quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O FOGO E A DIVISÃO SÃO NECESSÁRIOS EM NOSSA VIDA

Missa do 20º. Dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 38,4-6.8-10; Hebreus 12,1-4; Lucas 12,49-53.

“Eu vim lançar fogo sobre a terra” (Lc 12,49). De que “fogo” Jesus está nos falando? O fogo é uma das imagens bíblicas do Espírito Santo. Assim como o fogo purifica o ouro, a prata, o metal, assim o Espírito Santo nos purifica a partir de dentro, do coração, onde se escondem as nossas maiores “sujeiras” (cf. Mc 7,20-23). E assim como o fogo dobra o que é duro – basta lembrar o duro metal que se torna flexível quando em contato com o fogo – assim o Espírito Santo é capaz de dobrar a dureza do nosso coração, do nosso ego, endurecido na sua obstinação.  
Hoje, encerrando a semana da família e celebrando o dia dos pais, pedimos a Jesus que faça descer o fogo do Espírito Santo sobre cada casa, cada família e sobre o coração de cada pai, purificando as famílias da sujeira dos desentendimentos, das agressões físicas e verbais, dobrando a dureza dos corações endurecidos pela raiva e pelo ressentimento, libertando o coração do pai da agressividade que machuca a si mesmo e aos outros, rompendo com as correntes que o mantém prisioneiro da depressão, da bebida, da droga, do adultério, da desonestidade (corrupção) e da falta de fé.
“Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer a divisão” (Lc 12,51). De que “divisão” Jesus está nos falando? O Espírito Santo é chamado pelo próprio Jesus de “Espírito da Verdade” (Jo 16,13). A verdade incomoda e tira a paz, porque questiona e desmascara a injustiça quem cometemos. A verdade chuta para longe as nossas muletas e nos obriga a andar com as nossas próprias pernas. O Espírito da Verdade não se interessa pelas nossas reclamações, não se deixa enganar pelas nossas desculpas e não aceita ser submetido a nenhum tipo de chantagem da nossa parte. Não é por acaso que Ele não é aceito por nós, quando nos mantemos no nível do nosso ego, como afirma o apóstolo Paulo: “O homem psíquico não aceita o que vem do Espírito de Deus” (1Cor 2,14).
Mas, em que sentido a família hoje, e especialmente o pai, precisam dessa “divisão” que Jesus veio trazer com a verdade do Evangelho? A palavra de Jesus precisa penetrar em nós “até dividir alma e espírito” (Hb 4,12), nos tornando conscientes daquilo que preferimos ignorar em nós: as verdadeiras intenções do nosso coração. O Espírito da Verdade precisa penetrar em nossa casa, “dividir” a nossa família e revelar a mentira das falsas compensações que costumamos dar para a nossa vida afetiva/sexual/financeira/social. Só a verdade do Espírito Santo pode fazer o marido e a mulher se confrontarem com sinceridade e se responsabilizarem mutuamente pela qualidade de vida que se vive dentro de casa. Os pais precisam da força do Espírito Santo para educarem seus filhos na verdade e ajudá-los a se convencerem de que nós “nada podemos contra a verdade, mas só temos poder em favor da verdade” (2Cor 12,8).
Olhando mais uma vez para a figura do pai, hoje pedimos a Jesus que conduza os pais a essa transformação tão necessária: que “o homem psíquico” que habita em cada um deles diminua, para que cresça “o homem espiritual” (1Cor 2,15); que eles desejem ser habitados pelo Espírito Santo e se deixem curar e salvar pela “verdade que liberta” (Jo 8,32); que o pai tenha a coragem de ser uma presença que “divide”, que “separa”. Em que sentido? Segundo uma reportagem de Folha de São Paulo* (27/06/2016), 2 em cada 3 menores infratores não têm pai dentro de casa. O pai pode, com a sua efetiva presença paterna, “separar” o filho do mundo do crime. Além disso, a presença afetiva e firme do pai tem a função de “dividir” o filho homem em relação à mãe e “separá-lo” dela, a fim de que ele desenvolva de maneira saudável a sua identidade masculina.  
Três palavras finais para as famílias, especialmente para o pai; a primeira, da Sagrada Escritura; as duas últimas, do Papa Francisco: 1) “Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus... Em vista da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, não se importando com a infâmia...” (Hb 12,1.2). 2) “Deus coloca o pai na família, para que, com as características preciosas da sua masculinidade, esteja próximo da esposa, para compartilhar tudo, alegrias e dores, dificuldades e esperanças. E esteja próximo dos filhos no seu crescimento: quando brincam e quando se aplicam, quando estão descontraídos e quando se sentem angustiados, quando se exprimem e quando permanecem calados, quando ousam e quando têm medo, quando dão um passo errado e quando voltam a encontrar o caminho; pai presente, sempre” (A Alegria do amor, 177). 3) “Querer formar uma família é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história de construir um mundo onde ninguém se sinta só” (A Alegria do amor, 322).
* Levantamento feito com 1.500 jovens entre 12 e 18 anos de idade. Eles cometeram delitos em São Paulo. 42% deles, além de não terem o pai dentro de casa, não têm contato com o mesmo. Segundo o Promotor Eduardo Del Campo, uma família funcional e presente é o primeiro sistema de freios que um jovem terá sobre suas condutas. O outro sistema de freio é a escola. Aqui o problema é a evasão escolar: apenas 57% dos adolescentes infratores estudam. Ainda segundo a reportagem, especialistas dizem que a derrocada de um adolescente – a ponto de levá-lo para o crime – começa quando ele perde os vínculos positivos e passa a sofrer privação emocional. Na ausência do pai ou da mãe, é preciso que exista uma espécie de “padrinho”, para oferecer este vínculo positivo ao adolescente.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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