sexta-feira, 29 de julho de 2016

SOLTE AS MÃOS DA BARRA DE SEGURANÇA

Missa do 18º. dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiastes 1,2;2,21-23; Colossenses 3,1-5.9-11; Lucas 12,13-21.

O Pe. Henri Nouwen, falecido em 1996, sempre admirou os trapezistas, pela coragem de fazerem o que fazem. Num dia, ao elogiar pessoalmente um deles chamando-o de “herói”, o trapezista lhe respondeu: “Eu não sou herói. Herói é quem me segura pelas mãos, quando eu solto a barra de segurança do meu trapézio”. No seu livro “Transforma meu pranto em dança”, ao relatar esse fato sob o título ‘Agarrar e soltar’, Henri Nouwen conclui que é assim que devemos fazer com relação a Deus: precisamos nos soltar das nossas barras de segurança para que Ele possa nos levar para lugares mais altos...
No mundo em que vivemos a nossa segurança se chama “dinheiro”. Apesar de ser uma falsa e ilusória segurança, nós nos agarramos a ela de uma forma tão doentia que nos tornamos gananciosos como este homem da parábola contada por Jesus, um homem profundamente egoísta, para quem a vida sempre gira em torno de si (“meus celeiros”, “meu trigo”, “meus bens”), da sua satisfação pessoal (“Descansa, come, bebe, aproveita” – Lc 12,19). 
“Mestre, diga ao meu irmão que reparta a herança comigo” (Lc 12,13). Por que a divisão de uma herança normalmente causa divisão numa família? Por que nós temos medo de ficar sem a nossa parte na herança? Por que nós, com tanta facilidade, nos agarramos ao dinheiro e nos tornamos pessoas gananciosas? Porque nós achamos que ‘precisamos nos garantir’. Nós temos medo de ficar desamparados na vida, assim como temos medo de ficar dependentes do favor ou da compaixão dos outros. Nós não soltamos da barra do trapézio do dinheiro porque achamos que ninguém nos estenderá a mão e, sem a ‘segurança’ do dinheiro, nós despencaremos e nos arrebentaremos no chão da vida.   
Jesus nos deixa claro que “a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15). A sua felicidade, a sua paz, a sua força e, sobretudo, a sua salvação não dependem daquilo que o seu dinheiro pode comprar. Talvez você já tenha sentido inveja das pessoas que têm dinheiro. Quanta ilusão achar que essas pessoas são felizes, ou que têm paz, ou que se sentem realizadas como ser humano. Pelo contrário: quanta tristeza, quanto vazio, quanta solidão, quanta desunião há no coração e na casa dessas pessoas. Os celeiros delas podem até estar cheios, mas há um vazio dentro delas que nada preenche. Não é de admirar que muitas delas recorram com tanta frequência à bebida, às drogas e, em muitos casos, ao suicídio.   
“Tomem cuidado contra todo tipo de ganância” (Lc 12,15). Por nos oferecer uma segurança ilusória, o dinheiro costuma tomar o lugar de Deus em nossa vida. Nós continuamos a crer em Deus, mas somente da boca para fora. Enquanto nossa boca diz: “O Senhor é meu pastor, nada me falta” (Sl 23,1), nosso coração tem uma outra “certeza”: ‘O dinheiro é meu pastor; com ele no bolso, nada haverá de me faltar’. E se for preciso mentir, trapacear, me corromper ou sacrificar valores sagrados como saúde, família e religião para consegui-lo, eu o farei sem nenhum peso de consciência. Afinal de contas, eu preciso me garantir’.    
O convite de Jesus hoje no Evangelho poderia ser traduzido dessa maneira: ‘Solte as mãos da barra do trapézio da ganância. Seu apego ao dinheiro tem colocado você dentro de uma prisão. Quanto mais você deseja possuir coisas, mais você se torna uma pessoa possuída, isto é, sem paz, sem verdadeira alegria, atormentada pelas dívidas, escrava de um consumismo insaciável, torturada por preocupações. “Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Mesmo de noite não repousa o coração” (Ecl 2,23). Solte-se da sua barra de segurança e se agarre às minhas mãos. Eu quero conduzir você para lugares mais altos. Aprenda comigo a buscar as coisas do alto, onde está a sua verdadeira vida. Faça morrer a sua ganância, que é uma idolatria (cf. Cl 3,1.5). Reconheça que somente Eu sou o teu Senhor e nenhum bem você pode encontrar fora de mim (cf. Sl 16,2). Solte-se dessa barra de segurança. Quanto mais você insiste em se agarrar a ela, mais será dolorido o momento em que a vida tirar você “à força” daí. Dê uma orientação fraterna ao seu dinheiro. Há muita gente necessitada à sua volta, pessoas que não são naturalmente pobres, mas feitas assim por causa da injustiça, da ganância e da corrupção que marcam o mundo atual. Abra o celeiro do seu coração aos necessitados. Socorrê-los é a sua verdadeira garantia de salvação junto a mim’ (cf. Mt 25,31-46).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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