quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

PARA ONDE APONTA A CURVATURA DA SUA VIDA?

Missa do 1º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 9,8-15; 1Pedro 3,18-22; Marcos 1,12-15.

Neste primeiro domingo da quaresma, a Palavra de Deus faz duas referências a Noé, à arca e ao dilúvio (1ª. e 2ª. leituras). O que isso tem a nos dizer? Na visão teológica, o dilúvio foi uma resposta de Deus à maldade do ser humano: “Deus viu que a maldade do homem era grande sobre a terra, e que era mau todo desígnio de seu coração. Deus arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra... ‘Farei desaparecer da superfície do solo os homens que criei... porque me arrependi de tê-los feito’” (Gn 6,5-7). Na visão científica, o dilúvio se explica como uma contra reação da natureza à ação exterminadora do homem sobre o meio ambiente.
Séculos se passaram e hoje a região mais rica do Brasil está de joelhos, sofrendo a ação exterminadora da falta de chuva. Graças a Deus, fevereiro tem nos trazido chuvas acima da média, mas o estrago feito pela falta de chuva no ano passado vai demorar cerca de 10 anos para ser reparado, isso se chover segundo a média dos anos anteriores, coisa que dificilmente acontecerá. A falta de chuva no Sudeste é consequência do desmatamento da Amazônia: o ser humano extermina as árvores, responsáveis pela formação de nuvens, e agora corre o risco de ser “exterminado” pela falta de água.
Mas, voltemos a Noé. Ele “encontrou graça aos olhos de Deus” (Gn 6,8). Noé foi instrumento de Deus para salvar, para recomeçar a humanidade. Você é só mais um que faz o mau sobre a terra ou é alguém a partir de quem Deus pode recuperar a humanidade? Hoje nós vemos inúmeras vidas sendo exterminadas pelo “dilúvio” da violência e das drogas, vidas afogadas nos vícios e nas dívidas, consequência dos vícios; vidas exterminadas pelo fanatismo religioso e pelo mercado financeiro; vidas exterminadas pelo suicídio, cometido por pessoas afogadas em seus problemas, em seus conflitos, incapazes de lidarem com frustrações... De que forma podemos ser “Noé” para essas pessoas?
Depois do dilúvio, o arco-íris surgiu no céu: “Estabeleço convosco a minha aliança: numa mais nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio... Ponho meu arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra... Eu me lembrarei de minha aliança convosco e com todas as espécies de seres vivos” (Gn 9,11.13.15). A curvatura de um arco mostra a direção para a qual ele aponta a sua flecha. O arco-íris aponta para o céu. Qual a direção que você está dando à flecha da sua vida? Quais são as suas metas, os seus objetivos, como ser humano? O Salmo 25,4-5 convida você a apontar a sua existência para o céu, a manter a sua consciência aberta para Deus: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação!”
Vivemos numa época em que o individualismo e a indiferença para com o próximo estão exterminando a humanidade. Por isso, a Campanha da Fraternidade deste ano nos convida a retomar a consciência da nossa presença cristã na sociedade. Concretamente, este é o apelo do Espírito de Deus a cada cristão: Seja SAL DA TERRA: como o sal preserva a carne do apodrecimento, envolva-se em trabalhos que ajudem a preservar a vida à sua volta (cf. Mt 5,13). Seja LUZ DO MUNDO: leve, com suas atitudes, a luz do Evangelho a quem se encontra na escuridão (cf. Mt 5,16). Seja FERMENTO NA MASSA, uma presença de Deus onde Ele é ignorado, negado ou mesmo rejeitado (cf. Mt 13,33). Seja BÁLSAMO: visite doentes, idosos, pessoas solitárias. Leve uma palavra de conforto a quem está abatido (cf. Is 50,4). Seja ANJO DA GUARDA: ajude no trabalho com menores carentes, jovens dependentes químicos e famílias desestruturadas, como Jesus, que veio procurar e salvar o que estava perdido (cf. Mt 18,1-7.12-14; Lc 19,10). Seja ALIMENTO: ofereça seus cinco pães e seus dois peixes para que não haja fome e os desempregados não precisem se tornar criminosos para sobreviverem (cf. Mt 14,13-21). 
Para finalizar esta reflexão, o Evangelho nos aponta para o perigo real das tentações. O verdadeiro cristão não deve ceder à tentação do pessimismo – chegar à conclusão de que o ser humano não tem regeneração; ou à tentação de ceder ao mal – corromper-se, anestesiar sua consciência a partir dos contra valores do mundo, deixando de ser fiel aos valores do Evangelho. O verdadeiro cristão não pode ceder à tentação de aderir à violência – matar, exterminar, tornar-se agressivo. Por fim, nenhum cristão deve ceder à tentação de afrouxar o seu arco e deixar de apontar para Deus... Deixemo-nos conduzir pelo Espírito de Deus que recebemos no Batismo. Que Ele nos dê uma consciência boa, convicta da vitória do bem sobre o mal, da vida sobre a morte, a partir da ressurreição de Jesus Cristo.    


Para a sua oração pessoal: 
TEMPO DE VOLTAR (Pe. Fábio de Melo)

Pe. Paulo Cezar Mazzi


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