo, comprometido(a) com o cuidado da vida e da esperança à minha volta.
Espírito Santo, força do Alto, eleva minha mente e o meu coração! Que eu possa percorrer o meu caminho nesta terra buscando “as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). Visita todos aqueles que estão caídos, prostrados, derrubados pelo sofrimento e, sobretudo, pela injustiça dos homens. Devolve-lhes a esperança no céu, a capacidade da superação e o firme desejo de combater o bom combate, em vista de receber o prêmio do alto. Devolve-nos a todos o verdadeiro sentido do céu! Amém.

Pe. Paulo Cezar Mazzi        

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