quinta-feira, 18 de maio de 2017

ADVOGADO

Missa do 6. dom. comum. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 8,5-8.14-17; 1Pedro 3,15-18; João 14,15-21.

            Nunca como nos tempos atuais os advogados foram tão necessários em Brasília. Diante de tantas denúncias graves envolvendo empresários e políticos, diante de tantas delações premiadas e de tantos processos de investigação, há uma necessidade gritante de “bons” advogados – de preferência, advogados que tenham “competência” para encontrar brechas na lei, distorcer fatos, confundir a verdade, de modo que os acusados escapem das condenações. O mais triste e deprimente nessa batalha pela “sobrevivência” – sobretudo de políticos corruptos – é a destruição da verdade. É ela – a verdade – o valor mais combatido, atacado, ferido – e muitas vezes destruído – no jogo sujo do poder.
            Enquanto a Praça dos Três Poderes em Brasília apodrece na corrupção, o nosso país continua enfraquecido na economia e adoecido na saúde e na educação, e nós, brasileiros, ao mesmo tempo em que estamos indignados e descrentes, nos sentimos impotentes para remover a lama da corrupção que também respinga em algumas das nossas atitudes mais corriqueiras, Jesus hoje nos faz a promessa de enviar o Espírito Santo: “Eu rogarei ao Pai e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco. Ele é o Espírito da Verdade” (Jo 14,16-17).
            Jesus prometeu que o Pai nos dará o Espírito Santo para ser nosso Advogado, Defensor, Consolador. Nós precisamos desse Advogado porque o maligno, o “acusador”, conhecendo as nossas fraquezas, algumas vezes nos seduz e, depois que caímos na tentação, nos acusa diante de Deus. Nós precisamos desse Defensor, não apenas para que Ele nos defenda dos ataques de um mundo que se opõe frontalmente ao Evangelho e a quem pretenda viver segundo o Evangelho, mas também para que Ele nos defenda da covardia, do medo, da tentação de abandonar a nossa fé. Enfim, nós precisamos desse Consolador para não sermos derrotados pela tristeza, angústia e desolação que muitas vezes querem tirar da nossa alma a alegria de sermos discípulos do Senhor Ressuscitado.
            Além de se referir ao Espírito Santo como Defensor, Jesus o chama de “Espírito da Verdade”. Diferente do que acontece no campo jurídico brasileiro, onde alguns advogados se tornam famosos por terem a capacidade de distorcer a verdade e fazer prevalecer a mentira – alguns deles sendo “presenteados” com a indicação para o cargo de Juiz do Supremo Tribunal Federal (ainda que nem todos os que ali se encontram percorreram esse caminho) –, uma das “funções” do Espírito Santo em nós é fazer prevalecer a Verdade. E se quisermos recordar por que a Verdade é tão importante, tanto para a vida pessoal, quanto para a vida social, basta lembrar as palavras de Jesus: “Vocês conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8,32).
            Quanto estrago nós fazemos conosco mesmos ou com as pessoas à nossa volta por não conhecermos a Verdade sobre nós? Quantas respostas erradas damos aos nossos desejos; quantos sentimentos de culpa carregamos inutilmente; quanto sentimento de vazio, quanta aridez espiritual, quanta sensação de que Deus está longe, ausente de nós; quanto engano carregamos em relação às imagens que temos de Deus em nosso inconsciente, simplesmente porque desconhecemos a sua Verdade em nós? Enfim, quantas escolhas feitas e quantas decisões tomadas, no âmbito pessoal e social, escolhas e decisões erradas, que têm causado dor, injustiça e sofrimento desnecessário, tudo porque não paramos para escutar a voz do Espírito da Verdade em nossa consciência.
            Onde encontrar o Espírito da Verdade? Onde escutá-Lo? Jesus disse: “Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós” (Jo 14,17). No filme “A Cabana”, Mack pergunta a Deus por que o trouxe para aquele lugar, para aquela cabana (lugar da tragédia). E Deus lhe responde: “Porque é aqui que você está preso, e eu quero libertá-lo”. Quando temos uma dor mal resolvida dentro de nós ou quando não suportamos algo em nós, fugimos da nossa cabana interior. Ela se tornou para nós um lugar horrível, cheio de lembranças desagradáveis, lembranças que nos causam muita dor. Não nos damos conta de que, na verdade, nós estamos presos ali, presos na dor, no medo, na raiva, na não aceitação, e somente a Verdade pode nos tirar dali, pode nos libertar.
Abrir-se para a Verdade é abrir-se para a cura, para a mudança, para a libertação, para a transformação. Embora nós tenhamos a mania de fugir do enfrentamento, somos chamados pelo Pai e pelo Filho a nos deixar conduzir pelo Espírito da Verdade; Ele sabe de onde tem que nos tirar e para onde tem que nos levar. Ele sabe por que está nos fazendo enfrentar nesse momento nossos medos, nossos traumas, nossa raiva. Ele sabe quais são os desígnios do Pai e do Filho a nosso respeito, e quer nos ajudar a nos abrir a esses desígnios. Só Ele pode nos trazer a verdadeira consolação de Deus. Só Ele pode curar as nossas feridas, porque permanece dentro de nós e conhece as raízes dessas feridas.        
            Começando a nos preparar para a festa de Pentecostes, peçamos o consolo do Espírito sobre nós e sobre todas as pessoas que se encontram desoladas neste momento; peçamos a sua presença como Advogado e Defensor dos pobres e dos injustiçados, especialmente. Recobremos a consciência de que o Espírito Santo quer fazer de nós consoladores, advogados e defensores de irmãos e irmãs nossos, neste tempo de violência, injustiça, indiferença para com o próximo e grande sofrimento social. Como é verdade que ninguém recebe o Espírito Santo só para si, mas em vista da sua missão, recordemos que é missão nossa sermos pessoas consoladoras, defensoras e promotoras da Verdade no mundo de hoje.
Vem, ó Espírito criador, visita as nossas mentes; enche do Teu amor os corações que criastes! Ó doce Consolador, dom do Pai altíssimo, água viva, fogo, amor, santo Crisma da alma; dedo da mão de Deus, promessa do Salvador, derrama os teus sete dons, suscita em nós a Palavra! Sê luz do intelecto, chama ardente no coração, sara as nossas feridas com o bálsamo do teu amor! Defende-nos do inimigo, concede o dom da paz, que a Tua guia invencível nos preserve do mal!

                                              Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário:

  1. Amem ,que o espirito Santo venha para nos libertar das amarras do nosso coração .

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