quinta-feira, 30 de outubro de 2025

DEIXE SUA CASA EM ORDEM, POIS A MORTE O(A) ENCONTRARÁ NA HORA EM QUE VOCÊ MENOS IMAGINAR.

 Missa pelos fiéis falecidos. Palavra de Deus: Jó,19,1.23-27a; 1Coríntios 15,20-24a.25-28; Lucas 12,35-40. 

 

Dia de Finados, palavra que nos remete para o fim. A nossa existência terrena um dia terá um fim. Mas a nossa fé nos faz olhar para além do fim, isto é, para a finalidade para a qual tende a nossa vida, que é a nossa ressurreição em Jesus Cristo, ele que nos prepara um lugar na casa do Pai, porque quer que estejamos onde ele mesmo está (cf. Jo 14,3). Se hoje sentimos saudades e tristeza por aqueles que partiram, sabendo que a tristeza é proporcional ao amor que temos pela pessoa, a nossa tristeza deve unir-se à esperança de reencontrarmos aqueles que partiram e que estão em Cristo (1Ts 4,13.16-17), o qual afirmou que o nosso Deus “não é Deus de mortos, mas sim de vivos; todos, com efeito, vivem para ele” (Lc 20,38).

A morte, fim da nossa existência terrena, nos ensina a rever a forma como vivemos a nossa vida. “Lembra-te do fim e deixa o ódio” (Eclo 28,6). Não devemos permitir que o ódio adoeça a nossa breve existência neste mundo. A consciência da nossa morte deve nos levar a perdoar. Mas o Eclesiástico também nos orienta quanto ao luto: “Filho, derrama tuas lágrimas por um falecido. Chora amargamente; depois, consola-te de tua tristeza. Porque a tristeza leva à morte. Não abandones teu coração à tristeza, afasta-a” (Eclo 38, 16.17.20).

A morte nos dá a consciência de que a nossa existência neste mundo é única, e nunca mais se repetirá: “Os homens morrem uma só vez, depois do que vem um julgamento” (Hb 9,27). A respeito desse julgamento, o apóstolo Paulo afirma: “Todos nós compareceremos perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito em sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,10). Aquilo que plantamos hoje, em nossa vida terrena, será colhido por nós mesmos, após a nossa morte.  

Segundo Jesus, a consciência da nossa morte deve nos libertar de todo tipo de ganância material. Quando um homem muito rico, após ter derrubado todos os seus celeiros para construir outros maiores, a fim de guardar toda a sua riqueza, diz a si mesmo: “Descansa, come, bebe, aproveita!”, Deus lhe diz: “Insensato, nesta mesma noite será pedida de volta a tua vida. E as coisas que acumulaste, de quem serão?” (Lc 12,16-20). Aqui entra também a sabedoria de Dalai Lama: “Os homens do nosso tempo vivem como se nunca fossem morrer, e morrem como se nunca tivessem vivido”.

Quando o rei Ezequias ficou gravemente enfermo, o profeta Isaías recebeu a ordem de Deus para dizer-lhe: “Põem em ordem a tua casa, porque vais morrer, e não sobreviverás” (2Rs 20,1). A consciência de que um dia iremos morrer deve nos fazer perguntar: O que eu preciso colocar em ordem, na minha vida, antes de morrer? Para Jesus, o principal a ser colocado em ordem é a nossa reconciliação com o próximo (cf. Mt 5,25-26).

Como encaramos a certeza de que um dia iremos morrer? O apóstolo Paulo nos anuncia uma grande consolação: “Ninguém de nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor. Com efeito, Cristo morreu e ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos” (Rm 14,7-9). Ainda segundo o apóstolo, morrer significa mudar da tenda (morada provisória) para a casa, “morada eterna, não feita por mãos humanas” (2Cor 5,1). Em outras palavras, morrer significa “deixar a mansão deste nosso corpo para ir morar junto Senhor” (2Cor 5,8).       

Em cada experiência de morte que fazemos, diante da perda de pessoas que nos são caras, devemos manter os olhos fixos em Jesus, que disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim nunca morrerá” (Jo 11,25-26). A morte biológica do corpo não é a morte da pessoa. Jesus experimentou a morte “em favor de todos os seres humanos” (Hb 2,9). Como ele mesmo afirma: “Eu sou o Vivente: estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho comigo as chaves da morte e da região dos mortos” (Ap 1,17-18). Ter as chaves significa ter o poder de arrancar da morte e da região dos mortos todos os que morreram.

Diante desta catequese bíblica sobre a morte, podemos rezar, neste dia de Finados: “Ó Deus, nosso Pai, vossos dias não conhecem fim, e a vossa misericórdia não tem limites. Fazei-nos lembrar sempre a brevidade da vida e a incerteza da hora da nossa morte. Que o vosso Espírito Santo nos conduza neste mundo, todos os dias da nossa vida, na santidade e na justiça. E depois de vos servirmos na terra na comunhão da vossa Igreja, na confiança de uma fé segura, na consolação da esperança e na perfeita caridade para com todos, possamos chegar ao vosso Reino. Por Cristo, nosso Senhor. Amém” (Sacramentário, Rito das Exéquias, p.229).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

 

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