Missa da Assunção de Nossa Senhora: Apocalipse
11,19a; 12,1.3-
6a.10ab; 1Coríntios 15,20-27a; Lucas 1,39-56.
Na música “A lista”, Oswaldo
Montenegro sugere que você faça uma lista dos amigos, dos sonhos, de tantas
coisas que ontem compunham o quadro da sua vida e que hoje não estão mais
presentes, se perderam, se modificaram, deixaram de existir, deixaram de ter
sentido. Quantas coisas vão ficando para trás em nossa existência? Quantas
peças do imenso quebra-cabeça que é a nossa vida vão se perdendo ao longo do
caminho? Elas poderão um dia ser recuperadas? Nossa vida voltará um dia a ser
recomposta? A Assunção de Maria, a sua elevação em corpo e alma ao céu, nos diz
que sim. Tudo aquilo que vivemos na terra será recolhido por Deus no céu.
Talvez não exista palavra mais
apropriada para falar da Assunção de Maria, e da nossa própria, que a palavra
RECOLHER. Melhor ainda: SER RECOLHIDO. Por mais que tenhamos a sensação de que
muitas das nossas palavras, das nossas atitudes, dos nossos esforços, das
nossas lutas, das sementes que lançamos ao longo do nosso caminho simplesmente
tenham se espalhado e ficado perdido(a)s num passado que não mais voltará, a
Palavra de Deus afirma que tudo isso será recolhido por Deus no momento da
nossa morte. Aliás, o próprio Salmo 55,9 afirma que Deus conhece todos os
nossos passos errantes e recolhe em Seu odre cada uma das nossas lágrimas!
Uma imagem disso está no livro do
Apocalipse. Uma Mulher está grávida, pronta para dar à luz, e um Dragão se
coloca diante dela, pronto para devorar o Filho, tão logo nasça. Assim que o
Filho nasce, Deus intervém, recolhe o Filho junto de Si e leva a Mulher a um
lugar seguro, onde se sinta salva do Dragão. Esta cena não se refere apenas a
Maria, que gera Jesus, o qual é resgatado da morte pelo Pai no momento da
ressurreição e levado para junto de Si no momento da Ascensão. Esta cena se
refere a cada um de nós e às nossas famílias: aquilo que geramos com tanto
custo, em meio a tantas lágrimas, e que está ameaçado pelo dragão da violência,
da doença, do sofrimento, do absurdo e da morte, será recolhido por Deus. E
tudo aquilo que Deus RECOLHE é também por Ele TRANSFORMADO.
Assim como o Pai recolheu o corpo de
seu Filho morto na cruz e o transformou num corpo glorificado na ressurreição,
assim como Ele recolheu Maria em corpo e alma ao céu, segundo o dogma da
Assunção que celebramos hoje, assim Deus recolherá todas as nossas lutas, todos
os nossos sonhos, todas as nossas lágrimas, e o(a)s transformará numa vida
nova, como diz a Escritura: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias
(primeiros frutos de uma colheita) dos que morreram... Em Cristo todos reviverão”
(1Cor 15,20.22).
Existe uma luta em curso. Existe uma
perseguição do mal em relação aos filhos da Mulher: “Enfurecido por causa da
Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto dos seus descendentes, os
que observam os mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus” (Ap 12,17).
A luta contra o mal é sentida de forma mais intensa na vida de pessoas que
procuram andar no caminho de Deus e manter a fé em Jesus Cristo. E por mais que
tenhamos a impressão de que o mal esteja vencendo essa luta, não nos enganemos:
todos os inimigos serão postos debaixo dos pés de Jesus. “O último inimigo a
ser destruído é a morte. Com efeito, Deus pôs tudo debaixo de seus pés” (1Cor
15,26-27).
Nesta celebração de encerramento da
Semana da Família, o evangelho nos coloca diante de duas mulheres que
humanamente não poderiam estar grávidas, mas estão por obra de Deus na vida de
suas famílias, porque acreditaram nas Suas promessas. A visita de Maria à sua
prima Isabel convida nossas famílias a se visitarem mutuamente, a compartilharem
tanto os momentos de alegria quanto os momentos de tristeza. Quando nos
visitamos, nos encontramos e nos falamos, alguma coisa boa se move dentro de
nós; voltamos a sentir a vida fluindo em nós, como a criança exultou de alegria
no ventre de Isabel ao ouvir a saudação de Maria. Maria foi chamada por Isabel
de “bendita entre as mulheres”. A sua presença é uma presença “bendita”, de
bênção, entre as pessoas do seu ambiente de trabalho ou de escola/faculdade? A
presença da sua família é uma presença “bendita” no prédio, no condomínio, na
rua onde vocês residem?
Que à semelhança de Maria, cada um
de nós, no seio de sua família, em comunhão com o(a)s religioso(a)s cuja
vocação lembramos hoje como presença “bendita” em nossa Igreja e em nossa sociedade,
possa proclamar a força do braço do nosso Deus, que RECOLHE a luta, a dor, o
empenho, as lágrimas da nossa família por uma sociedade melhor, por um mundo
redimido, e TRANSFORMA tudo isso segundo o Seu desígnio de vida e de salvação
para a família humana.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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