Missa
do 1º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 9,8-15; 1Pedro 3,18-22;
Marcos 1,12-15.
Neste
primeiro domingo da quaresma, a Palavra de Deus faz duas referências a Noé, à arca
e ao dilúvio (1ª. e 2ª. leituras). O que isso tem a nos dizer? Na visão
teológica, o dilúvio foi uma resposta de Deus à maldade do ser humano: “Deus
viu que a maldade do homem era grande sobre a terra, e que era mau todo
desígnio de seu coração. Deus arrependeu-se de ter feito o homem sobre a
terra... ‘Farei desaparecer da superfície do solo os homens que criei... porque
me arrependi de tê-los feito’” (Gn 6,5-7). Na visão científica, o dilúvio se
explica como uma contra reação da natureza à ação exterminadora do homem sobre o
meio ambiente.
Séculos
se passaram e hoje a região mais rica do Brasil está de joelhos, sofrendo a
ação exterminadora da falta de chuva. Graças a Deus, fevereiro tem nos trazido
chuvas acima da média, mas o estrago feito pela falta de chuva no ano passado
vai demorar cerca de 10 anos para ser reparado, isso se chover segundo a média
dos anos anteriores, coisa que dificilmente acontecerá. A falta de chuva no Sudeste
é consequência do desmatamento da Amazônia: o ser humano extermina as árvores,
responsáveis pela formação de nuvens, e agora corre o risco de ser “exterminado”
pela falta de água.
Mas,
voltemos a Noé. Ele “encontrou graça aos olhos de Deus” (Gn 6,8). Noé foi
instrumento de Deus para salvar, para recomeçar a humanidade. Você é só mais um
que faz o mau sobre a terra ou é alguém a partir de quem Deus pode recuperar a
humanidade? Hoje nós vemos inúmeras vidas sendo exterminadas pelo “dilúvio” da
violência e das drogas, vidas afogadas nos vícios e nas dívidas, consequência
dos vícios; vidas exterminadas pelo fanatismo religioso e pelo mercado financeiro;
vidas exterminadas pelo suicídio, cometido por pessoas afogadas em seus
problemas, em seus conflitos, incapazes de lidarem com frustrações... De que
forma podemos ser “Noé” para essas pessoas?
Depois
do dilúvio, o arco-íris surgiu no céu: “Estabeleço convosco a minha aliança:
numa mais nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio... Ponho meu
arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra... Eu me lembrarei de
minha aliança convosco e com todas as espécies de seres vivos” (Gn 9,11.13.15).
A curvatura de um arco mostra a direção para a qual ele aponta a sua flecha. O
arco-íris aponta para o céu. Qual a direção que você está dando à flecha da sua
vida? Quais são as suas metas, os seus objetivos, como ser humano? O Salmo 25,4-5
convida você a apontar a sua existência para o céu, a manter a sua consciência
aberta para Deus: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a
vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da
minha salvação!”
Vivemos
numa época em que o individualismo e a indiferença para com o próximo estão
exterminando a humanidade. Por isso, a Campanha da Fraternidade deste ano nos convida
a retomar a consciência da nossa presença cristã na sociedade. Concretamente,
este é o apelo do Espírito de Deus a cada cristão: Seja SAL DA TERRA: como o sal preserva a carne do apodrecimento, envolva-se
em trabalhos que ajudem a preservar a vida à sua volta (cf. Mt 5,13). Seja LUZ
DO MUNDO: leve, com suas atitudes, a luz do Evangelho a quem se encontra na
escuridão (cf. Mt 5,16). Seja FERMENTO NA MASSA, uma presença de Deus onde Ele
é ignorado, negado ou mesmo rejeitado (cf. Mt 13,33). Seja BÁLSAMO: visite
doentes, idosos, pessoas solitárias. Leve uma palavra de conforto a quem está
abatido (cf. Is 50,4). Seja ANJO DA GUARDA: ajude no trabalho com menores
carentes, jovens dependentes químicos e famílias desestruturadas, como Jesus,
que veio procurar e salvar o que estava perdido (cf. Mt 18,1-7.12-14; Lc 19,10).
Seja ALIMENTO: ofereça seus cinco pães e seus dois peixes para que não haja
fome e os desempregados não precisem se tornar criminosos para sobreviverem
(cf. Mt 14,13-21).
Para
finalizar esta reflexão, o Evangelho nos aponta para o perigo real das
tentações. O verdadeiro cristão não deve ceder à tentação do pessimismo – chegar
à conclusão de que o ser humano não tem regeneração; ou à tentação de ceder ao
mal – corromper-se, anestesiar sua consciência a partir dos contra valores do
mundo, deixando de ser fiel aos valores do Evangelho. O verdadeiro cristão não
pode ceder à tentação de aderir à violência – matar, exterminar, tornar-se agressivo.
Por fim, nenhum cristão deve ceder à tentação de afrouxar o seu arco e deixar
de apontar para Deus... Deixemo-nos conduzir pelo Espírito de Deus que
recebemos no Batismo. Que Ele nos dê uma consciência boa, convicta da vitória do
bem sobre o mal, da vida sobre a morte, a partir da ressurreição de Jesus
Cristo.
Para
a sua oração pessoal:
TEMPO DE VOLTAR (Pe. Fábio de Melo)
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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