quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

DOIS MONTES, DOIS PAIS, DOIS FILHOS ÚNICOS, DUAS IMAGENS DE DEUS

Missa do 2º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 22,1-2.9a.10-13.15-18; Romanos 8,31b-34; Marcos 9,2-10.

Dois montes: aquele que Abraão sobe, levando consigo Isaac, e aquele que Jesus sobe, levando consigo Pedro, Tiago e João. Dois pais: Abraão e Deus. Dois filhos únicos, amados: Isaac e Jesus. Duas imagens de Deus: o Deus Pai que poupou Isaac do sacrifício, e o Deus Pai que “não poupou seu próprio Filho (do sacrifício da cruz), mas o entregou por todos nós” (Rm 8,32).
Neste segundo domingo da quaresma, a Escritura se dirige a nós dizendo: “Deus pôs Abraão à prova” (Gn 22,1). Não somente neste período de Quaresma, mas ao longo da vida, Deus também nos põe à prova: ‘Você caminha comigo por causa de Mim ou por causa daquilo que Eu posso fazer por você?’ ‘Você me procura por Mim mesmo ou por causa das minhas bênçãos?’ ‘Você permanece firme, segurando em minhas mãos, somente enquanto Eu te ajudo ou também quando Eu, aparentemente, deixo de te ajudar?’ ‘Você confia em Mim somente quando Eu te dou algo ou também quando eu permito que você perca aquilo que Eu te dei?’
“Toma teu filho único, Isaac, a quem tanto amas... e oferece-o... em holocausto sobre um monte que eu vou te indicar” (Gn 9,2). Todos nós temos o nosso Isaac, alguém ou algo que amamos como se fosse nosso filho único. Isaac pode ser minha saúde, meus bens materiais, minha beleza, minha jovialidade, minha carreira profissional, minha fama, minha projeção na sociedade, mas também meu vício, meu pecado, meu prazer...
Isaac é sempre aquilo que eu tanto amo. Oferecer isso a Deus em “holocausto” significa “matar e queimar”, de modo que sobrem apenas cinzas daquilo que eu tanto amo. Em outras palavras, devo dar tudo a Deus, sem ficar com parte alguma comigo para guardar de lembrança. Quem de nós consegue fazer isso? Na verdade, só existe um jeito de abrir mão daquilo que tanto amamos e entregá-lo a Deus: se houver confiança. É o que a Escritura chama de temor: “Agora sei que temes a Deus...” (Gn 22,12). O temor bíblico é sinônimo de confiança e de obediência: eu não sei por que Deus está me pedindo isso, mas eu confio que Ele sabe o que está fazendo. Não entendo, não compreendo, me parece um grande absurdo, mas eu confio; confio e me mantenho agarrado às mesmas Mãos às quais entreguei o que eu mais amo na minha vida.
“Não me recusaste teu filho único” (Gn 22,12). Quantas coisas você já recusou entregar a Deus? Não se trata de entregar aquilo que você tanto ama para que Deus mate, queima e destrua, mas para que Ele cuide. Isaac foi poupado do sacrifício justamente para corrigir uma imagem errada que se tinha de Deus na época. Então, por que nós recusamos entregar tantas coisas a Deus? Por que nós recusamos entregar aquilo que mais amamos a Deus? Porque não confiamos n’Ele; porque queremos ficar no controle, achando que aquilo que estará mais seguro em nossas mãos do que nas mãos de Deus.
Quanto menos confiamos em Deus, mais recusamos a nos entregar em Suas mãos. No entanto, o apóstolo Paulo nos convida a exercitar a nossa confiança em Deus, nos apoiando nesta verdade: “Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com ele?” (Rm 8,32). Tudo o que eu “perco” para Deus está a salvo, porque sei que Ele me dará tudo junto com seu Filho Jesus Cristo. Só quando confiamos nisso é que podemos dizer com o salmista: “Guardei a minha fé mesmo dizendo: ‘É demais o sofrimento em minha vida!’” (Sl 116,10). Guardei a minha fé mesmo quando Deus permitiu que eu perdesse o que mais amava em minha vida. Infelizmente, para a maioria de nós, quando se torna demais o sofrimento em nossa vida, a primeira coisa que perdemos, a primeira coisa que vai embora, é a nossa fé...
            No final do texto bíblico, fica claro o motivo pelo qual Deus colocou Abraão à prova: para nos ensinar que a fé só é verdadeira quando se traduz em obediência. “Eu te abençoarei e tornarei... numerosa tua descendência... porque me obedeceste” (Gn 22,17.18). E o Evangelho esclarece que obedecer a Deus significa escutar seu Filho Jesus: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9,7). Se Jesus está agora transfigurado diante dos discípulos e de nós é para que compreendamos que a desfiguração das provas e da cruz de cada dia se desdobrará na transfiguração definitiva, que é a ressurreição, a verdadeira bênção que o Pai reservou para todos aqueles que não se recusam a obedecê-Lo, qualquer que seja a circunstância em que estão vivendo.  

Para a sua oração pessoal: LOUVAREI NA TEMPESTADE (PG) 

http://letras.mus.br/pg/1615873/ ou https://www.youtube.com/watch?v=9j2YjkSCVaM

                                                                                    
         Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário:

  1. Sem medo de dizer: depois de tantos anos frequentando igrejas e participando de missas, sómente agora entendi o verdadeiro significado do que a Escritura chama de temor: “Agora sei que temes a Deus...” (Gn 22,12); Num profundo desconhecimento da Escritura entedia que significava, não o castigo Divino, mas temor ao julgamento final.

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