Missa de
Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13;
João 20,19-23.
“Então o Senhor Deus modelou o homem
com a argila do solo, insuflou em
suas narinas um hálito de vida e o
homem se tornou um ser vivente” (Gn 2,7). “Envias teu sopro e eles são criados, e assim renovas a face da terra” (Sl
104,30). “Quando chegou o dia de Pentecostes,... veio do céu um barulho como se
fosse uma forte ventania, que encheu
a casa onde eles se encontravam” (At 2,1-2). Jesus “soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20,22).
Falar do Espírito Santo é como falar
do vento (cf. Jo 3,8): não podemos vê-lo, nem descrevê-lo em si mesmo; só
podemos falar dos seus efeitos, só podemos tentar descrever aquilo que o vento
provoca por onde passa. A imagem bíblica do Espírito Santo como respiro de
Deus, como sopro dos Seus lábios, nos indica que Ele é o autor da vida: onde
está o Espírito, existe vida; onde Ele está ausente, não existe vida. De fato,
quando Deus ordenou ao profeta Ezequiel que profetizasse o Espírito sobre a
vida e a esperança de Israel – vida e esperança que estavam mortas –, disse:
“Espírito, vem dos quatro ventos e sopra sobre esses mortos para que vivam” (Ez
37,9). O Espírito penetrou-os e eles viveram... (cf. Ez 37,10).
Nós precisamos do Espírito Santo
tanto quanto precisamos de ar para respirar e viver. Por isso, o Espírito Santo
deve ser clamado, buscado, pedido. O próprio Jesus nos disse que “o Pai do céu dará
o Espírito Santo àqueles que o pedirem” na oração (Lc 11,13). Essa necessidade vital
do Espírito Santo aparece num outro texto bíblico, quando Deus se refere à
reconstrução do Templo: “Não pelo poder, não pela força, mas por meu espírito –
disse o Senhor dos Exércitos” (Zc 4,6). Não pelo dinheiro, não pela influência
daqueles que têm poder, mas por meu Espírito é que a sua vida estará segura.
Não pela inteligência, não pela tecnologia, mas por meu Espírito é que você superará
suas dificuldades. Não pela ciência, não pela medicina, mas por meu Espírito é
que a sua ferida será curada. Não pelas armas, não pela violência, mas por meu
Espírito é que a paz será estabelecida na terra. Não pelo sacrifício, não pela
penitência, mas pela graça do meu Espírito é que você se converterá e se santificará.
Não pelo reconhecimento dos homens, não pelo seu poder humano, mas por meu
Espírito é que a Igreja recuperará a sua credibilidade e o sentido da sua
presença no mundo.
Quando o Espírito Santo está em nós,
temos a certeza de que não estamos órfãos neste mundo, mas temos Deus por Pai,
a quem clamamos “Abbá!” (cf. Rm 8,15; Gl 4,6). Quando o Espírito Santo está em
nós, experimentamos Jesus como Senhor (cf. 1Cor 12,3), como Aquele a quem o Pai
entregou o poder de salvar todo ser humano. O Espírito Santo é chamado por
Jesus de “força do Alto” (Lc 24,49). Ele não anula a nossa fraqueza, não anula
o barro que somos, mas nos socorre em nossa fraqueza e nos dá força para
enfrentarmos aquilo que temos que enfrentar. Mas, atenção! O Espírito Santo jamais
aceita ser em nós uma espécie de “droga” que nos anestesia e nos afasta da
realidade; pelo contrário, Ele é o “Espírito da Verdade” (Jo 15,26; 16,13); a
sua Verdade nos faz encarar a realidade à nossa volta e nos torna conscientes
da nossa missão frente a essa mesma realidade.
Neste
sentido, precisamos entender que o Espírito Santo é sinônimo de profundidade.
Nós somos filhos do nosso tempo, filhos de uma cultura superficial. Tudo hoje é
vivido na superficialidade, inclusive a nossa fé. No entanto, Deus não se
encontra na superficialidade, assim como o sentido da nossa vida não está na
superficialidade. Quem tem medo de ser profundo e insiste em permanecer na
superficialidade consigo, com os outros e com Deus, jamais se encontrará com o
Espírito Santo e jamais experimentará a Sua presença. Só quem tem a coragem de
sair da margem e mergulhar na profundidade da vida, dos acontecimentos e dos
relacionamentos experimenta a Verdade do Espírito Santo, Verdade que nos
liberta e nos transforma.
Sim!
O Espírito Santo é o fogo de Deus que tudo transforma – Ele foi visto como “línguas
de fogo” que pousaram sobre os discípulos, no dia de Pentecostes (cf. At 2,3).
Ele pode transformar o nosso coração de pedra – desumano, indiferente e
insensível – num coração de carne, um coração que escolhe manter-se humano e
sensível perante o seu semelhante (cf. Ez 36,26). “Sem a luz que acode, nada o
homem pode, nenhum bem há nele. Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente. Dobrai
o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei” (Sequência de Pentecostes). O Espírito Santo transforma o nosso medo
em coragem, a nossa tristeza em alegria; sobretudo, Ele dá ao nosso coração uma
esperança que não é ilusória ou enganadora, uma esperança que jamais nos
decepciona: “(...) a esperança não nos decepciona, porque o amor de Deus foi
derramado em nossos coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Deus
quer derramar o seu Espírito sobre todo ser humano, e para recebê-Lo, basta
apenas ter sede: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” disse Jesus, e Ele
falou isso referindo-se ao Espírito Santo (cf. Jo 7,37.39).
Depois de termos nos tornado mais
conscientes da necessidade do Espírito Santo em nossa vida, perguntemo-nos até
que ponto nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo (cf. Rm 8,14), até que
ponto estamos dispostos a aceitar o fato de que não existe conciliação entre a verdade
e a mentira, entra a justiça e a injustiça: sem fazermos uma opção clara pela
verdade e pela justiça, o Espírito Santo não aceita morar em nós, como está
escrito: “Pois o Espírito Santo, o educador, foge da duplicidade, ele se retira
diante dos pensamentos sem sentido, ele se ofusca quando sobrevém a injustiça”
(Sb 1,5). Se desejamos realmente o Espírito Santo em nossa vida, sejamos
coerentes com esse nosso desejo e nos disponhamos a remover de nós tudo aquilo
que tem ofuscado, apagado ou mesmo expulsado o Espírito Santo do nosso coração.
“Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz! Vinde, Pai dos pobres, dai
aos corações vossos sete dons... Dai à vossa Igreja, que espera e deseja,
vossos sete dons... Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!” (Sequência de Pentecostes).
Em muitos de nós há um medo inconsciente
a respeito do Espírito Santo. Temos medo do que Ele possa fazer conosco e em
nós; temos medo da Sua profundidade e de que Ele nos leve ao profundo de nós
mesmos; temos medo de para onde Ele possa nos conduzir; temos medo da Sua
liberdade, pois Ele sopra onde quer; temos medo porque não podemos controlar o
Espírito... Quando esses medos forem reconhecidos e superados, quando pararmos
de resistir ao Espírito Santo, quando tivermos a coragem de nos lançar nos Seus
braços e de nos abrir à Sua graça, quando permitirmos que Ele penetre em nossas
profundezas e toque nas nossas raízes mais profundas, então começaremos a nos
tornar homens e mulheres novos, renovados, transformados...
Oremos ao Espírito:
Brisa suave (Maria do
Rosário)
Vem, Espírito Santo (Eliana Ribeiro)
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
ótimas suas reflexões e suas aplicações. Avante!
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