Missa do 6. dom.
comum. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 8,5-8.14-17; 1Pedro 3,15-18; João
14,15-21.
Nunca como nos tempos atuais os
advogados foram tão necessários em Brasília. Diante de tantas denúncias graves
envolvendo empresários e políticos, diante de tantas delações premiadas e de
tantos processos de investigação, há uma necessidade gritante de “bons”
advogados – de preferência, advogados que tenham “competência” para encontrar
brechas na lei, distorcer fatos, confundir a verdade, de modo que os acusados
escapem das condenações. O mais triste e deprimente nessa batalha pela “sobrevivência”
– sobretudo de políticos corruptos – é a destruição da verdade. É ela – a
verdade – o valor mais combatido, atacado, ferido – e muitas vezes destruído –
no jogo sujo do poder.
Enquanto a Praça dos Três Poderes em
Brasília apodrece na corrupção, o nosso país continua enfraquecido na economia
e adoecido na saúde e na educação, e nós, brasileiros, ao mesmo tempo em que
estamos indignados e descrentes, nos sentimos impotentes para remover a lama da
corrupção que também respinga em algumas das nossas atitudes mais corriqueiras,
Jesus hoje nos faz a promessa de enviar o Espírito Santo: “Eu rogarei ao Pai e
ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco. Ele é o
Espírito da Verdade” (Jo 14,16-17).
Jesus prometeu que o Pai nos dará o
Espírito Santo para ser nosso Advogado, Defensor, Consolador. Nós precisamos
desse Advogado porque o maligno, o “acusador”, conhecendo as nossas fraquezas,
algumas vezes nos seduz e, depois que caímos na tentação, nos acusa diante de
Deus. Nós precisamos desse Defensor, não apenas para que Ele nos defenda dos
ataques de um mundo que se opõe frontalmente ao Evangelho e a quem pretenda
viver segundo o Evangelho, mas também para que Ele nos defenda da covardia, do
medo, da tentação de abandonar a nossa fé. Enfim, nós precisamos desse
Consolador para não sermos derrotados pela tristeza, angústia e desolação que
muitas vezes querem tirar da nossa alma a alegria de sermos discípulos do
Senhor Ressuscitado.
Além de se referir ao Espírito Santo
como Defensor, Jesus o chama de “Espírito da Verdade”. Diferente do que
acontece no campo jurídico brasileiro, onde alguns advogados se tornam famosos
por terem a capacidade de distorcer a verdade e fazer prevalecer a mentira – alguns
deles sendo “presenteados” com a indicação para o cargo de Juiz do Supremo
Tribunal Federal (ainda que nem todos os que ali se encontram percorreram esse
caminho) –, uma das “funções” do Espírito Santo em nós é fazer prevalecer a
Verdade. E se quisermos recordar por que a Verdade é tão importante, tanto para
a vida pessoal, quanto para a vida social, basta lembrar as palavras de Jesus:
“Vocês conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8,32).
Quanto estrago nós fazemos conosco
mesmos ou com as pessoas à nossa volta por não conhecermos a Verdade sobre nós?
Quantas respostas erradas damos aos nossos desejos; quantos sentimentos de
culpa carregamos inutilmente; quanto sentimento de vazio, quanta aridez
espiritual, quanta sensação de que Deus está longe, ausente de nós; quanto
engano carregamos em relação às imagens que temos de Deus em nosso
inconsciente, simplesmente porque desconhecemos a sua Verdade em nós? Enfim, quantas
escolhas feitas e quantas decisões tomadas, no âmbito pessoal e social, escolhas
e decisões erradas, que têm causado dor, injustiça e sofrimento desnecessário,
tudo porque não paramos para escutar a voz do Espírito da Verdade em nossa
consciência.
Onde encontrar o Espírito da
Verdade? Onde escutá-Lo? Jesus disse: “Ele permanece junto de vós e estará
dentro de vós” (Jo 14,17). No filme “A Cabana”, Mack pergunta a Deus por que o trouxe
para aquele lugar, para aquela cabana (lugar da tragédia). E Deus lhe responde:
“Porque é aqui que você está preso, e eu quero libertá-lo”. Quando temos uma
dor mal resolvida dentro de nós ou quando não suportamos algo em nós, fugimos
da nossa cabana interior. Ela se tornou para nós um lugar horrível, cheio de
lembranças desagradáveis, lembranças que nos causam muita dor. Não nos damos
conta de que, na verdade, nós estamos presos ali, presos na dor, no medo, na
raiva, na não aceitação, e somente a Verdade pode nos tirar dali, pode nos
libertar.
Abrir-se
para a Verdade é abrir-se para a cura, para a mudança, para a libertação, para
a transformação. Embora nós tenhamos a mania de fugir do enfrentamento, somos
chamados pelo Pai e pelo Filho a nos deixar conduzir pelo Espírito da Verdade;
Ele sabe de onde tem que nos tirar e para onde tem que nos levar. Ele sabe por
que está nos fazendo enfrentar nesse momento nossos medos, nossos traumas,
nossa raiva. Ele sabe quais são os desígnios do Pai e do Filho a nosso
respeito, e quer nos ajudar a nos abrir a esses desígnios. Só Ele pode nos
trazer a verdadeira consolação de Deus. Só Ele pode curar as nossas feridas,
porque permanece dentro de nós e conhece as raízes dessas feridas.
Começando a nos preparar para a
festa de Pentecostes, peçamos o consolo do Espírito sobre nós e sobre todas as pessoas
que se encontram desoladas neste momento; peçamos a sua presença como Advogado
e Defensor dos pobres e dos injustiçados, especialmente. Recobremos a
consciência de que o Espírito Santo quer fazer de nós consoladores, advogados e
defensores de irmãos e irmãs nossos, neste tempo de violência, injustiça,
indiferença para com o próximo e grande sofrimento social. Como é verdade que
ninguém recebe o Espírito Santo só para si, mas em vista da sua missão,
recordemos que é missão nossa sermos pessoas consoladoras, defensoras e
promotoras da Verdade no mundo de hoje.
Vem,
ó Espírito criador, visita as nossas mentes; enche do Teu amor os corações que
criastes! Ó doce Consolador, dom do Pai altíssimo, água viva, fogo, amor, santo
Crisma da alma; dedo da mão de Deus, promessa do Salvador, derrama os teus sete
dons, suscita em nós a Palavra! Sê luz do intelecto, chama ardente no coração,
sara as nossas feridas com o bálsamo do teu amor! Defende-nos do inimigo, concede
o dom da paz, que a Tua guia invencível nos preserve do mal!
Amem ,que o espirito Santo venha para nos libertar das amarras do nosso coração .
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