terça-feira, 4 de março de 2025

TEMPO DE TRATAR A FERIDA

 

Missa da Quarta-feira de Cinzas. Palavra de Deus: Joel 2,12-18; 2Coríntios 5,20 – 6,2; Mateus 6,1-6.16-18.

 

“Toda a cabeça está contaminada pela doença, todo o coração está enfermo; desde a planta dos pés, até a cabeça, não há lugar são. Tudo são contusões, machucaduras e chagas vivas que não foram espremidas, não foram atadas nem cuidadas com óleo” (Is 1,5-6).

            Essas palavras do profeta Isaías revelam a situação do povo de Israel, ferido pelo seu próprio pecado. É a imagem do filho que livremente decidiu deixar a casa do pai, desperdiçou todos os seus bens, passou fome e o único emprego que encontrou foi cuidar dos porcos (cf. Lc 15,14-16). Mas foi ali, naquela situação, que ele “caiu em si” e tomou a decisão de voltar para junto do pai: “Vou-me embora, procurar meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti’” (Lc 15,18).

            Eis o grande convite que o Senhor nos faz, neste início de Quaresma: “Voltai-vos para mim e sereis salvos, porque eu sou Deus e não há nenhum outro” (Is 45,22). “Volta, Israel, ao Senhor teu Deus, pois tropeçaste em tua falta” (Os 14,2). “Voltai-vos para mim com todo o vosso coração” (Jl 2,12). Nós somos livres e, muitas vezes, damos uma direção errada à nossa vida. Como saber se a direção da nossa vida está correta? Se ela está nos levando para Deus. Tudo o que nos afasta de Deus pode até nos dar algum tipo de ganho, mas nos leva para a destruição. Tudo o que nos aproxima de Deus é válido e precisa ser mantido ou retomado.

            Conversão é fazer a volta. Não voltamos para um determinado ponto da estrada; voltamos para uma Pessoa, para o nosso Deus: “É ele quem perdoa todas as tuas faltas e cura todos os teus males. É ele que redime da cova a tua vida e te cerca de carinho e compaixão” (Sl 103,3-4). “O Senhor cura os corações quebrantados e cuida dos seus ferimentos” (Sl 147,3). “Com o Senhor está o amor e redenção em abundância: ele resgatará Israel de toda a sua culpa” (Sl 130,7-8). 

            Jesus é o sacramento da misericórdia de Deus. Ele não veio quebrar a cana que já está rachada, nem veio apagar o pavio que já está quase se extinguindo (cf. Is 42,3). Pelo contrário, Ele “veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10); não veio chamar os justos, mas os pecadores, porque o Médico não existe para quem tem saúde, mas para quem está doente (cf. Mt 9,12.13). Eis, portanto, o convite do apóstolo Paulo: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).

Se é verdade que o pecado nos adoece da cabeça aos pés (cf. Is 1,3-4), temos que nos perguntar se realmente desejamos a nossa cura: “Antes de curar alguém, pergunta-lhe se está disposto a desistir das coisas que o fizeram adoecer” (Hipócrates). Quem não está disposto a abandonar as cebolas do Egito nunca porá os pés na Terra Prometida, rica de fertilidade.

A Campanha da Fraternidade nos recorda que a Terra não é um reservatório de recursos sem fim, mas uma Casa a ser cuidada. Além do cuidado com essa Casa (natureza, florestas, rios etc.), devemos cuidar das nossas relações humanas e sociais. 

“Precisamos superar a indiferença frente ao sofrimento da Terra e abandonar a idolatria dos desejos desordenados do consumismo e do materialismo” (TB, n.14). “O desafio para a nossa conversão nesta Quaresma é cuidar da casa: da casa interior de cada um de nós (espiritualidade), da casa em que habitamos (família), da casa em que passamos grande parte do nosso tempo (escola, trabalho), da casa em que nos relacionamos (rede) e da Casa Comum (Terra), pois nela tudo está interligado” (TB, n.16).  

Uma santa e fecunda Quaresma a todos nós! 


Pe. Paulo Cezar Mazzi

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