domingo, 24 de junho de 2012

QUERES FICAR CURADO? (Jo 5,6)

            Jesus dirige esta pergunta a um paralítico que havia 38 anos permanecia deitado junto à piscina, esperando um milagre para poder andar. Em tais circunstâncias, poderia ter parecido algo retórico e até cruel perguntar a esse homem se queria recuperar a saúde. Seu desejo era evidente: ele aguardava com ansiedade o agitar-se das águas e a ajuda de uma mão salvadora.
            Jesus, porém, sabia o que há no íntimo do coração humano. Ele conhecia em profundidade nossas estranhas maneiras de proceder. Curiosamente, entre as raras coisas de que somos capazes, está o fato que muitos de nós, no fundo da alma, preferimos continuar prostrados para sempre, antes que nos levantar. É custoso, para nós, aproximar-nos de quem pode nos ajudar. Temos medo de que nosso mal seja diagnosticado; nós o negamos, o escondemos e permitimos que continue a avançar. Esta é a constatação feita por psicólogos, médicos e diretores espirituais. Rejeitamos o uso dos meios que nos fazem andar. Queremos apenas aliviar os sintomas; aprender alguma receita fácil... deixando claro, porém, que o mal é tão profundo que não tem remédio.
            Isto vale também nas crises de fé, nas rupturas que extirpam o sentido de nossa vida. E nos fechamos aí, sem procurar as saídas. Pareceria que ninguém quer sofrer; dir-se-ia que todos buscamos a felicidade, mas estranhamente, e com frequência, colocamos essa felicidade em compadecer-nos de nós mesmos, ou em que outros se preocupem conosco, tenham pena e se aproximem de nós.
            Parece agradar-nos o fato de que nos olhem com compaixão. Não é raro encontrar pessoas que narram em detalhes suas doenças e as incompreensões e maus-tratos que recebem injustamente.
            Os rancores, as raivas profundas que nos ferem por dentro, os remorsos doentios estão escondidos em nosso interior, agarram-se em nós como carrapatos... e nós nos agarramos a eles como se fossem nossa identidade. Eles nos paralisam como ao enfermo da piscina.
            O verdadeiro mal não está tanto na dor física ou no sofrimento que nos aflige quanto no modo como procedemos em relação a eles. Cedo ou tarde, todos temos de enfrentar a dor; o drama está em que alguns de nós preferimos ficar empacados, paralisados para sempre no mal.
            Isso explica o fato de que Jesus, antes de empreender a aventura do milagre e da fé, nos pergunte: “Queres ficar curado?”
            Para andar, para superar nossas doenças, é indispensável colocar algo de nossa parte. Tudo é graça, porém nada se realiza sem a humilde e livre colaboração humana. A vida e a salvação são uma dádiva, um dom de Deus. A própria aceitação desse dom é também um presente, mas supõe a cooperação do homem: “Queres ficar curado?”
            Em face de tantas dores, dúvidas de fé, incompreensões, faltas de sentido, é necessário que nos façamos com honestidade a pergunta formulada por Jesus ao paralítico: “Queres ficar curado?” Queres levantar-te e andar? Queres ajudar-te e deixar que te ajudem? És realmente capaz de confiar nos outros e no Senhor? És capaz de encarar com honradez a verdadeira causa do que te acontece? Tens audácia suficiente para utilizar os meios eficazes para sair da paralisia? Se não quiseres participar, no mínimo, com esse desejo de tua parte, todos os teus males são incuráveis... mas não te esqueças de que o Senhor veio para convidar-te a andar.
 
  Fernando Montes, As perguntas de Jesus, pp.29-31, ed. Loyola.   

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