quinta-feira, 22 de setembro de 2016

QUE USO VOCÊ TEM FEITO DA SUA FOLHA EM BRANCO?

Missa do 26º. dom. comum. Palavra de Deus: Amós 6,1a.4-7; 1Timóteo 6,11-16; Lucas 16,19-31.   

            O Evangelho que acabamos de ouvir não é uma profecia a respeito de como será a nossa vida após a morte. Ele é, na verdade, uma palavra esclarecedora sobre o valor da nossa vida presente e sobre o peso, o reflexo, as consequências que têm para a nossa vida futura as escolhas que fazemos e as decisões que tomamos em nossa vida presente.
            Há uma comparação que pode nos ajudar a compreender a importância da nossa vida presente: ela é como uma folha em branco. Ao chamar você à existência, Deus lhe entregou a vida como uma folha em branco, e lhe deu a liberdade de escrever nela o que você quiser, mas alertando para o fato de que aquilo que você escreve no seu dia a dia vai construindo o seu destino. Dizendo de outra maneira, as suas atitudes na vida presente têm um reflexo direto na sua vida futura, isto é, na ressurreição.
            Como você entende sua existência neste mundo? Você tem consciência de que esta folha em branco que você recebeu não é um papel de rascunho, mas o espaço onde você escreverá uma história de vida única, que nunca mais se repetirá? Um exemplo concreto, retirado da natureza: acontece com a sua vida neste mundo o mesmo que acontece com as águas de um rio: assim como as águas nas quais você pôs os pés ou mergulhou correm rio abaixo e nunca mais voltarão para a cabeceira do rio, assim a sua passagem pela terra é única e nunca mais se repetirá. Daí a importância de você valorizar a folha em branco que a cada dia a vida coloca em suas mãos, para que você escreva a sua história, uma história que será única e irrepetível.
            É verdade que a vida não vem com um manual de instruções sobre como não errar. Mas é verdade também que Deus nos oferece a sua Palavra como orientação, para que possamos acertar mais e errar menos. Neste sentido, o apóstolo Paulo nos convida a fugir das coisas perversas, isto é, da inversão de valores em que vive a nossa sociedade, para a qual o bem é visto como um mal e o mal é propagandeado como sendo algo bom, e a orientar o nosso comportamento segundo a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza e a mansidão (cf. 1Tm 6,11). Aliás, Paulo entende a nossa vida presente como a oportunidade que temos para conquistar a vida eterna, combatendo no momento presente o bom combate da fé.
            Mas como se conquista a vida eterna? Conforme Jesus já nos lembrava no Evangelho de domingo passado, as “moradas eternas” são as moradas dos pobres que ajudamos ou deixamos de ajudar em nossa vida terrena (cf. Lc 16,9). Jesus mais uma vez insiste nessa verdade: se você vive sua vida presente como o rico desta parábola, fazendo de si o centro de tudo, voltado(a) unicamente para os seus interesses, como se os outros não existissem para você, você está falhando na administração da sua vida. Deus colocou você neste mundo para ajudar a tornar-se um mundo mais justo e mais humano, e não para que você simplesmente reproduza nele, com as suas atitudes, a desigualdade injusta que existe entre ricos e pobres.
            Recordemos, então, qual é o recado de Jesus para nós, neste Evangelho: tudo se decide aqui e agora na terra. Não há possibilidade de conversão/mudança após a morte. O tempo de mudança/conversão é o tempo em que você está vivendo agora, a sua vida presente. Jesus ainda esclarece que quem não se converte ouvindo a Palavra de Deus, não se converterá nem mesmo vendo algo espetacular, como um anjo que venha lhe falar pessoalmente. E a Palavra de Deus hoje nos fez este alerta: quem não carece de nada corre o risco de se fazer insensível diante daqueles que carecem de tudo. A abundância material pode ser um obstáculo para que nos sensibilizemos diante da carência de tantos irmãos. Por isso o alerta do profeta Amós: “Ai daqueles que desfrutam do luxo, do conforto e do bem-estar que o mundo oferece, mas não se preocupam com os que sofrem injustiças, com os que estão socialmente arruinados” (citação livre de Am 6,1a.4-6).

                                                                      Pe. Paulo Cezar Mazzi

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