Missa
do 26º. dom. comum. Palavra de Deus: Ezequiel 18,25-28; Filipenses 2,1-11;
Mateus 21,28-32.
O nosso ‘sim’ pode se tornar ‘não’,
assim como o nosso ‘não’ pode se tornar ‘sim’. Nós certamente conhecemos
pessoas que, num momento de grande alegria e entusiasmo disseram ‘sim’ a uma
proposta de vida, como o casamento ou a vida consagrada, por exemplo, mas que,
quando chegou o momento da dor, do sofrimento, da aridez ou da ausência de
felicidade, mudaram de resposta e disseram ‘não’ ao compromisso que antes
haviam assumido.
O
Evangelho de hoje nos coloca diante de uma inquietante verdade: nossas respostas
podem mudar com o passar do tempo. Isso, em si, não é ruim; depende do motivo
pelo qual mudamos nossas respostas. Uma pessoa pode passar anos e anos da sua
vida tendo um comportamento doentio para consigo mesma e destrutivo para com os
outros, mas, de repente, decidir mudar sua conduta, assim como outra pessoa
pode viver por muitos anos de maneira correta, digna, justa, e depois se cansar
disso, se desencantar, abrir mão dos seus valores mais sagrados e decidir viver
de maneira oposta. Eis, portanto, uma outra inquietante verdade que Jesus traz
para nós: nada está garantido de não ser mudado. O ‘sim’ que demos ontem pode mudar-se em ‘não’ hoje, e vice versa. Tudo
depende da nossa liberdade de escolha e dos valores que neste momento estão
‘valendo’ para nós, isto é, estão dando sentido à nossa vida.
O
fato é que nós sempre podemos mudar; nós sempre podemos nos abrir a mudanças.
No entanto, é preciso saber quando a mudança é boa, isto é, quando mudamos para
melhor e quando mudamos para pior. Segundo
Jesus, a mudança é boa quando reorienta a nossa vida para a vontade de Deus,
mas é ruim quando nos afasta dessa vontade. Se a maneira como você está
vivendo sua vida afetiva, profissional, social e espiritual está de acordo com
a vontade de Deus, Jesus convida você a confirmar seu ‘sim’, a perseverar no
seu caminho de fé e no seu esforço em viver segundo o Evangelho. Todavia, se
você tem usado sua liberdade para fazer mal a si ou aos outros, em nome de uma
suposta e ilusória felicidade egoísta, Jesus convida você a repensar suas
atitudes e a redirecionar suas energias para o cumprimento da vontade de Deus,
que quer realmente o seu bem, a sua felicidade e a sua salvação.
A
boa notícia do Evangelho de hoje é que, enquanto estamos vivos e temos
liberdade para fazer escolhas, tudo pode ser mudado. A ‘má notícia’, digamos
assim, é o fato de que todos nós podemos
mudar, e nisso reside tanto a nossa salvação quanto a nossa perdição: tudo
depende se o uso da nossa liberdade nos aproxima ou nos distancia da vontade de
Deus. Outra boa notícia do Evangelho: cada dia é uma nova chance, um novo
convite de Deus para cada um de nós: “Filho, vai trabalhar hoje na vinha!” (Mt
21,28). “Hoje” é o dia em que pode se dar tanto a minha condenação quanto a
minha salvação. Tudo depende da minha resposta ao convite de Deus. Seja como
for, o dia de “hoje” é a oportunidade que
eu tenho de confirmar ou de mudar aquilo que eu estou fazendo.
A
liberdade de escolha é uma coisa que também incomoda e que às vezes nos
angustia. Muitos de nós gostaríamos de viver no “piloto automático”, sem
precisar rever nossas escolhas e nos perguntar se estamos ou não no rumo certo.
Mas a vida insiste em nos lembrar que, apesar
das escolhas que já fizemos e das respostas que já demos ontem, continuamos a
ser livres hoje e precisamos decidir qual rumo queremos dar à nossa existência,
à nossa vida afetiva, profissional, social e espiritual. Neste sentido,
vale a pena fazermos nossas as palavras do salmista: “Mostrai-me, ó Senhor,
vossos caminhos, e fazei-me conhecer a vossa estrada! Vossa verdade me oriente
e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação; em vós espero, ó Senhor,
todos os dias!” (Sl 25,4-5).
Enfim,
o alerta de Jesus para os líderes religiosos do seu tempo também serve para
nós. Pessoas que os sacerdotes e anciãos consideravam perdidas, condenadas,
passaram à frente deles no Reino dos céus, porque acolheram o apelo de
conversão de João Batista. Os sacerdotes e anciãos, por sua vez, que não se
consideravam necessitados de conversão, ficaram para trás. Assim, não sejamos
apressados em concluir que existem pessoas que estão definitivamente condenadas
diante de Deus. Ninguém está
definitivamente condenado, nem definitivamente salvo, porque ninguém está, diante
de Deus, privado da chance (e do risco) de mudar. Diante da oferta de
salvação, a vida permanece aberta para todo ser humano. Até o seu último
suspiro, a pessoa pode se abrir ou se fechar à graça de Deus e à Sua oferta de
salvação.
Para
nós, que supostamente dissemos ‘sim’ a Deus, é bom não esquecer de que até o
fim da vida nossa resposta ao que o Senhor nos propõe na sua Palavra pode
mudar. Daí o alerta do apóstolo Paulo: “Aquele que julga estar em pé, tome
cuidado para não cair” (1Cor 10,12). Que o Senhor nos conceda uma sincera humildade
em nossa vida de discípulos de Seu Filho e a graça de uma constante atualização
do nosso ‘sim’, para continuarmos a fazer a Sua vontade. Sobretudo, que a cada
dia diminua a distância entre saber o que
Deus quer de nós e a nossa disposição
em fazer o que Deus nos pede na Sua Palavra.
Pe. Paulo Cezar
Mazzi