sexta-feira, 26 de maio de 2017

SERÁ ELEVADO AO CÉU QUEM SOUBE DESCER JUNTO AOS "DERRUBADOS" DA TERRA

Missa da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Mateus 28,16-20.
 
            Desde o grande acontecimento do Êxodo, Deus se revelou na Sagrada Escritura como Aquele que desceu junto ao seu povo sofrido, humilhado e injustiçado, para fazê-lo subir em direção a uma vida digna, justa e plena: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo... Ouvi seu grito... conheço suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo... e fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e vasta...” (Ex 3,7-8). Na pessoa de seu Filho Jesus, o Pai desceu junto a todo ser humano para fazê-lo subir, para retirá-lo da queda, do fundo de todo e qualquer abismo, e para elevá-lo acima da dor, acima da injustiça, acima da morte. 
            Hoje, ao nos falar da Ascensão (subida, elevação) de Jesus ao céu, a Palavra do Senhor nos lembra que “subir para o céu” é sinônimo de “recompensa”, de “justificação”, de “confirmação” por parte de Deus em relação à vida de um filho Seu. Se a ressurreição de Jesus foi o “amém” (no sentido de confirmação, aprovação) do Pai à sua vida terrena, um “amém” dirigido aos seus discípulos, a sua ascensão é o “amém” que o Pai dirige a respeito de Jesus para toda a humanidade. Contudo, a ascensão de Jesus também diz respeito a nós! Todos aqueles que, como Jesus, decidem passar pelo mundo fazendo o bem subirão para o céu, isto é, viverão para sempre na presença de Deus. Em outras palavras, todos os que desceram e se colocaram junto aos feridos, humilhados e injustiçados da terra, subirão para o céu, serão elevados até presença de Deus.
            Jesus “subiu aos céus não para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (Prefácio da Ascensão I). Embora não tenhamos mais a presença física de Jesus junto a nós, temos a sua presença através do Espírito Santo em nós. Neste sentido, não podemos nos esquecer de que, ao subir para junto do Pai, Jesus nos fez uma promessa: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20). Aqui vale recordar mais uma vez o filme “A Cabana”, quando Mack, antes de voltar para junto da sua família, diz a Papai, a Jesus e ao Espírito Santo que gostaria que eles estivessem junto com ele, em cada momento de sua vida, ao que responderam: “Eu sempre estive” (Espírito Santo). “Eu sempre estou” (Jesus). “Eu sempre estarei” (o Papai).  
            “Eu sempre estive”. “Eu sempre estou”. “Eu sempre estarei”. Sempre que nos encontramos num momento de declínio, de queda ou numa situação onde somos jogados num buraco, devemos recobrar a consciência de que Deus sempre esteve, sempre está e sempre estará conosco. Até mesmo quando descemos ao mais fundo do abismo, ali podemos encontrar Deus, como afirma o salmista: “Se eu subo aos céus, tu lá estás; se eu desço no abismo, aí também te encontro” (Sl 139,8). Portanto, além de saber que nunca estamos sozinhos, devemos nos lembrar também de que Deus está conosco para nos fazer subir, para nos libertar e nos elevar, para nos introduzir no céu, ou seja, na plena comunhão com a alegria e a vida que Ele quer para todo ser humano.
            Por fim, há um outro aspecto a ser lembrado na Ascensão de Jesus. Além de prometer estar conosco todos os dias, até o fim do mundo, no momento da sua elevação ao céu Jesus nos confiou uma missão: “Recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas...” (At 1,8); “(...) ide e fazei discípulos meus todos os povos, (...) ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!” (Mt 28,19.20). Através de seu Filho Jesus Cristo, o Pai pronunciou uma palavra capaz de nos fazer subir, de nos elevar e de nos colocar na Sua presença. Esta Palavra precisa ser levada a todas as pessoas, sobretudo com as nossas atitudes. O Espírito Santo nos foi dado como força do Alto para nos capacitar na missão de testemunhar Jesus Cristo vivo e ressuscitado, razão de nossa alegria e de nossa fé! Jesus, por sua vez, nos envia para todas as periferias da humanidade porque quer que todos se tornem Seus discípulos, isto é, que todos sejam alcançados pelo Seu Evangelho, que é fonte de alegria e força de salvação para toda pessoa que crê.
            “Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). Enquanto aguardamos a vinda do Senhor Jesus, sejamos fiéis à missão que Ele nos confiou, procurando descer e nos colocar junto a toda pessoa abatida, para ajudá-la a subir, a elevar-se acima da tristeza, da dor e da injustiça, proclamando com o salmista: “Senhor, tiraste minha vida do Abismo e me fizeste reviver dentre os que descem à cova” (Sl 30,4); “Tu voltarás para dar-me vida, voltarás para tirar-me dos abismos da terra” (Sl 71,20). Celebremos a Ascensão de Jesus na certeza de que o nosso corpo aguarda o momento de ser redimido, adotado, elevado junto de Deus (cf. Rm 8,23). Colaboremos para que nos desprendamos de todas as coisas que pretendem nos manter amarrados ao mal, à injustiça e às mentiras deste mundo ilusório e passageiro. Jesus desceu e nos alcançou com a sua salvação. Cabe a cada um de nós fazer a sua subida diária, buscando alcançar Jesus Cristo, segundo o testemunho do apóstolo Paulo: “(...) esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus, em Cristo Jesus” (Ef 3,13-14).

                   Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 18 de maio de 2017

ADVOGADO

Missa do 6. dom. comum. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 8,5-8.14-17; 1Pedro 3,15-18; João 14,15-21.

            Nunca como nos tempos atuais os advogados foram tão necessários em Brasília. Diante de tantas denúncias graves envolvendo empresários e políticos, diante de tantas delações premiadas e de tantos processos de investigação, há uma necessidade gritante de “bons” advogados – de preferência, advogados que tenham “competência” para encontrar brechas na lei, distorcer fatos, confundir a verdade, de modo que os acusados escapem das condenações. O mais triste e deprimente nessa batalha pela “sobrevivência” – sobretudo de políticos corruptos – é a destruição da verdade. É ela – a verdade – o valor mais combatido, atacado, ferido – e muitas vezes destruído – no jogo sujo do poder.
            Enquanto a Praça dos Três Poderes em Brasília apodrece na corrupção, o nosso país continua enfraquecido na economia e adoecido na saúde e na educação, e nós, brasileiros, ao mesmo tempo em que estamos indignados e descrentes, nos sentimos impotentes para remover a lama da corrupção que também respinga em algumas das nossas atitudes mais corriqueiras, Jesus hoje nos faz a promessa de enviar o Espírito Santo: “Eu rogarei ao Pai e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco. Ele é o Espírito da Verdade” (Jo 14,16-17).
            Jesus prometeu que o Pai nos dará o Espírito Santo para ser nosso Advogado, Defensor, Consolador. Nós precisamos desse Advogado porque o maligno, o “acusador”, conhecendo as nossas fraquezas, algumas vezes nos seduz e, depois que caímos na tentação, nos acusa diante de Deus. Nós precisamos desse Defensor, não apenas para que Ele nos defenda dos ataques de um mundo que se opõe frontalmente ao Evangelho e a quem pretenda viver segundo o Evangelho, mas também para que Ele nos defenda da covardia, do medo, da tentação de abandonar a nossa fé. Enfim, nós precisamos desse Consolador para não sermos derrotados pela tristeza, angústia e desolação que muitas vezes querem tirar da nossa alma a alegria de sermos discípulos do Senhor Ressuscitado.
            Além de se referir ao Espírito Santo como Defensor, Jesus o chama de “Espírito da Verdade”. Diferente do que acontece no campo jurídico brasileiro, onde alguns advogados se tornam famosos por terem a capacidade de distorcer a verdade e fazer prevalecer a mentira – alguns deles sendo “presenteados” com a indicação para o cargo de Juiz do Supremo Tribunal Federal (ainda que nem todos os que ali se encontram percorreram esse caminho) –, uma das “funções” do Espírito Santo em nós é fazer prevalecer a Verdade. E se quisermos recordar por que a Verdade é tão importante, tanto para a vida pessoal, quanto para a vida social, basta lembrar as palavras de Jesus: “Vocês conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8,32).
            Quanto estrago nós fazemos conosco mesmos ou com as pessoas à nossa volta por não conhecermos a Verdade sobre nós? Quantas respostas erradas damos aos nossos desejos; quantos sentimentos de culpa carregamos inutilmente; quanto sentimento de vazio, quanta aridez espiritual, quanta sensação de que Deus está longe, ausente de nós; quanto engano carregamos em relação às imagens que temos de Deus em nosso inconsciente, simplesmente porque desconhecemos a sua Verdade em nós? Enfim, quantas escolhas feitas e quantas decisões tomadas, no âmbito pessoal e social, escolhas e decisões erradas, que têm causado dor, injustiça e sofrimento desnecessário, tudo porque não paramos para escutar a voz do Espírito da Verdade em nossa consciência.
            Onde encontrar o Espírito da Verdade? Onde escutá-Lo? Jesus disse: “Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós” (Jo 14,17). No filme “A Cabana”, Mack pergunta a Deus por que o trouxe para aquele lugar, para aquela cabana (lugar da tragédia). E Deus lhe responde: “Porque é aqui que você está preso, e eu quero libertá-lo”. Quando temos uma dor mal resolvida dentro de nós ou quando não suportamos algo em nós, fugimos da nossa cabana interior. Ela se tornou para nós um lugar horrível, cheio de lembranças desagradáveis, lembranças que nos causam muita dor. Não nos damos conta de que, na verdade, nós estamos presos ali, presos na dor, no medo, na raiva, na não aceitação, e somente a Verdade pode nos tirar dali, pode nos libertar.
Abrir-se para a Verdade é abrir-se para a cura, para a mudança, para a libertação, para a transformação. Embora nós tenhamos a mania de fugir do enfrentamento, somos chamados pelo Pai e pelo Filho a nos deixar conduzir pelo Espírito da Verdade; Ele sabe de onde tem que nos tirar e para onde tem que nos levar. Ele sabe por que está nos fazendo enfrentar nesse momento nossos medos, nossos traumas, nossa raiva. Ele sabe quais são os desígnios do Pai e do Filho a nosso respeito, e quer nos ajudar a nos abrir a esses desígnios. Só Ele pode nos trazer a verdadeira consolação de Deus. Só Ele pode curar as nossas feridas, porque permanece dentro de nós e conhece as raízes dessas feridas.        
            Começando a nos preparar para a festa de Pentecostes, peçamos o consolo do Espírito sobre nós e sobre todas as pessoas que se encontram desoladas neste momento; peçamos a sua presença como Advogado e Defensor dos pobres e dos injustiçados, especialmente. Recobremos a consciência de que o Espírito Santo quer fazer de nós consoladores, advogados e defensores de irmãos e irmãs nossos, neste tempo de violência, injustiça, indiferença para com o próximo e grande sofrimento social. Como é verdade que ninguém recebe o Espírito Santo só para si, mas em vista da sua missão, recordemos que é missão nossa sermos pessoas consoladoras, defensoras e promotoras da Verdade no mundo de hoje.
Vem, ó Espírito criador, visita as nossas mentes; enche do Teu amor os corações que criastes! Ó doce Consolador, dom do Pai altíssimo, água viva, fogo, amor, santo Crisma da alma; dedo da mão de Deus, promessa do Salvador, derrama os teus sete dons, suscita em nós a Palavra! Sê luz do intelecto, chama ardente no coração, sara as nossas feridas com o bálsamo do teu amor! Defende-nos do inimigo, concede o dom da paz, que a Tua guia invencível nos preserve do mal!

                                              Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 11 de maio de 2017

ANDE PELO CAMINHO COM A CONDUTA, NÃO COM OS PÉS

Missa do 5º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 6,1-7; 1Pedro 2,4-9; João 14,1-12.

Na última quarta-feira (10/05), os seminaristas de Ribeirão Preto fizeram uma experiência de convivência no Seminário com 10 crianças e adolescentes, os quais se encontram numa espécie de “casa de proteção” em Brodowski (SP), afastados temporariamente de suas casas porque seus pais ou não podem cuidar deles/protegê-los, ou se tornaram fonte de ameaça física e emocional para os próprios filhos. Junto dessas crianças e adolescentes estava o que eles chamam de “mãe da casa”, ou seja, uma mulher que faz o papel de “mãe social” para os mesmos.
Como é que a nossa sociedade chegou a este ponto de ter que “afastar” filhos de seus pais porque estes se tornaram uma ameaça para os próprios filhos? Como é que crianças e adolescentes precisam ser retirados da própria casa porque ali se corre risco? Mas, não é esse o retrato do nosso mundo atual, onde inúmeras pessoas procuram por uma casa, por um lar; onde tantas pessoas se sentem órfãs, necessitadas de acolhida e de proteção? Num tempo em que há fragilização da paternidade e da maternidade em tantas famílias, especialmente nas mais expostas à pobreza, à violência e à injustiça social, quem de nós estaria disposto a assumir o papel de “pai social” ou de “mãe social”?
            Durante a sua vida terrena, Jesus foi para os discípulos uma espécie de “pai social”. Mas agora ele começa a preparar o coração dos discípulos para a sua partida, para o seu retorno ao Pai, e percebe o quanto o coração deles está aflito, perturbado. Na verdade, todo discípulo de Jesus experimenta dentro de si o pulsar de um coração perturbado, e as causas dessa perturbação são basicamente duas: os constantes ataques de um mundo que se opõe à mensagem do Evangelho e a sensação de que Jesus está ausente.
            Em nosso tempo, a coisa mais comum é encontrar pessoas com o coração perturbado: como já mencionado acima, existem crianças e adolescentes perturbados pela desestruturação familiar; homens e mulheres perturbados pelo desemprego ou pela ameaça do mesmo; inúmeras famílias perturbadas pela dependência química; em países do Oriente Médio, existem cristãos perturbados pela perseguição religiosa; o mundo vive perturbado pelo terrorismo etc. Ou seja, hoje sobram motivos para estarmos perturbados...
            Por isso, são muito atuais as palavras de Jesus: “Tenham fé em mim”. Dizendo com outras palavras: ‘Apoiem-se em mim. Sintam-se protegidos e amparados por mim. Olhem para a maneira como eu enfrentei o mundo e aprendam a enfrentá-lo também. Não se fechem no medo e não vivam retraídos diante da realidade. Não permitam que a tristeza ou o pessimismo envenenem o coração de vocês’. E, para revigorar a nossa fé, Jesus diz: “Na casa de meu Pai há muitas moradas... Vou preparar um lugar para vós, e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós” (Jo 14,2-3).
            Jesus entende a “casa” como lugar de pertença. Portanto, ao nos garantir um lugar na casa de seu Pai, Jesus está dizendo a cada um de nós: ‘Eu sei que você nem sempre encontra um lugar neste mundo, no qual só há lugar para quem é esperto, ágil, ganancioso e ambicioso; para quem tem dinheiro, poder, influência, padrinhos, quem indica etc. Eu sei que nos tempos atuais você convive cada vez mais com pessoas que escolheram ser “predadoras sociais”, ao invés de “pais/mães sociais”, mas lembre-se de que você é filho e não escravo: “O escravo não vive para sempre na casa, mas o filho sim” (citação livre de Jo 8,35). Você tem o seu lugar na casa, isto é, no coração do Pai. Quero, portanto, que você passe pelo mundo como eu passei, como verdadeiro filho, jamais como órfão, muito menos como escravo, escravo da mentira, da desorientação e das falsas moradias! Assuma o seu papel de filho(a); torne-se “pai/mãe social” das pessoas que foram expulsas de suas casas por causa da injustiça ou da doença social; torne-se “pai/mãe social” das pessoas que precisam saber que são filhas e que têm um lugar no coração do meu Pai’.
            O mesmo Jesus, que nos pede para confiar/crer n’Ele, pede também para permanecermos n’Ele como caminho que conduz ao Pai: “(...) vós conheceis o caminho... Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,4.6). “Vós conheceis o caminho...”. É verdade. Nós muitas vezes conhecemos o caminho que nos faz voltar a ser fiéis, justos e santos, mas nem sempre queremos trilhar esse caminho... Nós preferimos procurar atalhos, remendos, pedaços de verdade que não exijam de nós o abandono total e definitivo das nossas mentiras...
Caminho é sinônimo de orientação. Nós aceitamos realmente nos orientar por Jesus, ajustando o nosso comportamento ao seu? Nós permitimos que a sua Verdade devolva convicção ao nosso coração, aos valores que abraçamos como ideal de vida, ou queremos continuar protelando decisões que devemos tomar, por meio das constantes perguntas que, embora já tenham sido respondidas pela voz de Jesus em nossa consciência, preferimos seguir pela vida procurando por outras respostas, mais convenientes ao nosso desejo de não mudar o que precisamos mudar? Nós desejamos ser vivificados por Jesus, que é a Vida, ou para nós bastam rápidas e breves receitas de “sobrevivência”, ainda que não nos permitam experimentar uma vida autêntica e plena?
            Para encerrar esta reflexão, eis uma saudável provocação de Santo Agostinho: Jesus, o Caminho, “te conduz a Ele mesmo. Não procures por onde ir fora d’Ele. Se Ele não tivesse querido ser caminho, sempre andaríamos extraviados. Ele se fez, pois, caminho, por onde ir. Portanto não te direi: Busca o caminho. O caminho mesmo é quem vem a ti. Levanta-te e anda! Anda com a conduta, não com os pés. Muitos andam bem com os pés e mal com a conduta. E inclusive os que andam bem, mas fora do caminho. Correm, mas não pelo caminho, e quanto mais andam, mais se extraviam, pois se afastam mais do caminho…Sem dúvida, é preferível ir pelo caminho, embora mancando, do que ir fora do caminho” (Sobre o evangelho de São João, XIII).
            Por fim, neste “dia das mães”, dedicamos nossa gratidão e nossa oração a todas as mulheres que se tornaram “casa”, ajudando seus filhos a crescerem na consciência de pertença a Deus. Nossa oração especialmente a todas as mães que, por diversos motivos, se tornaram ameaça para seus filhos, mães cuja casa deixou de ser sinônimo de proteção, de afeto e de acolhida. Por fim, nossa admiração e incentivo a todos aqueles que, numa sociedade marcada por tantos tipos de orfandade, abraçaram o belo desafio de se tornarem “pais e mães sociais”.

                                                   Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 4 de maio de 2017

HÁ UMA PORTA, UMA SAÍDA

Missa do 4º. dom. da páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,14a.36-41; 1Pedro 2,20b-25; João 10,1-10.

            Nós, seres humanos, precisamos de portas. 14 milhões de brasileiros desempregados procuram por uma porta de entrada no mercado de trabalho. Da mesma forma, os que estão doentes procuram por uma porta de acesso a tratamentos de saúde. Pessoas deprimidas, angustiadas ou aflitas procuram por uma porta, por uma saída para os seus problemas. Mas, ao mesmo tempo, quantas portas estão fechadas!
Por medo do outro ou por causa do individualismo, nós nos mantemos fechados àquele que é nosso semelhante. Para evitar um diálogo difícil, mas necessário, muitos pais/filhos/casais fecham-se cada um no seu mundo, mantendo as suas portas abertas apenas para o mundo virtual. A porta do gabinete do atual Ministro da Justiça tem se mantido aberta para os ruralistas e políticos investigados pela Lava Jato, mas fechada para os índios, segundo reportagem da Folha, publicada no último dia 02. Do mesmo modo, a porta de alguns ministros do STF mantém-se aberta para os interesses dos banqueiros e dos políticos corruptos, mas fechada para os interesses do povo brasileiro, que anseia por um país mais justo e livre da impunidade.
            Jesus se define como sendo “a porta”, no Evangelho de hoje. Suas palavras se dirigem, num primeiro momento, a toda pessoa que tem sob sua responsabilidade o cuidado para com a vida de outras pessoas, isto é, todo e qualquer líder: “Quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante... Eu sou a porta...” (Jo 10,3.7.9). Todo líder que não se configura a Jesus Cristo, que veio para servir e não ser servido – muito menos servir-se do rebanho para seus interesses próprios –, acaba por assumir uma conduta de ladrão e assaltante. Tal conduta, embora cada vez mais explícita na esfera política e judiciária do nosso país, infelizmente também começa a ser percebida em diversas igrejas. Neste sentido, nos faria muito bem, enquanto Igreja Católica, ver surgir em nosso meio uma versão eclesial da Lava Jato, para revelar o enriquecimento ilícito de alguns padres e bispos, os quais desviam recursos de suas paróquias e dioceses para investirem em imóveis particulares, por exemplo. Aos nossos olhos, são “homens da Igreja”; porém, aos olhos de Jesus, são “ladrões e assaltantes”.
            Após se referir aos líderes, Jesus se apresenta como “a porta” às ovelhas desse imenso rebanho que é a humanidade. Em primeiro lugar, Ele é a porta que “conduz para fora” toda pessoa que precisa encontrar uma saída para a sua dor, para o seu problema. Jesus, com a sua palavra, quer nos ajudar a abrir portas, a olhar além do que estamos enxergando, a nos levantar e caminhar, ao invés de ficarmos caídos, lamentando diante das dificuldades. Neste sentido, é provável que exista alguma porta diante de você, mas que você tem medo ou não tem vontade/coragem de abrir. Jesus quer conduzir você para fora, mas é preciso que você se disponha a abrir a porta, ou seja, se disponha a passar para aquela outra área da vida onde há um novo espaço onde possa voltar a crescer.
            Jesus também nos diz hoje: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,9). Mais do que uma libertação momentânea, Jesus quer nos dar a salvação. Quem procura viver uma relação profunda com Jesus liberta-se de todo tipo de condenação; sente-se salvo dos seus vícios, dos seus erros, das imposições do mundo e do medo da própria morte.  O mesmo Jesus, que veio procurar e salvar a ovelha/pessoa que estava perdida é Aquele nos traz a verdade que nos liberta. Por isso, sua palavra nos faz “sair”, nos desprendendo das nossas amarras ou das amarras da sociedade e nos ensinando a viver sob o impulso do Espírito de Deus.
            Neste domingo do Bom Pastor, o apóstolo Pedro nos convida a olhar para Aquele que, “sobre a cruz, carregou nossos pecados em seu próprio corpo, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (1Pd 2,24). Portanto, somos chamados a seguir/obedecer à voz do Pastor, procurando viver segundo um comportamento justo, deixando-nos curar e ajudando tantas outras pessoas a não mais viverem como ovelhas desgarradas, expostas aos ataques de tantos ladrões e assaltantes disfarçados de pastores.
            Hoje é o dia de rezarmos de maneira mais especial pelas vocações. Deus mesmo fez uma promessa a Seu povo: “Eu vos darei pastores segundo o meu coração” (Jr 3,15). Desse modo, devemos confiar que a nossa oração pelas vocações não só é necessária, como também vai de encontro ao desejo do próprio Deus, que sabe o quanto Seu povo está exposto aos desmandos de ladrões e assaltantes, e precisa de conduzido por verdadeiros pastores. Peçamos, portanto, ao Senhor pelos que já são pastores, para que sejam revitalizados pelo Espírito Santo na sua fé e na alegria de serem sinais vivos do Bom Pastor. Rezemos pelos seminaristas e por mais vocações, para que mais jovens se encantem pelo Evangelho e desejem entrar pela porta que é Jesus, conduzindo também para essa Porta muitas outras pessoas.
Refrões vocacionais:

            “Poucos os operários, poucos trabalhadores e a fome do povo aumenta mais e mais. És o Senhor da messe, ouve esta nossa prece, põe sangue novo nas veias da tua Igreja!”
“Leva-me aonde os homens necessitam Tua Palavra, necessitam de força de viver; onde falte a esperança, onde tudo seja triste simplesmente por não saber de Ti!”
“Aonde mandar eu irei. Teu amor eu não posso ocultar. Quero anunciar para o mundo ouvir que Jesus é o nosso Salvador!”
“Eis-me aqui, Senhor! Eis-me aqui, Senhor! Pra fazer tua vontade, pra viver do teu amor. Pra fazer tua vontade, pra viver do teu amor, eis-me aqui, Senhor!
“Tu és a razão da jornada, Tu és minha estrada, meu guia, meu fim. No grito que vem do teu povo, te escuto de novo, chamando por mim”
“Tenho que gritar, tenho que arriscar, ai de mim se não o faço! Como escapar de ti, como calar, se tua voz arde em meu peito? Tenho que andar, tenho que lutar, ai de mim se não o faço! Como escapar de ti, como calar, se tua voz arde em meu peito?”

Fragmentos da Oração Vocacional

Senhor da Messe e pastor do rebanho faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: “Vem e segue-me”. Derrama sobre nós o teu Espírito. Que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz.

Senhor, que a Messe não se perca por falta de operários. Desperta nossas comunidades para a missão, ensina nossa vida a ser serviço, fortalece os que querem dedicar-se ao Reino na vida consagrada e religiosa.

Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores. Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres, diáconos e ministros. Dá perseverança a nossos seminaristas. Desperta o coração de nossos jovens para o ministério pastoral em tua Igreja.

Pe. Paulo Cezar Mazzi