Missa do 8º. dom. comum. Isaías
49,14-15; 1Coríntios 4,1-5; Mateus 6,24-34.
A expressão do rosto está séria, a
testa franzida, o sono alterado; a pessoa se ausenta do presente e divaga,
pensando no futuro; se irrita com facilidade, quase não tem senso de humor,
sente-se frequentemente infeliz... Estamos falando da pessoa excessivamente
preocupada. Mas, se existem pessoas exageradamente preocupadas, existem outras
que não se preocupam nem com o mínimo necessário, como por exemplo: a sua
colaboração para que o ambiente familiar ou profissional seja bom, o seu
cuidado para que o meio ambiente seja recuperado ou preservado, a sua conduta
justa para que a sociedade se liberte do mal da corrupção etc.
Normalmente, nossas preocupações
estão associadas às nossas necessidades. O problema é que o mundo moderno criou
em nós necessidades que não são primárias, essenciais, mas secundárias,
supérfluas, artificiais, e essas ‘necessidades’ passaram a atropelar o nosso
tempo, desviar o nosso foco, roubar o nosso dinheiro e exigir constantemente a
nossa atenção. Desse modo, não basta que você tenha o que comer, mas ‘onde’ e
‘o que’ você come; não basta que você tenha o que vestir, mas ‘que roupa’ você veste;
não basta que seu filho possa estudar, mas ‘em qual escola’ ele estuda etc. Assim,
neste mundo preocupado com futilidades e dominado pelo consumismo, onde quem
pode mais chora menos, nós vamos simplesmente seguindo o fluxo, nos enchendo de
preocupações desnecessárias que comprometem a nossa saúde, os nossos
relacionamentos e a nossa espiritualidade.
Para dar conta de sobreviver a
tantas preocupações, alguns recorrem a psiquiatras, psicólogos e medicamentos;
outros se refugiam na bebida e nas drogas; alguns desistem de sobreviver e se
suicidam; outros surtam. Mas existem aqueles que têm o bom senso de se
questionarem: ‘O que eu estou fazendo com a minha vida?’ ‘Quais são as minhas
verdadeiras prioridades?’ ‘Com o que eu devo realmente me preocupar?’ Quando
você faz isso, consegue interromper o círculo vicioso da preocupação, começa a
se desintoxicar do medo, da ansiedade e das falsas ameaças que as preocupações
desnecessárias lhe impõem e passa a ter mais qualidade de vida.
Deus hoje está questionando aquelas
preocupações que surgem em nós como consequência da falta de fé e de confiança
no Seu amor por nós, quando nos sentimos abandonados e esquecidos por Ele: “Acaso
pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de
seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti” (Is 49,15).
Na verdade, frequentemente nós nos distraímos diante de inúmeras preocupações
inúteis, e acabamos perdendo a consciência de que só em Deus a nossa alma pode
encontrar repouso, porque d’Ele é que nos vem a salvação (cf. Sl 62,2). Por
isso, ao invés de nos consumirmos de medo e de ansiedade, precisamos reaprender
a esperar sempre no Senhor e abrir diariamente o nosso coração na Sua presença
(cf. Sl 62,9), colocando em Suas mãos nossas preocupações, pois é Ele quem
cuida de nós (cf. 1Pd 5,7).
Cuidas
de mim, sei que tu cuidas de mim, Senhor... Ainda que eu ande pelo vale, e o
atravesse à sombra da morte, cuidas de mim, cuidas de mim. Mesmo que eu não
queira a Tua presença, mesmo que eu me afaste de Ti, cuidas de mim, cuidas de
mim. Teu amor é como a rocha que não se quebra jamais. Teu amor é como o sol a
nascer toda manhã... (Pe. Fábio de Melo, Cuidas de mim).
O que nos preocupa hoje? Preocupa-nos
a impunidade, o descaso de tantos políticos e juízes com a Justiça?
Preocupa-nos a violência em nossa sociedade? Preocupa-nos a falta de fé, de
testemunho, de simplicidade e de coerência evangélica em diversos líderes da
nossa Igreja? Não nos desesperemos, nem deixemos de crer na justiça de Deus e
na verdade do seu Espírito, como disse o apóstolo Paulo: “Aguardai que o Senhor
venha. Ele iluminará o que estiver escondido nas trevas e manifestará os
projetos dos corações. Então, cada um receberá de Deus o louvor que tiver
merecido” (1Cor 4,5). Portanto, confiemos na justiça e na verdade de Deus; elas
prevalecerão sobre a injustiça e a mentira que hoje ditam as regras no coração
de muitas pessoas e em não poucos setores da nossa sociedade.
No final do seu Evangelho, Jesus nos
convida a nos ocupar com algo realmente importante, fundamental: “Buscai em
primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
dadas por acréscimo” (Mt 6,33). Que a nossa preocupação seja ter uma conduta
adequada a Deus e ao seu Reino, deixando-nos cuidar pelo Pai e amando os
irmãos. Se procurarmos viver o nosso dia a dia segundo a vontade do Pai, certamente
experimentaremos o Seu cuidado para conosco em todas as nossas necessidades. Afinal,
Ele é o Pai não só do nosso hoje, mas também do nosso amanhã. A cada dia, Deus nos
dará a força necessária para o peso daquele dia, para que aprendamos a viver da
confiança n’Ele.