quinta-feira, 7 de julho de 2016

A NECESSIDADE DE FAZER-ME PRÓXIMO

Missa do 15º. dom. comum. Palavra de Deus: Deuteronômio 30,10-14; Colossenses 1,15-20; Lucas 10,25-37.  

            O sacerdote “viu” o homem ferido e caído pelo caminho, “viu e passou pelo outro lado” (Lc 10,31). Assim também o levita: “viu e passou pelo outro lado” (Lc 10,32). O samaritano, por sua vez, “chegou junto dele, viu e se encheu de compaixão. Aproximou-se dele e tratou suas feridas...” (Lc 10,33-34). Num mundo como o nosso, onde ninguém enxerga ninguém, onde o individualismo nos impede de ver o próximo e sentir compaixão por ele, nós ainda vemos? O marido ainda vê a esposa, e vice- versa? Os pais ainda veem os filhos, e vice-versa? Os políticos veem o povo? Se o veem, de que maneira o veem? Nós, cristãos, vemos os que estão feridos e caídos à nossa volta? Ainda somos capazes de sentir compaixão pelos que sofrem?
            Meditando sobre este Evangelho que acabamos de ouvir, o Pe. José Pagola escreveu: “Quando a religião não está centrada num Deus que é Pai dos que sofrem, o culto sagrado pode transformar-se numa experiência que afasta da vida concreta, preserva do contato com o sofrimento das pessoas e nos faz caminhar sem reagir diante dos feridos que vemos nas sarjetas. Como é atual a ‘parábola do samaritano’ nesta sociedade de homens e mulheres que correm cada qual para suas preocupações, se agitam atrás de seus próprios interesses e gritam cada qual suas próprias reivindicações!”
            Jesus, “a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), nos revelou Deus como ‘Pai dos que sofrem’, e o culto que prestamos a Ele só é verdadeiro na medida em que ‘reagimos diante dos feridos que vemos nas sarjetas’ da vida. Reagimos como? Reagimos com misericórdia! Para Jesus, a misericórdia sempre foi mais do que um sentimento; foi uma reação diante de toda pessoa que sofre. É exatamente isso que Jesus espera de mim e de você: que não percamos tempo perguntando “quem é o meu próximo”, mas que nos façamos próximos de quem sofre, usando de misericórdia para com ele (cf. Lc 10,36-37).    
            A parábola do bom samaritano coloca uma pergunta para cada um de nós: de quem eu preciso me fazer próximo hoje? Talvez seja de alguém da minha casa... Na sua exortação “A alegria do amor”, o Papa Francisco afirma que “a família foi desde sempre o ‘hospital’ mais próximo. Prestemo-nos cuidados, apoiemo-nos e estimulemo-nos mutuamente, e vivamos tudo isto como parte da nossa espiritualidade familiar” (n.322). Até que ponto eu também tenho visto (ou quem sabe, evitado ver) alguém ferido e caído na minha família, e ‘passado pelo outro lado’, por não querer tocar na ferida dessa pessoa? Mas, talvez, a pessoa de quem eu tenha que me fazer próximo seja alguém do meu local de trabalho; talvez seja aquela pessoa que não tem a mesma religião que eu, ou que me prejudicou, ou que se tornou minha inimiga...
É difícil fazer-se próximo de quem sofre? Sim, com certeza. No entanto, de quem se poderá esperar a sensibilidade e o compromisso com quem sofre, se não de nós, cristãos, de nós, Igreja? Aqui cabem mais uma vez as palavras do Pe. José Pagola: “Se à Igreja não se lhe comovem as entranhas diante dos feridos que jazem nas sarjetas, tudo o que ela fizer e disser será bastante irrelevante. Só a compaixão pode tornar hoje a Igreja de Jesus mais humana e mais digna de crédito”. Além disso, mesmo sabendo o quanto nos custa nos comportar hoje como bons samaritanos em relação a quem sofre, lembremos do que o próprio Deus nos disse agora a pouco: “Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance... Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para que a possas pôr em prática” (Dt 30,11.14).
Escutemos a voz de Deus em nossa consciência e em nosso coração, para sabermos de quem somos chamados a nos fazer próximos, neste momento da nossa vida. Permitamos que Jesus nos ajude a enxergar a vida para além das nossas preocupações, dos nossos interesses, vendo aqueles que estão feridos e caídos à nossa volta e nos fazendo próximos deles. Deixemos com que o Espírito Santo desperte a força da compaixão dentro de nós, para que saibamos reagir com misericórdia quando, no caminho da vida, cruzarmos com alguém que está sofrendo. Acolhamos o desafio que Jesus nos faz, neste Evangelho, como se nos dissesse: ‘Ontem, eu estive no meio de vocês como Bom Samaritano, vendo-os feridos e caídos, me aproximando, me debruçando sobre vocês para tratar das suas feridas. Hoje eu desafio cada um de vocês a fazer o mesmo que eu fiz’. “Vá, e faça você também a mesma coisa” (Lc 10,37).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário:

  1. O senhor é um ser iluminado! Que Deus o abençoe! Que Ele o fortaleça para que continue a despertar nos que estão ao seu redor, e a todos aqueles que cruzarem o seu caminho,o verdadeiro sentido da vida: Amar uns aos outros. Obrigada pela mensagem, muitas vezes achamos que o próximo está longe e não nos damos conta que, muitas vezes, ele está debaixo no nosso teto, na casa do vizinho, no nosso ambiente de trabalho...

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