quinta-feira, 4 de agosto de 2016

HOMENS E MULHERES DE ESPERANÇA

Missa do 19º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 18,6-9; Hebreus 11,1-2.8-19; Lucas 12,32-48.
     
A palavra “esperança” percorreu todos os textos bíblicos que acabamos de ouvir. Os hebreus, escravos no Egito, esperaram pela “noite da libertação” (Sb 18,6), e essa esperança os ajudou a se manterem não somente vivos, mas também firmes em sua fé (cf. Sb 18,6). Ao mesmo tempo, a esperança que alimentava aquelas pessoas se traduzia numa atitude de vida: elas eram solidárias umas para com as outras, solidárias nos mesmos bens e nos mesmos perigos (cf. Sb 18,9).
O salmista, por sua vez, nos lembrou de que os olhos do Senhor se dirigem para “os que o respeitam, e que confiam esperando em seu amor” (Sl 33,18). Por isso, o salmista declara: “No Senhor nós esperamos confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção!” (Sl 33,22a) e suplica: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos” (Sl 33,22b).
Já a carta aos Hebreus nos lembrou de que a fé é sempre portadora de esperança e a esperança, por sua vez, é consequência da fé: “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera” (Hb 11,1). Se eu tenho fé e esperança em Deus, como Abraão teve, sou capaz de me dispor a caminhar com Ele sem exigir que me diga exatamente para onde Ele quer me conduzir e o que pretende fazer da minha vida. Se eu tenho fé e esperança em Deus posso suportar viver como estrangeiro neste mundo, ‘morando em tendas’, isto é, não me fixando onde não tenho que me fixar e não pretendendo me assegurar com posses materiais indevidas, uma vez que estou esperando pela minha morada definitiva, preparada pelo próprio Deus. Por fim, se eu tenho fé e esperança em Deus sou capaz de lhe ‘sacrificar o meu Isaac’, isto é, sou capaz de continuar a crer e a esperar em Deus, amá-lo e servi-lo, mesmo que Ele me tire aquilo que de mais precioso já me concedeu.
Por fim, Jesus nos convidou a viver a nossa vida dessa maneira: “Sejam como pessoas que estão esperando seu senhor voltar” (Lc 12,36). Concretamente, o que isso significa? Significa que a vida nos foi dada para ser administrada e não simplesmente aproveitada, usufruída, e o mesmo Senhor, que nos deu a vida e nos capacitou para sermos administradores fiéis e prudentes, nos pedirá contas se realmente cuidamos daqueles que foram confiados aos nossos cuidados ou se passamos a vida nos servindo deles para os nossos próprios interesses.  
Ora, se a palavra “esperança” aparece como eixo da liturgia desse final de semana, precisamos nos perguntar: Eu ainda alimento esperança dentro de mim? De que maneira? Onde se assenta a minha esperança: nos meus recursos intelectuais / emocionais / materiais ou na graça de Deus para comigo? Eu espero em Deus e pelo seu socorro, pela sua providência, pela sua justiça? A minha esperança no Pai que deseja me dar o Reino me faz livre em relação aos bens materiais (cf. Lc 12,33-32)? Essa esperança também me faz solidário para com as pessoas?
Neste primeiro final de semana do mês vocacional celebramos a vocação do padre. O número de padres é muito pequeno, diante da necessidade de evangelização. Mas o padre ainda é uma presença necessária no mundo atual? Sim. O padre é uma presença necessária para ajudar a humanidade a ter esperança, a não deixar de lutar e de esperar pela sua libertação, a aprender a usar a força da esperança para se manter em pé diante das dificuldades. O padre é uma presença necessária para lembrar às pessoas de hoje que somos todos cidadãos do céu e não podemos fixar nossa morada neste mundo, e se temos bens materiais, eles devem sejam usados para socorrer os pobres. Enfim, o padre é uma presença necessária para ajudar a humanidade a esperar pelo seu Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Ao celebrar a vocação sacerdotal neste final de semana, nós, padres / bispos / pastores, ou seja, ministros de Deus, podemos fazer uma autocrítica a partir das leituras bíblicas que ouvimos. Como ministro de Deus, eu sou um homem de esperança? Eu comungo dos perigos/sofrimentos do meu povo, ou somente dos seus bens, das suas conquistas e das suas alegrias? Uma recente pesquisa revelou que a maior causa de desistência do ministério sacerdotal por parte de alguns padres é a falta de fé. Eu sou um homem de fé? Cuido da minha fé tanto quanto cuido da minha saúde e do meu bem estar? Sustentado pela fé, Abraão aceitou residir “como estrangeiro na terra prometida, morando em tendas” (Hb 11,9). Minha casa é uma ‘tenda’, uma morada simples e provisória, ou, por me achar rei, fiz ou pretendo fazer dela meu palácio particular? “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,34). Aquilo que dá sentido à minha vida e me realiza verdadeiramente como pessoa é servir a Deus atendendo pessoas, visitando doentes, ministrando sacramentos ou desfrutando dos benefícios que a ‘vida de padre’ me oferece? Jesus deixou claro que o administrador fiel e prudente é aquele que dá “comida a todos na hora certa” (Lc 12,42). Eu estou servindo o povo que me foi confiado ou estou servindo-me dele para sustentar um estilo de vida do tipo “bon vivant” (expressão francesa que significa “boa vida” ou que qualifica determinado indivíduo como “amante dos prazeres da vida”)? “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12,48). Aquilo que se exige de mim, como de qualquer ministro de Deus, é a decência, decência não só quanto ao comportamento moral, mas também na maneira como eu administro o dízimo e as ofertas da ‘minha’ igreja... Rezemos uns pelos outros. Nós, ministros de Deus, estamos precisando mais do que nunca de conversão.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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