sexta-feira, 12 de julho de 2024

A MISSÃO DE CADA UM DE NÓS: LEVAR UMA PALAVRA DE CONFORTO À PESSOA ABATIDA

 Missa do 15º dom. comum. Palavra de Deus: Amós 7,12-15; Efésios 1,3-14; Marcos 6,7-13.

 

A palavra-chave da nossa liturgia deste final de semana é “ENVIADO”. Para compreendê-la, podemos recordar as palavras de Jesus aos seus discípulos, na noite do domingo de Páscoa: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,20). Esse envio se deu, num primeiro momento, no coração de Deus: “Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo” (Ef 1,4). Nossa existência foi um desejo de Deus. Ele nos enviou ao mundo para uma tarefa, uma missão. Como gosta de afirmar o Papa Francisco, a nossa existência contém uma palavra única que Deus deseja dirigir à humanidade.

No Antigo Testamento, o sinônimo de enviado é “PROFETA”. Ele é a voz de Deus que deve ecoar na consciência dos homens. Ninguém se torna “profeta” ou “enviado” por iniciativa própria, mas de Deus. Além disso, a missão do profeta é anunciar uma palavra que não é sua, mas de Deus. Aqui podemos nos perguntar: nós aceitamos ouvir os profetas de Deus do nosso tempo, mesmo quando a mensagem que proclamam vai contra a corrente e exige de nós conversão?  

O diálogo que o profeta Amós tem com o sacerdote Amasias revela o custo em ser profeta: ele deve ser a consciência crítica não só da política, mas também da religião. Convocado e enviado por Deus, Amós denuncia um culto vazio e estéril, refém de interesses políticos e aliado da injustiça, um culto que não liberta nem salva. Todo cristão chamado a ser profeta não deve se calar diante das injustiças, sejam elas praticadas ou toleradas tanto pela política quanto pela religião. 

Enquanto a primeira leitura nos fala do envio de Amós, o Evangelho nos fala da do envio dos discípulos de Jesus. Até agora eles estavam ouvindo e aprendendo de Jesus, mas chegou o momento de serem ENVIADOS em missão. Neste sentido, cada um de nós é chamado a ser também discípulo e missionário: “O Senhor Deus me deu língua de discípulo para que soubesse trazer ao cansado uma palavra de conforto” (Is 50,4). Na celebração eucarística escutamos a Palavra de Deus como discípulos. Ao voltarmos para a nossa vida cotidiana, somos enviados para a missão de levar uma palavra de conforto à pessoa abatida.

Ao enviar os Doze, Jesus “recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura” (Mc 6,8). O cajado, na época, servia de apoio para caminhar e também para defender-se de animais selvagens. Em outras palavras, ao nos enviar em missão, Jesus quer que estejamos totalmente livres e não amarrados a bens materiais; caso contrário, a preocupação com os bens materiais pode nos roubar a liberdade e a disponibilidade para a missão. Jesus nos quer livres de interesses humanos, não presos a ninguém, nem nos apoiando em garantias humanas que supostamente garantam o sucesso da missão. Desprovidos de nós mesmos, inclusive das nossas próprias capacidades, devemos realizar a missão que nos foi confiada apoiando-nos unicamente na graça de Deus.

Um detalhe não pode ser esquecido. Antes de Jesus enviar os Doze em missão, quis que eles vissem o seu “fracasso” em Nazaré (evangelho de domingo passado – Mc 6,1-6). Portanto, os discípulos de ontem (os Doze) e de hoje (nós) devem estar preparados para a rejeição, o fechamento e a indiferença das pessoas em relação ao anúncio do Evangelho. Não é porque trabalhamos para Deus que as portas do mundo se abrirão gentilmente para nós; muito pelo contrário. Da mesma forma como a palavra de Amós incomodou a política e a religião do seu tempo, e da mesma forma como a palavra de Jesus incomodou os nazarenos, a nossa missão de sermos um Evangelho vivo para as pessoas enfrentará rejeição por parte de muitos.

Eis porque Jesus dá aos Doze a seguinte recomendação: “Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!” (Mc 6,11). Não devemos carregar conosco a poeira da rejeição daqueles que se fecharam à Palavra de Deus. Esse tipo de fechamento não deve nos contaminar, nos intimidar e nos convencer de que “não adianta” evangelizar o mundo no qual estamos. Sacudir a poeira dos pés significa, portanto, deixar que a atitude de fechamento fique somente com aqueles que, um dia, serão julgados pela Palavra que rejeitaram.

Uma última palavra: “Não há nada no mundo que habilite uma pessoa a superar dificuldades externas e limitações internas, como a consciência de ter uma tarefa na vida” (Victor Frankl). Quando tomamos consciência de que “somos uma missão nesta terra; por isso estamos neste mundo” (Papa Francisco, EG 273), encontramos força para transcender as adversidades momentâneas e sermos fiéis à tarefa que a vida nos confiou. Conta-se que, após Hitler ser derrotado, todos os judeus foram libertos dos campos de concentração. No campo onde Victor Frankl se encontrava, os judeus restantes foram colocados num caminhão, para serem transportados para casa. Por ser médico, Victor Frankl decidiu ficar no campo de concentração, cuidando dos doentes; portanto, fiel à sua missão. Minutos depois, o caminhão que transportava os judeus explodiu: era uma armadilha dos nazistas, seu último suspiro de ódio contra os judeus. Victor Frankl não morreu junto com aqueles judeus por ter se mantido fiel à sua missão. Em outras palavras, quem não se desvia do foco da sua missão sempre encontra sentido para viver e não “explode” diante dos reveses da vida. 

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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