Missa do 30º dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a; 2Timóteo 4,6-8.16-18; Lucas 18,9-14.
Por que nós rezamos? Porque
temos consciência da nossa insuficiência enquanto seres humanos. Em outras
palavras, só pode rezar quem sente a necessidade de ser salvo. Pessoas que se
sentem totalmente seguras, garantidas pelos seus recursos materiais,
normalmente não buscam a Deus na oração, a menos que alguma coisa saia do
controle delas e as ameace.
Depois de nos ter ensinado a oração
do Pai nosso (cf. Lc 11,1-13) e nos mostrado a importância de insistirmos com
Deus na oração (cf. Lc 18,1-8), Jesus hoje nos apresenta duas formas de oração:
a primeira, cheia de orgulho e arrogância; a segunda, cheia de humildade; a
primeira, feita por um homem que se colocou diante de Deus não para louvá-Lo,
mas para louvar a si mesmo por se considerar bom, justo e não necessitado de
salvação; a segunda, feita por um homem consciente dos seus pecados e,
portanto, profundamente necessitado de salvação.
Antes de tudo, precisamos prestar
atenção para quem Jesus contou a parábola que acabamos de ouvir no Evangelho: “Jesus
contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e
desprezavam os outros” (Lc 18,9). Confiar na própria justiça significa julgar-se
bom o suficiente a ponto de não necessitar ser salvo. Mas o problema maior não
é apenas a postura orgulhosa e arrogante diante de Deus, e sim o desprezo pelos
outros, por aqueles que julgamos piores do que nós. Quando isso acontece,
acabamos por erguer um muro de separação entre nós e essas pessoas, pensando
que Deus as vê como nós as vemos.
Eis a oração do fariseu: ele se coloca
diante de Deus convencido de que não precisa da salvação que Deus lhe oferece,
porque já a conquistou pelo esforço do seu bom comportamento. Apresenta-se diante
de Deus como uma pessoa justa que veio “cobrar” a recompensa pelo seu esforço
em ser uma pessoa de bem. O pior em tudo isso é que ele sente que a sua
vivência “cristã” o coloca acima dos outros homens, “miseráveis pecadores”, como
o cobrador de impostos que, aos olhos do fariseu, não passa de um ladrão e
explorador do seu povo.
Diferente do fariseu, o cobrador de
impostos, reza a partir da sua verdade. Consciente dos seus erros e da sua
necessidade de ser salvo, ele clama a Deus por misericórdia. É um homem que tem
consciência da sua indignidade. Na sua oração, ele não se compara com outros
homens; apenas reconhece o seu pecado e invoca a misericórdia de Deus. Não podendo
agarrar-se ao seu bom comportamento para se salvar – pois seu comportamento não
é correto – ele só pode confiar na compaixão de Deus: “Meu Deus, tem piedade de
mim que sou pecador!” (Lc 18,13).
A oração do publicano nos lembra a
verdade de todo ser humano: somos pecadores, falhos, imperfeitos, e não podemos
nos salvar por nós mesmos, mas unicamente nos abrindo à ação do Espírito Santo
de Deus. Da mesma forma como nenhuma pessoa doente pode ser curada, se não reconhecer
a sua própria doença e não aceitar ajuda, assim nós não podemos sair da oração
transformados se não admitimos diante de Deus a nossa impotência em nos
modificar pelo nosso próprio esforço. De fato, para Jesus o fruto mais precioso
da oração é quando saímos dela “justificados”, isto é, perdoados,
reconciliados, salvos. Justamente porque “diante de Deus nenhum ser humano pode
se declarar justo” (Sl 143,2), o Pai das misericórdias nos concede a graça da justificação,
pela nossa fé em seu Filho Jesus Cristo (cf. Rm 4,25; 5,1.18-19).
Jesus conclui o seu terceiro ensinamento
sobre a nossa vida de oração afirmando que “quem se eleva será humilhado, e
quem se humilha será elevado” (Lc 18,14). A humildade não é vista como um
valor, na cultura atual. Pelo contrário, somos constantemente motivados a nos
expor, a pisarmos sobre as pessoas para nos destacarmos como fortes e
vencedores. O distanciamento da nossa humildade é o distanciamento da nossa verdade.
É como uma árvore que, na sua obsessão em crescer e ser vista e admirada pelos
outros, perde o contato com as próprias raízes, tornando-se superficial, sem
profundidade.
Humilhar-se não significa rebaixar-se,
mas se recusar a ser definido a partir de fora, por uma sociedade vazia e que
cultua o próprio vazio. Humilhar-se é ter consciência do próprio tamanho, das
suas capacidades e dos seus limites; é viver a partir da sua verdade interior;
é sustentar-se a partir das próprias raízes que, escondidas no húmus, na terra,
dão sustentação interior à pessoa, para que ela dê frutos, independente se as circunstâncias
externas são favoráveis ou não.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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