quinta-feira, 14 de junho de 2012

NÃO PELO QUE VEMOS, MAS PELO QUE CREMOS

Missa do 11º. dom. comum. Palavra de Deus: Ezequiel 17,22-24; 2 Coríntios 5,6-10; Marcos 4,26-34.
           
            No mundo do trabalho, a palavra-chave é “resultado”. Quando os investimentos não têm o retorno esperado, mudam-se as estratégias, trocam-se os sistemas, demitem-se as pessoas, tudo em vista do “resultado” e de um “resultado” que seja rápido. No campo espiritual tem acontecido algo parecido. Cada vez mais pessoas estão buscando uma “religião de resultados”, estabelecendo com Deus um relacionamento onde o mais importante não é dispor-se ao querer de Deus, mas dispor dele para que a sua vida espiritual dê resultados, e resultados que, na prática, nada têm de espirituais.
            Jesus, ao nos falar de como Deus “funciona” na vida de quem nele crê, usa a imagem da semente. Essa imagem por si só derruba a nossa fome de resultados imediatos, rápidos, a curto prazo. A semente, depois que cai na terra, tem o seu tempo próprio de germinar e crescer. Aliás, Jesus deixa claro que esse processo não é controlado por nós: “Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,27).
Você já pensou em desistir de fazer suas orações, de frequentar a Igreja, de meditar sobre a Palavra de Deus, de participar de alguma atividade pastoral, de fazer o bem aos outros porque não tem visto em sua vida os “resultados” que esperava? A você está sendo pedido confiança. A semente, que você pode interpretar como sendo a Palavra de Deus ou a presença do Espírito Santo em sua vida, é eficaz. Ela germina e cresce em você sem que você lhe dite as regras. Basta que a terra do seu coração seja boa, acolha a semente e dê a ela o tempo necessário para que germine.
O contrário da confiança é o medo, a pressa, o desânimo de quem não vê nada despontar na superfície da terra e acaba deixando de regar o próprio solo, esquecendo-se de que a nossa relação com Deus deve ter por base a fé, não a visão: “caminhamos na fé e não na visão clara” (2Cor 5,7). Qual fé? A fé de que “um é o que planta, outro é o que rega, mas é Deus quem dá o crescimento” (1Cor 3,6).   
É Deus quem dá o crescimento. Como Ele mesmo disse: “Eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço” (Ez 17,24). Há coisas em nossa vida que dependem absolutamente da graça de Deus, mas há coisas que dependem de nós, como o lançar a semente. É aí que Jesus menciona o grão de mostarda, a menor de todas as sementes. Muitas coisas boas foram jogadas fora da nossa vida porque, aos nossos olhos, eram apenas “sementes de mostarda”. Muitas transformações foram abortadas em nós porque, quando começaram a nascer, nós as julgamos insignificantes, desprezíveis, não era aquilo que estávamos esperando, e por isso interrompemos a sua gestação em nós. 
Mais uma vez, aqui entra o alerta do apóstolo: “caminhamos na fé e não na visão clara” (2Cor 5,7). Como estamos mal-acostumados a enxergar e a valorizar somente aquilo que é grande, não vemos e não valorizamos as pequenas atitudes, os pequenos gestos. Como Deus escolheu manifestar-Se no chão da vida do nosso mundo como a menor de todas as sementes, nós julgamos que Ele não existe, porque Sua presença passa cada vez mais despercebida aos nossos olhos.  
            Mas o grão de mostarda não fala somente de Deus, fala também de nós. Quanto bem deixamos de semear com as nossas atitudes, porque achamos que era pequeno demais, insignificante. Não é à toa que os nossos relacionamentos estejam se tornando incapazes de produzir sombra e não consigam abrigar neles os pássaros do céu (cf. Mc 4,32), ou seja, as bênçãos que o céu poderia enviar sobre nós e sobre aqueles que nós amamos. Se queremos reaproveitar o grão de mostarda que todos os dias a vida coloca em nossas mãos, precisamos mudar a nossa maneira de julgar o nosso dia a dia: ele vale a pena ser vivido não por causa dos frutos que conseguimos colher, mas por causa das sementes que conseguimos lançar.
            Numa época onde as pessoas estão em busca de “resultados”, não se dando ao trabalho de lançar sementes e de respeitar o tempo necessário de germinação e crescimento das mesmas; numa época em que tantos abortam as transformações mais importantes que poderiam se dar em suas vidas porque elas se apresentaram em forma de “grãos de mostarda”, interpretados como “coisas insignificantes”, a Palavra de Deus nos convida à confiança e à esperança: a nós cabe lançar a semente – e em outros casos, acolhê-la; a Deus cabe a germinação e o crescimento dela em nós.
Lembremo-nos, mais uma vez: “caminhamos na fé e não na visão clara” (2Cor 5,7). “O que Deus quer é que ‘andemos pela fé’. Quantos de nós ‘encostamos’, por assim dizer, e afirmamos: ‘Nada mais posso fazer, enquanto Deus não se revelar a mim’. Ele não o fará. E, sem a inspiração e nenhum toque de Deus, teremos de nos erguer sozinhos... Deus nos dará toques de inspiração quando perceber que não há o risco de sermos desviados por eles. Não devemos fazer nunca desses momentos de inspiração o nosso padrão. Nosso dever é que é o nosso padrão” (Oswald Chambers, Tudo para Ele), o dever de acolher em nós a semente do Reino e de também lançá-la no coração dos outros, com o nosso testemunho de fé.   
                                                                                                                                                Pe. Paulo Cezar Mazzi

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