Missa
do 15º. dom. comum. Palavra de Deus: Deuteronômio 30,10-14; Colossenses
1,15-20; Lucas 10,25-37.
O sacerdote “viu” o homem ferido e
caído pelo caminho, “viu e passou pelo outro lado” (Lc 10,31). Assim também o
levita: “viu e passou pelo outro lado” (Lc 10,32). O samaritano, por sua vez, “chegou
junto dele, viu e se encheu de compaixão. Aproximou-se dele e tratou suas
feridas...” (Lc 10,33-34). Num mundo como o nosso, onde ninguém enxerga
ninguém, onde o individualismo nos impede de ver o próximo e sentir compaixão
por ele, nós ainda vemos? O marido ainda vê a esposa, e vice- versa? Os pais
ainda veem os filhos, e vice-versa? Os políticos veem o povo? Se o veem, de que
maneira o veem? Nós, cristãos, vemos os que estão feridos e caídos à nossa
volta? Ainda somos capazes de sentir compaixão pelos que sofrem?
Meditando sobre este Evangelho que
acabamos de ouvir, o Pe. José Pagola escreveu: “Quando a religião não está
centrada num Deus que é Pai dos que sofrem, o culto sagrado pode transformar-se
numa experiência que afasta da vida concreta, preserva do contato com o
sofrimento das pessoas e nos faz caminhar sem reagir diante dos feridos que
vemos nas sarjetas. Como é atual a ‘parábola do samaritano’ nesta sociedade de
homens e mulheres que correm cada qual para suas preocupações, se agitam atrás
de seus próprios interesses e gritam cada qual suas próprias reivindicações!”
Jesus, “a imagem do Deus invisível” (Cl
1,15), nos revelou Deus como ‘Pai dos que sofrem’, e o culto que prestamos a
Ele só é verdadeiro na medida em que ‘reagimos diante dos feridos que vemos nas
sarjetas’ da vida. Reagimos como? Reagimos com misericórdia! Para Jesus, a
misericórdia sempre foi mais do que um sentimento; foi uma reação diante de
toda pessoa que sofre. É exatamente isso que Jesus espera de mim e de você: que
não percamos tempo perguntando “quem é o meu próximo”, mas que nos façamos
próximos de quem sofre, usando de misericórdia para com ele (cf. Lc 10,36-37).
A parábola do bom samaritano coloca
uma pergunta para cada um de nós: de quem eu preciso me fazer próximo hoje? Talvez
seja de alguém da minha casa... Na sua exortação “A alegria do amor”, o Papa
Francisco afirma que “a família foi desde sempre o ‘hospital’ mais próximo.
Prestemo-nos cuidados, apoiemo-nos e estimulemo-nos mutuamente, e vivamos tudo isto
como parte da nossa espiritualidade familiar” (n.322). Até que ponto eu também
tenho visto (ou quem sabe, evitado ver) alguém ferido e caído na minha família,
e ‘passado pelo outro lado’, por não querer tocar na ferida dessa pessoa? Mas,
talvez, a pessoa de quem eu tenha que me fazer próximo seja alguém do meu local
de trabalho; talvez seja aquela pessoa que não tem a mesma religião que eu, ou que
me prejudicou, ou que se tornou minha inimiga...
É difícil fazer-se próximo de quem
sofre? Sim, com certeza. No entanto, de quem se poderá esperar a sensibilidade
e o compromisso com quem sofre, se não de nós, cristãos, de nós, Igreja? Aqui
cabem mais uma vez as palavras do Pe. José Pagola: “Se à Igreja não se lhe
comovem as entranhas diante dos feridos que jazem nas sarjetas, tudo o que ela
fizer e disser será bastante irrelevante. Só a compaixão pode tornar hoje a
Igreja de Jesus mais humana e mais digna de crédito”. Além disso, mesmo sabendo
o quanto nos custa nos comportar hoje como bons samaritanos em relação a quem
sofre, lembremos do que o próprio Deus nos disse agora a pouco: “Este
mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu
alcance... Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração, para
que a possas pôr em prática” (Dt 30,11.14).
Escutemos a voz de Deus em nossa consciência
e em nosso coração, para sabermos de quem somos chamados a nos fazer próximos,
neste momento da nossa vida. Permitamos que Jesus nos ajude a enxergar a vida
para além das nossas preocupações, dos nossos interesses, vendo aqueles que
estão feridos e caídos à nossa volta e nos fazendo próximos deles. Deixemos com
que o Espírito Santo desperte a força da compaixão dentro de nós, para que saibamos
reagir com misericórdia quando, no caminho da vida, cruzarmos com alguém que
está sofrendo. Acolhamos o desafio que Jesus nos faz, neste Evangelho, como se
nos dissesse: ‘Ontem, eu estive no meio de vocês como Bom Samaritano, vendo-os
feridos e caídos, me aproximando, me debruçando sobre vocês para tratar das
suas feridas. Hoje eu desafio cada um de vocês a fazer o mesmo que eu fiz’. “Vá,
e faça você também a mesma coisa” (Lc 10,37).
O senhor é um ser iluminado! Que Deus o abençoe! Que Ele o fortaleça para que continue a despertar nos que estão ao seu redor, e a todos aqueles que cruzarem o seu caminho,o verdadeiro sentido da vida: Amar uns aos outros. Obrigada pela mensagem, muitas vezes achamos que o próximo está longe e não nos damos conta que, muitas vezes, ele está debaixo no nosso teto, na casa do vizinho, no nosso ambiente de trabalho...
ResponderExcluir