Missa
do 5º. dom. comum. Palavra de Deus: Jó 7,1-4.6-7; 1Cor 9,16-19.22-23; Marcos
1,29-39.
A
Palavra que hoje ouvimos se inicia com o desabafo de Jó, um homem ferido por
uma grave doença, cujos dias se consomem sem esperança, e se conclui com Jesus
curando muitas pessoas de diversas doenças. Quantas pessoas você conhece que
estão doentes? Quantos de nós, aqui, estamos doentes? Quantas pessoas não aceitam
admitir que estão doentes e precisam de ajuda? Apesar de todo avanço da
ciência, da medicina e da tecnologia, o câncer e a depressão se dissipam e
atingem pessoas de todas as idades e de todas as classes sociais, para
mencionar apenas essas duas enfermidades.
A
doença pode surgir em nosso corpo, ou em nossa alma ou ainda em nosso espírito,
mas ela se faz sentir em todo o nosso ser. Às vezes, a raiz da doença se
encontra fora de nós. Aqui pensamos não só em algum tipo de contaminação, mas nas
pressões que a sociedade moderna exerce sobre nós: exigências do mercado,
inversão de valores, consumismo etc. Mas, às vezes, a raiz da doença está
dentro de nós: a forma como lidamos conosco mesmos, com os outros e com os
acontecimentos.
Quer
venha de fora, quer venha de dentro, a doença é um grito que precisamos ouvir e
que pode estar nos dizendo: ‘Você está agindo contra a sua natureza’; ‘Você
está desconsiderando os seus próprios limites’; ‘Você está se distanciando cada
vez mais da sua verdade’; ‘Você precisa parar e rever as suas prioridades’;
‘Você se tornou escravo do dinheiro, dos bens materiais, da tecnologia, da
pressa’; ‘Você gasta um bom tempo cuidando do seu corpo, mas diz não ter tempo
para cuidar da sua alma e do seu espírito’; ‘Você precisa ouvir seus
sentimentos e encarar os seus conflitos internos’...
Um dos males que atualmente está nos
adoecendo é o PESSIMISMO. Assim como Jó, constatamos que a vida de todo ser
humano é uma luta sobre a terra: luta pela sobrevivência, por um lugar no
mercado de trabalho, pela família, pela formação dos filhos etc. Muitas vezes,
o resultado dessa luta é frustrante: “meses de decepção” e “noites de
sofrimento” – quantos de nós estamos sofrendo de insônia? Os dias correm
rápido, sem que possamos assimilar tudo o que nos acontece. Muitas perguntas
vão ficando sem respostas, muitos projetos que começamos vão ficando inacabados
porque outras exigências ou urgências surgiram. Desse modo, temos a sensação de
que nossos dias “se consomem sem esperança” de uma melhora, de uma solução, de
um final feliz. Contaminados pelo pessimismo, chegamos à conclusão de que a
nossa vida “é apenas um sopro” e nós não voltaremos “a ver a felicidade”.
Diversas
vezes o Papa Francisco tem dito que precisamos dizer NÃO ao pessimismo, NÃO ao
que ele chama de “psicologia do túmulo”. “A ânsia moderna de chegar a
resultados imediatos faz com que os agentes pastorais não tolerem facilmente
tudo o que signifique alguma contradição, um aparente fracasso, uma crítica,
uma cruz... Desenvolve-se a psicologia do túmulo... Desiludidos com a
realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a se
apegar a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como o
mais precioso ‘elixir do demônio’. Chamados para iluminar e comunicar vida,
acabam por se deixar cativar por coisas que só geram escuridão e cansaço
interior e corroem o dinamismo apostólico... Não deixemos que nos roubem a
alegria da evangelização!” (A alegria do
Evangelho 82-83).
Assim
como Jesus segurou a mão da sogra de Pedro e a ajudou a se levantar, assim Ele
segura a nossa mão hoje para nos ajudar a nos levantar do túmulo do pessimismo
e nos colocar a serviço da vida e da esperança, certos de que a cura, a
libertação, a vitória, a superação, a mudança, a transformação nossa e da
sociedade humana se dá sempre a partir da cruz, nunca sem ela. Desse modo, os
olhos da nossa fé se dirigem para o Senhor, que sempre nos envia sua Palavra para nos curar e para arrancar da cova a nossa
vida (cf. Sl 107,20), que “conforta os corações despedaçados”, que “enfaixa
suas feridas e as cura”; Ele que “é o amparo dos humildes” (Sl 147).
Depois
de descansar um pouco, “Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc
1,35). A fonte de cura é o Pai e somente Ele. Com que frequência você tem
tomado o remédio da oração? Há quanto
tempo você não faz uso do remédio do silêncio?
Que espaço você dá para que Deus se aproxime de você e possa tocar na sua
ferida para curá-la? Você reconhece o quanto o perdão é fonte de cura? Até que ponto você não precisa se perdoar,
ou perdoar alguém, ou perdoar Deus, para que a sua ferida possa se fechar? Por
fim, lembre-se de que a aceitação
também é um poderoso remédio: aceitar aquilo que eu não posso mudar; aceitar a
minha história de vida; aceitar as perguntas que ainda não foram respondidas...
Um
detalhe final: quando os discípulos dizem a Jesus: “Todos estão te procurando”
(Mc 1,37), oportunidade ímpar para Jesus alimentar o seu ego, alargar
grandemente o número de seus seguidores no Face, vender seus CD’s e livros e
confirmar para Si mesmo o quanto Ele é bom, único e insubstituível no que faz –
necessidade que Jesus em verdade nunca teve –, Ele diz: “Vamos a outros
lugares... Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim” (Mc 1,38). É
um alerta que Jesus faz a cada um de nós: Eu não vim para responder todas as
suas perguntas, nem para curar todos os seus males, nem para resolver todos os
seus problemas, nem para cancelar todas as suas fraquezas. Eu não vim para
carregar você no colo, mas para ajudá-lo a se levantar e a caminhar com suas
próprias pernas. E, quem sabe, você se disponha a me seguir e não só a usufruir
da minha bênção, ajudando para que a alegria do meu Evangelho possa chegar a
outros lugares aonde ela ainda não chegou...
Para
sua oração pessoal: TOCAR EM TUAS VESTES (Adriana)
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