sexta-feira, 9 de setembro de 2016

DEUS PROCURA POR "PROCURADORES DE PESSOAS"

Missa do 24º. dom. comum. Êxodo 32,7-11.13-14; 1Timóteo 1,12-17; Lc 15,1-10 (leitura breve).

Deus não aceita perder. Deus não sabe perder. Deus não se conforma em perder. Mas, perder o quê? Perder o ser humano, quem quer que seja ele: santo ou pecador, fiel ou infiel, obediente ou desobediente, crente ou ateu, bom ou mal, justo ou injusto... Mas não é só isso. Além de Deus não aceitar perder ninguém, o Evangelho acabou de deixar claro que Deus não descansa enquanto não reencontrar aquele que Ele perdeu ou, melhor dizendo, aquele que, por algum motivo, se perdeu d’Ele.
Quando Jesus esteve na casa de Zaqueu, disse que veio ao mundo para “procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Poderíamos dizer que no centro do coração de Jesus, assim como no centro do coração de Deus, há um espaço vazio, e este espaço está vazio porque alguém se distanciou, alguém se afastou ou esse alguém nunca soube que era amado e importante para Deus, por isso nunca manifestou o interesse em se aproximar d’Ele. 
O que explicaria essa atitude do pastor em deixar noventa e nove ovelhas no deserto e ir atrás da única ovelha que se desgarrou do rebanho (cf. Lc 15,4)? Uma única razão: a ovelha que se perdeu vale para o pastor tanto quanto as outras noventa e nove. Essas não substituem aquela que se perdeu. Cada ser humano é único; por isso, seu valor para Deus é insubstituível. A casa está cheia de filhos, mas o Pai sabe que um filho seu está faltando. E o coração desse Pai fica inquieto e triste, até que reencontre o filho que d’Ele se afastou. 
Assim como o pastor deixa as noventa e nove ovelhas no deserto e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la; assim como a mulher acende a luz e varre a casa, até encontrar a moeda que havia perdido, assim Deus não apenas procura incansavelmente recuperar aqueles que d’Ele se afastaram ou que d’Ele nunca se aproximaram, mas Ele também procura por “procuradores de gente perdida”. Deus procura por pastores que saibam se desacomodar, que fiquem inquietos e angustiados, que percam o sono e se entristeçam por causa das ovelhas que se ausentaram do rebanho que foi confiado aos seus cuidados.
Em 1998, em preparação ao Jubileu do ano 2000, foi lançado um CD com músicas dedicadas ao Espírito Santo. Em uma delas, intitulada “Renueva la faz de la tierra”, Daniel Poli canta, a respeito da conduta de um padre: “(...) apegando-se a uma ovelha que ficou em seu rebanho, ao invés de ir buscar as noventa e nove perdidas”. Infelizmente, essa é uma atitude muito comum em nossa Igreja: o medo do mundo, o despreparo em lidar com as novas gerações, mas também o comodismo e a má vontade fazem muitos de nós, pastores, ficarmos fechados em nossas igrejas e em nossas casas paroquiais, cuidando das pouquíssimas ovelhas que ainda estão conosco, ao invés de sairmos à procura das inúmeras ovelhas que vagam sem rumo em nosso mundo atual...
Se Jesus “acolhe pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2) é porque Deus é um Pai que raramente pára em casa, um Pai “em saída”, porque está sempre em busca do filho que se perdeu. E, como tantas vezes nos lembrou o Papa Francisco, a Igreja de Jesus Cristo é uma “Igreja em saída”, uma Igreja que se desacomoda, que se suja, que se arrisca, para estar presente nas mais diversas “periferias existenciais”, onde se encontram inúmeras ovelhas perdidas, isto é, pessoas que ignoram o quanto são preciosas para Deus e, justamente por isso, são igualmente preciosas para a própria Igreja.       
Eis o testemunho que o apóstolo Paulo dá de si mesmo: “Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles!” (1Tm 1,15). E ele diz que essa palavra deve ser acolhida por todos. Isso significa que todos nós somos pessoas pecadoras que um dia foram encontradas pela misericórdia de Deus, manifestada na pessoa de seu Filho Jesus Cristo. E Jesus não constituiu a Igreja para ser o “reduto” dos salvos; Ele a constituiu para ser o lugar daqueles que um dia se perderam, mas que foram reencontrados pela misericórdia de Deus. Portanto, cada um de nós, discípulos de Jesus, tem a missão de procurar e salvar o que estava perdido, lembrando de que, cada vez que recuperamos alguém para Deus, estamos enchendo o Seu coração de alegria (cf. Lc 15,6-7.10).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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