sexta-feira, 27 de outubro de 2017

AMAR DEIXOU DE SER ESPONTÂNEO E NATURAL EM NÓS

Missa do 30º. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 22,20-26; 1Tessalonicenses 5,1c-10; Mateus 22,34-40.

            Antes de considerarmos o ensinamento de Jesus no Evangelho, precisamos nos colocar diante da definição bíblica mais importante e ao mesmo tempo mais simples a respeito de Deus: “Quem não ama não conheceu a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,8). Isso significa que a nossa experiência de Deus está diretamente relacionada com a nossa experiência de amar e sermos amados. Toda ferida, todo bloqueio, todo trauma e, sobretudo, a ausência de uma experiência afetiva significativa, dificulta grandemente uma pessoa de fazer na sua vida uma experiência de Deus, simplesmente porque Deus é amor; não esse amor adoecido por interesses egoístas dos tempos atuais, mas o verdadeiro amor, amor que não busca seu próprio interesse, que nada faz de inconveniente ou de injusto, amor que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, amor que jamais deixará de amar (cf. 1Cor 13,5.7).
            Se é verdade que nem todo ser humano nasce de um ato genuíno de amor entre um homem e uma mulher, muito mais verdadeiro é o fato de que a existência de todo ser humano é fruto do amor de Deus: antes de criar o mundo, Ele nos amou e nos convidou a viver sob o seu olhar de Pai que nos ama (cf. Ef 1,4). Portanto, quaisquer que sejam as feridas que inúmeras pessoas carregam na tentativa de amarem e serem amadas, a verdade de fundo permanece: todo ser humano existe porque Deus o ama. “Sim, tu amas tudo o que criaste... Se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito” (Sb 11,26).
            Vamos, então, nos aproximar do apelo do Evangelho, que nos fala do amor a Deus e do amor ao próximo como os dois mandamentos principais da Sagrada Escritura. Por que o amor nos é apresentado como um “mandamento”, e não como um convite ou uma proposta? Porque, devido ao egoísmo do coração humano, o amor deixou de ser algo espontâneo em nós; espontâneo em nós passou a ser o ressentimento, a mágoa, a raiva, o fechamento, o desejo de nos afastar de determinadas pessoas que feriram o nosso amor. Ao nos falar do amor a Deus e ao próximo como os dois principais mandamentos, como a essência de tudo o que está na Escritura, Jesus nos ensina que o sentido da vida não consiste em fazermos apenas aquilo que temos vontade, mas em fazermos aquilo que é necessário para o bem, o crescimento, a cura e a salvação nossa, das outras pessoas e do mundo em que vivemos.
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!” (Mt 22,37). Muitas pessoas não conseguem amar a Deus porque se sentem feridas por Ele. Deus as decepcionou; Ele permitiu que um grande mal ou uma grande injustiça as atingisse ou atingisse alguém que elas amam. Muitas pessoas, antes de pensarem na possibilidade de amar a Deus, precisam enfrentar a raiva que têm d’Ele. Assim como Jacó, elas precisam “lutar” com Deus (cf. Gn 32,23-33), até que consigam purificar a imagem que têm d’Ele e compreenderem que, apesar de tudo o que Deus permitiu que lhes acontecesse, Ele é verdadeiramente Alguém que as ama profunda e incondicionalmente, e que cuida delas, sobretudo quando acreditam que foram absolutamente abandonadas ou esquecidas por Ele.   
            Eis um “desabafo” de Deus: “O vosso amor é como a neblina da manhã, como o orvalho que cedo desaparece” (Os 6,4). Sabemos muito bem o quanto o nosso amor a Deus é inconsistente: basta que o sol fique mais forte, para que a neblina se dissipe e o orvalho evapore; basta que algo desagradável nos aconteça, basta que Deus frustre algumas das nossas expectativas, e nós rapidamente deixamos de amá-Lo. Um dos nossos erros é condicionar o nosso amor a Deus à expectativa de que Ele sempre vai fazer o que estamos esperando que nos faça. Outro erro é construir o nosso relacionamento com Ele baseado em práticas religiosas que, no fundo, não se traduzem em amor, esquecendo-nos do que Deus mesmo disse: “Eu quero amor e não sacrifícios” (Os 6,6). Qualquer sacrifício que possamos oferecer a Deus só tem sentido se nascer do nosso amor para com Ele, e não da nossa tentativa de dobrá-Lo aos nossos interesses.
            Eis o segundo mandamento, que Jesus coloca na mesma importância do primeiro: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). Segundo o texto que ouvimos do livro do Êxodo, o próximo é toda pessoa que necessita de nós. Geralmente, o próximo é toda pessoa com a qual não escolhemos conviver, mas que a vida coloca em nosso caminho por algum motivo. E Jesus nos lembra que o próximo é alguém como nós: uma pessoa necessitada de amor, de compreensão, de correção, de paciência, de tolerância. Assim como nós, ele também carrega dentro de si os seus erros e acertos na tentativa de amar e no seu desejo de ser amado. Enfim, se algo pode nos ajudar nessa tarefa de amar o próximo é aprender a acolher as pessoas como elas são e não como gostaríamos que elas fossem.
Se nós, diante daquilo que Jesus acabou de nos apresentar como a essência da nossa religião, quisermos recolocar os pés na estrada do amor, precisamos considerar algo muito sério: nos tempos atuais, o nosso esforço em amar foi reduzido às nossas emoções, e as emoções não sustentam compromisso nenhum, porque são instáveis e passageiras. Portanto, o convite de Jesus é que nosso amor não se prenda às nossas emoções e não fique refém delas, mas amadureça no compromisso que somos chamados a abraçar em relação a Deus e ao nosso próximo.
Uma última questão bastante importante: antes de uma pessoa deixar de crer em Deus, ela deixa de amá-Lo. É perfeitamente possível – e isso acontece com muitos de nós – que passemos a vida toda crendo em Deus, mas não amando-O, e quando nós seguimos pela vida crendo em Deus sem amá-Lo, acabamos por desenvolver com Ele um relacionamento baseado na tristeza, na amargura, na desconfiança, no medo; se ainda O procuramos e se não O abandonamos de vez não é por amor, mas por medo de que as coisas fiquem piores para nós. Jesus quer nos ajudar a passar do medo para o amor, do sentimento de frieza ou de indiferença religiosa para a certeza de que Deus é amor e só nos abrindo ao amor poderemos experimentá-Lo como o Deus vivo e verdadeiro.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Meu Deus (Dom)
 
Pra saber por onde vou preciso perceber Você. Sua paz e sua voz precisam me alcançar. Pra saber qual rumo é o melhor preciso Lhe encontrar. Meu querer se torna o pior se eu não Lhe escutar.

É o meu Deus, meu amigo, meu Amado. É o meu Deus que me acolhe em cada dia, em cada passo. Meu rumo lhe pertence, a minha vida. É o meu Deus..

Quando me perco na fraqueza Você é minha força. Quando tropeço e me abalo sei que me amparas.
Quando erro, derrama sua graça, encerra minha busca. Me socorre. Se em nós há uma pergunta, Você é minha resposta.

https://www.youtube.com/watch?v=TQyoMif0ODo

Nenhum comentário:

Postar um comentário