Missa
do 19º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 18,6-9; Hebreus 11,1-2.8-19;
Lucas 12,32-48.
A palavra “esperança” percorreu todos os
textos bíblicos que acabamos de ouvir. Os hebreus, escravos no Egito, esperaram
pela “noite da libertação” (Sb 18,6), e essa esperança os ajudou a se manterem
não somente vivos, mas também firmes em sua fé (cf. Sb 18,6). Ao mesmo tempo, a
esperança que alimentava aquelas pessoas se traduzia numa atitude de vida: elas
eram solidárias umas para com as outras, solidárias nos mesmos bens e nos
mesmos perigos (cf. Sb 18,9).
O salmista, por sua vez, nos lembrou de
que os olhos do Senhor se dirigem para “os que o respeitam, e que confiam esperando
em seu amor” (Sl 33,18). Por isso, o salmista declara: “No Senhor nós esperamos
confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção!” (Sl 33,22a) e suplica: “Sobre
nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos” (Sl
33,22b).
Já a carta aos Hebreus nos lembrou de
que a fé é sempre portadora de esperança e a esperança, por sua vez, é
consequência da fé: “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera” (Hb
11,1). Se eu tenho fé e esperança em Deus, como Abraão teve, sou capaz de me
dispor a caminhar com Ele sem exigir que me diga exatamente para onde Ele quer
me conduzir e o que pretende fazer da minha vida. Se eu tenho fé e esperança em
Deus posso suportar viver como estrangeiro neste mundo, ‘morando em tendas’,
isto é, não me fixando onde não tenho que me fixar e não pretendendo me
assegurar com posses materiais indevidas, uma vez que estou esperando pela
minha morada definitiva, preparada pelo próprio Deus. Por fim, se eu tenho fé e
esperança em Deus sou capaz de lhe ‘sacrificar o meu Isaac’, isto é, sou capaz
de continuar a crer e a esperar em Deus, amá-lo e servi-lo, mesmo que Ele me
tire aquilo que de mais precioso já me concedeu.
Por fim, Jesus nos convidou a viver a
nossa vida dessa maneira: “Sejam como pessoas que estão esperando seu senhor
voltar” (Lc 12,36). Concretamente, o que isso significa? Significa que a vida
nos foi dada para ser administrada e não simplesmente aproveitada, usufruída, e
o mesmo Senhor, que nos deu a vida e nos capacitou para sermos administradores
fiéis e prudentes, nos pedirá contas se realmente cuidamos daqueles que foram
confiados aos nossos cuidados ou se passamos a vida nos servindo deles para os
nossos próprios interesses.
Ora, se a palavra “esperança” aparece
como eixo da liturgia desse final de semana, precisamos nos perguntar: Eu ainda
alimento esperança dentro de mim? De que maneira? Onde se assenta a minha
esperança: nos meus recursos intelectuais / emocionais / materiais ou na graça
de Deus para comigo? Eu espero em Deus e pelo seu socorro, pela sua
providência, pela sua justiça? A minha esperança no Pai que deseja me dar o
Reino me faz livre em relação aos bens materiais (cf. Lc 12,33-32)? Essa
esperança também me faz solidário para com as pessoas?
Neste primeiro final de semana do mês
vocacional celebramos a vocação do padre. O número de padres é muito pequeno,
diante da necessidade de evangelização. Mas o padre ainda é uma presença
necessária no mundo atual? Sim. O padre é uma presença necessária para ajudar a
humanidade a ter esperança, a não deixar de lutar e de esperar pela sua libertação,
a aprender a usar a força da esperança para se manter em pé diante das
dificuldades. O padre é uma presença necessária para lembrar às pessoas de hoje
que somos todos cidadãos do céu e não podemos fixar nossa morada neste mundo, e
se temos bens materiais, eles devem sejam usados para socorrer os pobres.
Enfim, o padre é uma presença necessária para ajudar a humanidade a esperar
pelo seu Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Ao celebrar a vocação sacerdotal neste
final de semana, nós, padres / bispos / pastores, ou seja, ministros de Deus,
podemos fazer uma autocrítica a partir das leituras bíblicas que ouvimos. Como
ministro de Deus, eu sou um homem de esperança? Eu comungo dos
perigos/sofrimentos do meu povo, ou somente dos seus bens, das suas conquistas
e das suas alegrias? Uma recente pesquisa revelou que a maior causa de
desistência do ministério sacerdotal por parte de alguns padres é a falta de fé.
Eu sou um homem de fé? Cuido da minha fé tanto quanto cuido da minha saúde e do
meu bem estar? Sustentado pela fé, Abraão aceitou residir “como estrangeiro na
terra prometida, morando em tendas” (Hb 11,9). Minha casa é uma ‘tenda’, uma
morada simples e provisória, ou, por me achar rei, fiz ou pretendo fazer dela
meu palácio particular? “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso
coração” (Lc 12,34). Aquilo que dá sentido à minha vida e me realiza
verdadeiramente como pessoa é servir a Deus atendendo pessoas, visitando
doentes, ministrando sacramentos ou desfrutando dos benefícios que a ‘vida de
padre’ me oferece? Jesus deixou claro que o administrador fiel e prudente é
aquele que dá “comida a todos na hora certa” (Lc 12,42). Eu estou servindo o
povo que me foi confiado ou estou servindo-me dele para sustentar um estilo de
vida do tipo “bon vivant” (expressão francesa que significa “boa vida” ou
que qualifica determinado indivíduo como “amante dos prazeres da vida”)? “A
quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais
será exigido!” (Lc 12,48). Aquilo que se exige de mim, como de qualquer
ministro de Deus, é a decência, decência não só quanto ao comportamento moral,
mas também na maneira como eu administro o dízimo e as ofertas da ‘minha’ igreja...
Rezemos uns pelos outros. Nós, ministros de Deus, estamos precisando mais do
que nunca de conversão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário