quinta-feira, 12 de outubro de 2017

PREPARE SUA ROUPA DE FESTA!

Missa do 28º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 25,6-10a.; Filipenses 4,12-14.19-20; Mateus 22,1-14.

            Para falar do propósito de Deus em salvar a humanidade, a Sagrada Escritura escolheu usar a imagem da festa: um grande banquete, no qual se oferecem comidas e bebidas deliciosas e em abundância. Um detalhe importante: este banquete é oferecido a todos os povos, o que significa dizer que a salvação de Deus não está restrita a uma igreja ou a uma religião. Toda igreja e toda religião devem estar a serviço do propósito de Deus em salvar o ser humano, exatamente como os servos na parábola do Evangelho, responsáveis por convidar as pessoas para a festa de casamento do filho do rei.
            A imagem do banquete ou da festa fala, em primeiro lugar, da gratuidade da salvação: da mesma forma que para essa festa ou esse banquete não há ingresso, não há dinheiro a ser pago, Deus oferece Sua salvação como puro dom ao ser humano. Mas aqui acontece algo estranho, retratado por Jesus no Evangelho: muitas pessoas rejeitam o convite para a festa, porque estão ocupadas com suas próprias coisas. São pessoas que alegam não ter tempo para Deus. Elas precisam trabalhar para ganhar dinheiro; precisam estudar para alcançar suas metas profissionais; o tempo delas está totalmente ocupado e preenchido com sua mais nova aquisição – seu mais novo carro, sua mais nova casa, seu mais novo celular ou computador, sua mais nova TV, seu mais novo “brinquedo”...
            Mas a imagem do banquete ou da festa fala também da alegria. A salvação é descrita na Sagrada Escritura como sinônimo de festa, de alegria e de abundância. E aqui nós, Igreja, temos que reconhecer que muitas vezes colaboramos para as pessoas não irem às nossas “festas”, isto é, às nossas celebrações e outras atividades pastorais, pois elas são, via de regra, chatas, enfadonhas, cansativas, marcadas pela mesmice, desprovidas de alegria, de gratuidade e de criatividade. Além disso, são celebrações ou atividades pastorais conduzidas algumas vezes por uma pessoa cansada, triste, desanimada ou até mesmo mal-humorada.
            Muitos reagirão a isso dizendo que a Igreja não é um circo, um lugar para show, e que muitas pessoas hoje estão atrás de espetáculo, de eventos que lhes causem emoção. Embora isso tenha um fundo de verdade, precisamos ter a coragem de reconhecer que muitos ministros de Deus e agentes de pastoral hoje servem a Deus como se fossem “coveiros” (peço perdão aos coveiros, por mencioná-los aqui no sentido negativo); são pessoas incapazes de suscitar alegria e esperança naqueles que as escutam falar sobre Deus, justamente o contrário do que fez o profeta Isaías, quando anunciou Deus como Aquele que é capaz de eliminar a morte e enxugar a lágrima de todas as faces – de todas, não apenas de algumas – o Deus em quem vale a pena esperar: “Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou; este é o Senhor, nele temos confiado: vamos alegrar-nos e exultar por nos ter salvo” (Is 26,9).
            Retornando ao Evangelho, Jesus nos ensina que, embora muitas pessoas escolham ignorar Deus no Seu propósito de lhes oferecer a alegria da salvação, Ele continuará a fazer essa mesma oferta a todo e qualquer ser humano: “A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide até as encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes” (Mt 22,8-9). É assim que Deus quer a nossa Igreja, uma “Igreja em saída”, cujos ministros e agentes de pastoral não permaneçam fechados na sacristia ou em suas casas, mas saiam e se dirijam às periferias existenciais, como nos pede o Papa Francisco: “Saiamos, saiamos para levar a todos a vida de Jesus Cristo! (...) Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida” (A alegria do Evangelho, n.49).  
            Segundo a parábola contada por Jesus, a “insistência” de Deus em oferecer a salvação a todo ser humano deu certo: “a sala da festa ficou cheia de convidados” (Mt 22,10). Porém, “quando o rei entrou para ver os convidados, observou ali um homem que não estava usando traje de festa” (Mt 22,11). Para entendermos o significado deste “traje de festa”, precisamos recorrer ao livro do Apocalipse: trata-se do comportamento justo da pessoa que professa a sua fé em Deus e em seu Filho Jesus Cristo (cf. Ap 19,8). Dizendo de outro modo, embora a salvação seja gratuita e destinada a todas as pessoas, todo aquele que se recusa a praticar a justiça – todo aquele que não se preocupa em se tornar uma pessoa justa – se exclui da presença de Deus. De fato, a Sagrada Escritura deixa claro o quanto Deus aprecia o comportamento justo: “Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, em qualquer nação, quem o respeita e pratica a justiça lhe é agradável” (At 10,34-35).
            Esta cena trágica no final do Evangelho – um homem sendo retirado da sala da festa e jogado fora, na escuridão (cf. v.13), nos assusta. Tal atitude de Deus – representado pelo rei na parábola – parece contradizer todo o Seu esforço em fazer com que a sala ficasse cheia de convidados. Parece não fazer sentido Deus colocar em ação o Seu grande desejo de que “todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4), e depois excluir da salvação uma pessoa, ainda mais por um motivo aparentemente banal, como a roupa inadequada. Mas essa aparente contradição é proposital: para nós, que hoje ouvimos essa parábola contada por Jesus, precisa ficar claro o quanto nós podemos chegar ao absurdo de nos excluir da salvação, pelo fato de querermos, sim, participar do banquete no Reino de Deus, desde que não tenhamos que nos esforçar minimamente em ajustar a nossa vida à justiça e à santidade do nosso Deus.
            Por mais que a Sagrada Escritura afirme que nós somos salvos por pura graça de Deus (cf. Ef 2,5.8), a salvação não é algo que acontece “passivamente” na nossa vida, à revelia da nossa vontade, sem a nossa colaboração, sem a nossa aceitação, sem o envolvimento da nossa consciência e do nosso coração. Já dizia Santo Agostinho: “Deus, que te criou sem ti, não te salva sem ti”. Aquele que preparou uma grande festa, um grande banquete no seu Reino para todos os povos, é o mesmo Deus que conhece o homem por dentro e que determinou que nada de impuro entrará no Seu Reino (cf. Ap 21,27). Deixemos, portanto, nos revestir da justiça e da santidade do nosso Deus, procurando ajustar o nosso comportamento ao que o Seu Filho nos ensina diariamente no Evangelho.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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