quinta-feira, 2 de outubro de 2025

SEM A FÉ, TODOS SEREMOS DERROTADOS PELAS DIFICULDADES DA VIDA

 Missa do 27º. dom comum. Palavra de Deus: Habacuc 1,2-3; 2,2-4; 2Timóteo 1,6-8.13-14; Lucas 17,5-10.

 

            “Os apóstolos disseram ao Senhor: ‘Aumenta a nossa fé!’” (Lc 17,5). A resposta de Jesus é surpreendente: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria” (Lc 17,6). Enquanto os discípulos pedem uma fé maior, Jesus compara fé à menor semente que existe na terra: o grão de mostarda. Portanto, o problema da nossa fé não é o tamanho, mas a confiança na sua eficácia: embora sendo a menor semente da terra, a mostarda se torna a maior hortaliça que existe. Quanto à amoreira, é a árvore cujas raízes são expansivas, agressivas e podem causar danos às calçadas, canos e fundações se não forem controladas. Portanto, arrancar uma amoreira do lugar não é tarefa fácil, mas Jesus usa propositalmente a imagem da amoreira para falar da força da fé: ela remove aquilo que nossas forças humanas não podem fazê-lo.

            A fé é absolutamente necessária para nos mantermos em pé diante dos ventos contrários e das dificuldades da vida: “Se vocês não tiverem fé, não poderão se manter firmes” (Is 7,9). Quem não tem fé é como uma folha seca levada pelo vento da desorientação, do medo e da perturbação: “Na conversão e na calma estava a vossa salvação, na tranquilidade e na confiança estava a vossa força, mas vós não o quisestes” (Is 30,15). Assim como Israel, nós preferimos confiar em nossos recursos humanos, do que nos apoiar unicamente em Deus. Quando fazemos isso, a vida desaba sobre nós.

            A fé não significa crer em uma suposta força positiva do universo, mas crer em Alguém que tem o poder de nos salvar e de transformar toda e qualquer situação. Por isso, as palavras “Se vocês não tiverem fé, não poderão se manter firmes” (Is 7,9) devem ser entendidas como: “Se vocês não se atreverem a se apoiar em mim, jamais saberão que são amparados”. Só quem se joga nos braços de Deus, através da fé, sente a verdade do Seu amparo, da Sua sustentação.

            Hoje, a fé foi reduzida à emoção, de modo que as pessoas mudam de igreja ou de religião quando deixam de “sentir” Deus. Além disso, a fé deixou de ser compromisso com Deus Pai e com o Evangelho de seu Filho, para se tornar isso: “Eventos cheios, pastorais vazias”. Multidões se deslocam para participar de shows católicos ou evangélicos, mas não participam das missas e muitos menos das pastorais em suas próprias comunidades ou paróquias. Não são pessoas de fé, mas uma massa anônima correndo atrás de emoção (“efeito manada” – vão onde todo mundo está indo). Não são construtores do Reino, mas consumidores de emoções espirituais. Jesus nunca se deixou enganar por multidões. Dois exemplos claros: Jo 6 e Lc 14,25-33.   

            O profeta Habacuc nos mostra que a fé muitas vezes é uma luta com Deus: “Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti: ‘Violência!’, sem me socorreres? Por que me fazes ver iniquidades, quando tu mesmo vês a maldade? Destruições e prepotência estão à minha frente; reina a discussão, surge a discórdia” (Hab 1,2-3). O grito de Habacuc é o grito dos cristãos que sofrem e dos ateus que se perguntam: Se Deus existe, por que permite o mal? A oração de Habacuc é a nossa revolta contra o silêncio de Deus diante da dor dos inocentes. Esse silêncio nos machuca e põe em crise a nossa fé, nos tornando conscientes de que nunca iremos compreender os desígnios de Deus. Aqui é importante recordar que “a fé nunca sabe para onde está sendo conduzida, mas ela confia e ama Aquele que a conduz” (Oswald Chambers).          

            Diante da oração de Habacuc, Deus rompeu o Seu silêncio e disse: “Escreve esta visão... Ela refere-se a um prazo definido, mas tende para um desfecho, e não falhará; se demorar, espera, pois ela virá com certeza, e não tardará. Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” (Hab 2,2-4). Deus garante a quem n’Ele crê e n’Ele se apoia que intervirá na história humana, mas essa intervenção não será imediata, como estamos acostumados, devido à rapidez da tecnologia: “se demorar, espera, pois ela virá com certeza, e não tardará” (Hab 2,3). É aqui que a nossa fé é provada, verificada como verdadeira ou não: suportar as demoras de Deus, crendo que, no fim, o Seu desígnio prevalecerá em nossa vida pessoal e na história humana.

“Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” (Hab 2,4). Quem perder a sua fé, se tornará como um arco frouxo, do qual nenhuma flecha pode ser lançada. Sem a fé, nós nos tornamos vivos mortos; o corpo vive, mas a alma definha e o espírito está morto. Sem a fé, somos vencidos por toda e qualquer dificuldade. Sem a fé, não sobreviveremos às provações que já estão aí, características dos tempos finais (cf. Ap 3,10). Somente as pessoas que têm fé sobreviverão a tudo o que já está acontecendo e que virá a acontecer na história humana. Portanto, a fé não nos blinda contra o sofrimento, mas nos dá força para enfrentá-lo.

O apóstolo Paulo chama a fé de “precioso depósito”. Esse depósito deve ser guardado (mantido vivo, protegido, defendido) dentro de nós com o auxílio do Espírito Santo, sabendo que a nossa fé em Cristo Jesus também significa “sofrer por causa do Evangelho”.

Enfim, após esclarecer aos discípulos que a fé é uma questão de qualidade (transportar uma amoreira de lugar) e não de quantidade (do tamanho de um grão de mostarda), Jesus fala da fé como algo concreto: ter fé é ser um servo de Deus, um simples servo, uma pessoa que não contamina a sua fé com ambições de recompensa e nem com a expectativa de retorno imediato, mas faz o que faz por causa do Reino de Deus, por causa do Evangelho, não se deixando abalar em sua confiança em Deus por causa das circunstâncias externas, mas mantendo seus olhos fixos no próprio Jesus, “iniciador e consumador da nossa fé” (Hb 12,2).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

Oração pela fé (Papa São Paulo VI)

 

Senhor, creio em Ti. Eu quero crer em Ti.

Senhor, faze que minha fé seja plena, sem reservas e que penetre em minha inteligência e em meu modo de julgar as realidades divinas e humanas.

Senhor, faze que minha fé seja livre, isto é, que tenha a minha adesão pessoal, aceite as renúncias e os deveres que ela impõe e seja a última instância decisiva de minha pessoa. Creio em Ti, Senhor.

Senhor, faze que minha fé seja certa. Certa pela coerência exterior dos motivos e certa pelo testemunho interior do Espírito Santo. Certa por uma luz que lhe dê segurança, por uma conclusão que a tranquilize, por uma assimilação que a faça repousar.

Senhor, faze que a minha fé seja forte. Que ela não tema a contradição que surge com os problemas, quando é plena a experiência de nossa vida à vida de luz. Que não tema a oposição de quem a discute, a ataca, a rejeita, a nega; mas que ela se robusteça com a experiência íntima de Tua verdade, resista ao cansaço da crítica, fortaleça-se com a afirmação contínua que vence as dificuldades dentro das quais se desenrola nossa existência terrena.

Senhor, faze que minha fé seja cheia de tranquilidade e que dê ao meu espírito paz e alegria, gosto pela oração com Deus e a convivência com os homens, de maneira que, no diálogo com Deus e com o mundo, se irradie a alegria interior de sua posse afortunada.

Senhor, faze que minha fé seja operante e dê à caridade os motivos de sua atuação, de sorte que a caridade seja verdadeira amizade contigo, busca contínua de Ti, contínuo testemunho, contínuo alimento de esperança nas obras, nos sofrimentos, na expectativa da revelação final.

Senhor, faze que minha fé seja humilde e não pretenda apoiar-se na experiência de meu pensamento, mas que se entregue ao testemunho do Espírito Santo e não busque maior garantia a não ser a docilidade à Tradição e à Autoridade do Magistério da Igreja. Amém.

 

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