Missa
do 6º. dom. comum. Palavra de Deus: 2Reis 5,9-14; 1Coríntios 10,31 – 11,1;
Marcos 1,40-45.
Lepra: uma doença contagiosa, causada
por uma bactéria. A lepra começa na pele e pode atingir os nervos periféricos.
Seus sintomas são, entre outros: manchas esbranquiçadas na pele e dormência – perda
da sensibilidade, a qual pode levar a feridas e à perda de partes do organismo.
Apesar de hoje existir tratamento para a lepra, é importante permitir que a
Palavra de Deus nos questione a partir dessa doença, mencionada na pessoa do
leproso Naamã, que recebeu a cura pelo profeta Elias, e do leproso curado por
Jesus, no Evangelho.
O mundo em que vivemos pode ser
chamado de “epidérmico” por dois motivos: primeiro, porque trata questões
sérias como as guerras, a fome, o desemprego, as doenças, a corrupção, as
injustiças etc. de forma superficial, apenas “maquiando” a pele, sem fazer
intervenções mais profundas a fim de solucionar esses problemas; segundo,
porque é um mundo excessivamente preocupado com a aparência: o que importa é a
estética, a pele bonita, sensual e sedutora, ainda que a pessoa, por dentro,
esteja “apodrecendo” na sua consciência, nos seus valores, no seu espírito.
Existem muitos “tipos” de lepra
hoje, mas o mais nocivo e que contamina a todos é a lepra chamada CORRUPÇÃO,
cuja “bactéria” é a GANÂNCIA, o apego desordenado ao dinheiro, “a raiz de todos
os males”, segundo a Escritura (cf. 1Tm 6,10). Desde o mais alto escalão do
governo até o brasileiro mais simples, obviamente com algumas poucas exceções,
todos estamos contaminados com a lepra chamada CORRUPÇÃO, lepra que causa DORMÊNCIA
em nossa consciência e a consequente PERDA DE SENSIBILIDADE para com quem
sofre, vítima da corrupção praticada também por nós.
Exemplos cotidianos de corrupção: pais
que pagam escolas particulares e dão presentes caros aos filhos usando dinheiro
obtido com desonestidade; funcionários que conseguem atestados falsos de
médicos corruptos para ficarem afastados do trabalho; empregados que trabalham
três meses e fazem de tudo para serem demitidos e se beneficiarem com o seguro
desemprego; fiscais e policiais que recebem propina para não aplicarem multa ou
para não punirem os infratores; juízes que vendem sentenças para manter em
liberdade grandes traficantes e políticos; empresas que financiam campanhas
políticas para depois se beneficiarem do desvio de dinheiro praticados pelos
políticos eleitos; pessoas de boa condição social que se cadastram para receber
remédios gratuitos, destinados à população carente etc. Em termos de corrupção,
difícil dizer quem de nós não é hoje um leproso. A maioria de nós está
convencida de que, no Brasil, a lepra
compensa (para não dizer “o crime compensa”).
Segundo o Papa Francisco, quem paga o
preço da corrupção é o pobre, são os hospitais sem remédios, os doentes que não
têm acesso a tratamento, as crianças sem acesso a uma boa educação. Para curar
o leproso, Jesus estendeu a mão e tocou nele (cf. Mc 1,41). É de se espantar
que hoje os nossos dedos toquem com agilidade a tela ou o teclado de um celular,
mas não têm a coragem de tocar naqueles que são a pele de Cristo: “Os pobres,
os abandonados, os enfermos, os marginalizados são a carne de Cristo” (Homilia
do Papa Francisco em 12/05/2013). É de se admirar que em muitos lares, marido e
mulher, pais e filhos se encontrem dentro de uma mesma casa, teclando com
outras pessoas pelo celular, mas não conseguem comunicar-se, como se tivessem
perdido o jeito de tocar um no outro. É a lepra do isolamento, contaminando
famílias e apodrecendo relacionamentos.
Eis a cura para a nossa lepra: “Quer comais,
quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.
Não escandalizeis ninguém,... nem a igreja de Deus” (1Cor 10,31-32). O
escândalo da corrupção precisa ser eliminado também em nós, simples cidadãos, e
não só no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Trata-se de não ficar buscando
apenas o que é vantajoso para nós mesmos, mas buscar o que vantajoso para todos,
para o bem da sociedade e da humanidade (cf. 1Cor 10,33). Trata-se de aceitar o
mesmo processo de purificação pelo qual passou Naamã, o leproso: descer quantas
vezes for preciso ao rio de Deus, que é o Espírito Santo, e permitir que as suas
águas limpem nossa consciência de todo vestígio de corrupção, devolvendo-nos a
inocência, a verdade e a retidão de uma criança (cf. 2Rs 5,14).
“Se queres, tens o poder de curar-me”
(Mc 1,40). O Evangelho de Cristo tem o poder de nos curar, de nos devolver o temor
a Deus, o respeito para com os outros, o cuidado para com aquilo que é público,
a decência, a honestidade... Deixemo-nos tocar por Jesus, pelo seu Espírito,
pelo seu Evangelho. Além disso, colaboremos com Jesus na erradicação da lepra
em nossa sociedade, adoecida pelo individualismo e pela indiferença: estendamos
nossa mão a cada dia para tocar no necessitado, naquele que ninguém enxerga,
por quem ninguém se interessa...
Para a sua oração pessoal:
http://letras.mus.br/ministerio-amor-e-adoracao/se-queres/
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário