Missa
do 27º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 5,1-7; Filipenses 4,6-9; Mateus
21,33-43.
Tanto
o texto do profeta Isaías quanto o do Evangelho que acabamos de ouvir comparam
o ser humano a uma vinha, ou seja, uma plantação de uva. Desde o momento da
concepção, essa “plantação” foi cuidada, adubada, regada, protegida por Deus.
Tudo foi pensado e preparado pelo Criador para que o ser humano fosse fecundo e
desenvolvesse toda a sua capacidade de se tornar uma pessoa correta, justa,
bondosa, solidária e pacífica. Mas, eis a surpresa: o ser humano – sobretudo o
homem atual – decidiu romper com Deus, não admitindo depender d’Ele, não
aceitando mais ser cuidado, cultivado, muito menos podado nos seus desejos
egoístas e corrigido por Deus na sua Palavra. E o que Deus decidiu fazer? Ele
decidiu respeitar a liberdade de cada pessoa: “Então eu os entreguei à teimosia
do seu coração. Que sigam seus próprios caprichos!” (Sl 81,13).
Olhemos
para essa grande vinha de Deus, que é a humanidade. O que vemos nela? Pessoas “pisoteadas” pelo
mal, vidas arruinadas pelas drogas (incluindo o cigarro e a bebida alcoólica),
famílias desestruturadas, seja pela fragilidade do vínculo conjugal, seja pela
exposição constante às injustiças sociais como a violência, a pobreza, as
dívidas, o desemprego ou o subemprego... Além disso, algumas pessoas se
tornaram vinhas pisoteadas por “animais selvagens”, seja por causa do
individualismo dos cristãos dos tempos atuais, seja por causa das autoridades
que desviam os recursos públicos para suas contas particulares, não “sobrando”
dinheiro para investir na saúde, na educação e na segurança da vinha.
Mas
existe ainda uma situação particular: pessoas que, como já foi lembrado acima,
expulsaram de suas próprias vinhas o Agricultor (Deus), por não aceitarem ser
cuidadas, podadas, cultivadas pela Palavra de Deus. Deus poderia curá-las, mas
elas dizem: “Nós não estamos doentes!”. Deus poderia libertá-las dos seus
enganos, mas elas dizem: “Nós temos nossa própria verdade!”. Deus poderia
protegê-las dos animais selvagens, mas elas decidiram adotar esses animais como
seus “bichos de estimação”. São pessoas que dizem acreditar em Deus, mas não
admitem ser corrigidas ou orientadas pela sua Palavra. E com isso, elas se
tornaram vinhas infestadas pelo mato, pelas pragas e pelas doenças (comportamentos
doentios).
Como
está sua vinha? Como está a vinha que você é? Existe cerca em volta dela? Você
se deixa cuidar por Deus? Você faz da obediência à palavra de Deus a sua
proteção contra a inversão de valores que atualmente devasta a vida de inúmeras
pessoas? Você se permite ser podado por Deus nos seus desejos egoístas? Você
aceita quando a palavra de Deus lhe diz ‘não’, um ‘não’ que atinge em cheio a
maneira como você lida com a sua afetividade, a sua sexualidade, a forma como
você lida com o dinheiro e a forma como você trata as pessoas no dia a dia? Você
ainda teme e procura se proteger contra os animais selvagens, isto é, os
contra-valores do mundo atual, ou você já os adotou como seus bichos de
estimação? Você se incomoda ao ver tantos ramos da sua vinha enfraquecidos, com
quase nenhum fruto ou com frutos doentes, estragados? Você reconhece a sua
parcela de responsabilidade na devastação da sua vinha, ou simplesmente tem
acusado Deus de ter abandonado a vinha que você é?
Eis
a oração do salmista: “Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos
céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a! (...) Convertei-nos, ó
Senhor Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para
nós, seremos salvos!” (Sl 80,8.20). A devastação de grande parte da natureza, a
devastação de inúmeras famílias, a devastação da vida em sociedade, a
devastação sempre mais crescente da consciência das novas gerações hoje não é
fruto da indiferença de Deus para com a humanidade, mas fruto da obstinação do
ser humano em não aceitar ser cuidado por Deus, a obstinação em não admitir que
nenhuma igreja ou nenhuma religião lhe diga o que é certo e o que é errado, a
obstinação em seguir cegamente os seus próprios caprichos. Essa obstinação tem
feito estragos muito grandes na vida pessoal e social do ser humano, e o
caminho é um só: conversão. Nós precisamos nos voltar para Deus e suplicar que
Ele se volte para nós e nos dê a salvação. Nós precisamos suplicar que Deus
não nos abandone a nós mesmos e à desorientação da nossa consciência e do nosso
coração, tornados cegos pelo nosso egoísmo.
Mesmo
constatando a devastação dessa imensa vinha que é a humanidade, o aposto Paulo
afirma que não podemos nos deixar contaminar pela tristeza, pelo abatimento ou
pelo desânimo. Se há muitas coisas que nesse momento nos preocupam e angustiam,
devemos apresentá-las a Deus em oração. Ele é o Pai de cada ser humano, mesmo
daquele que não crê; Ele é o Agricultor de toda vinha, até mesmo daquela que
Lhe rejeitou e O expulsou, não admitindo mais ser cuidada por Ele. Hoje nós clamamos
ao Pai e Agricultor que derrame o seu Espírito sobre todo ser humano, sobre
essa imensa vinha que é a humanidade, pois só o Espírito Santo pode convencer o
mundo a respeito do pecado (cf. Jo 16,8), ou seja, pode convencer cada pessoa a
se dar conta do caminho de autodestruição que está trilhando e desejar ter novamente
sua cerca reerguida, seu mato podado, sua praga exterminada, sua doença curada
e sua fecundidade restabelecida.
Por
fim, nos orienta ainda o apóstolo, que procuremos pautar a nossa vida pelos
valores como verdade, justiça, honra, bondade, lealdade, coerência. Desse modo,
não precisaremos ouvir o que os sacerdotes do tempo de Jesus tiveram que ouvir:
“o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá
frutos” (Mt 21,43). Entreguemos ao nosso Pai e Agricultor o jardim da nossa
consciência e do nosso coração:
Eu sou um jardim (Adriana)
Nenhum comentário:
Postar um comentário