Missa de São Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.
“Creio na Santa Igreja Católica”. A
fé na Igreja Católica está em pleno declínio no mundo atual, seja por causa dos
escândalos humanos da mesma, seja por causa de uma fé no estilo “faça você
mesmo” (muitas pessoas buscam ligar-se a Deus “diretamente”, sem a mediação da
Igreja), seja também pela constante necessidade de experimentar fortes emoções,
oferecidas pelas inúmeras igrejas neopentecostais. Além disso, muitos se
recusam a proclamar que a Igreja Católica é Santa, por não entenderem que a santidade
dela provém do seu Esposo, Jesus Cristo: “Cristo amou a Igreja e se entregou
por ela, a fim de purificá-la... para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa,
sem mancha..., santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27).
A festa dos Apóstolos São Pedro e
São Paulo é ocasião para tomarmos consciência da nossa pertença à Igreja que
Jesus Cristo fundou sobre os apóstolos: “Já não sois estrangeiros e imigrantes,
mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus. Estais edificados
sobre fundamento dos apóstolos e profetas, do qual Jesus Cristo é a pedra
principal” (Ef 2,19-20). Em um mundo onde as certezas se tornam líquidas e
escorrem pelo vão dos nossos dedos, nós temos um fundamento sólido: a nossa
pertença àquela que Jesus chamou de “minha Igreja” (Mt 16,18). Essa pertença
nasceu de uma escolha divina: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu
que vos escolhi” (Jo 15,16).
Pertencer à Igreja que Jesus fundou
sobre os apóstolos não é privilégio, mas responsabilidade, pois Jesus fundou a
Igreja para salvar o mundo e não para manter-se distante dele. Se muitas
pessoas hoje são indiferentes à Igreja é também porque nós, Igreja, não nos
fazemos presentes na vida dessas pessoas, sobretudo na hora em que essa
presença é mais necessária: a hora da dor. Aqui é importante recordar essa
verdade: “A Igreja que vai salvar o mundo não é aquela em que você está indo,
mas aquela que você está sendo” (autor desconhecido).
A verdadeira Igreja fundada por
Jesus Cristo não desfruta do reconhecimento do mundo; muito pelo contrário,
sofre o desprezo, a rejeição e, sobretudo, a perseguição do mundo: “o rei
Herodes prendeu alguns membros da Igreja, para torturá-los” (At 12,1). Houve um
período em que o mundo se dobrava à Igreja (época da Cristandade), mas esse período
passou e não voltará mais. Hoje temos que estar conscientes de que ser católico
significa pertencer a uma Igreja que diminuirá cada vez mais e se tornará cada
vez mais insignificante para as pessoas. A prova disso é a opinião que os
jovens têm da nossa Igreja: ela não diz nada para a vida deles.
Eis a grande diferença entre nós,
Igreja do século XXI e a Igreja do século I: lá ela sofria perseguição; hoje
ela “sofre” com a indiferença das pessoas. Lá, “enquanto Pedro era mantido na
prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele” (At 12,5); hoje grupos
católicos conservadores atacam o Papa Francisco nas redes sociais. São pessoas
que viraram as costas para esta verdade dita por Jesus: “Quem vos ouve a mim
ouve, quem vos despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que
me enviou” (Lc 10,16). Criticam tudo o que o Papa Francisco fala ou escreve,
mas acolhem cegamente tudo o que seus “mentores espirituais” (os “guias cegos”
de Mt 15,14) publicam nas redes sociais diariamente. Na prática, não são
seguidoras de Jesus Cristo, mas do padre “A”, da irmã “B”, do instituto “C”, da
Fundação “D”.
Ao confirmar Pedro como líder da sua
Igreja, Jesus garantiu que o poder do inferno nunca poderá vencê-la (cf. Mt
16,18). O poder do inferno tem nome: chama-se “diabo”, o divisor. Quando
católicos alimentam divisões na Igreja, estão se comportando como pessoas
diabólicas, esquecendo o que Jesus afirmou: “Se um reino se dividir contra si
mesmo, tal reino não poderá subsistir. E se uma casa se dividir contra si
mesma, tal casa não poderá se manter” (Mc 3,24-25).
Olhemos para o exemplo do apóstolo
Paulo. Depois de ter dedicado sua vida ao anúncio do Evangelho entre os pagãos,
estando preso e sentindo-se próximo do martírio, declarou: “Combati o bom
combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7). Pertencer à Igreja de Jesus
Cristo significa “combater o bom combate”, isto é, lutar contra seus próprios
pecados; lutar pela unidade da Igreja; lutar para salvar o maior número de
pessoas possível. Pertencer à Igreja de Jesus Cristo também significa “completar
a corrida”: independente dos tropeços e das quedas nossos e dos outros, devemos
nos levantar e continuar a corrida, até alcançarmos a meta que nos foi
proposta. Enfim, pertencer à Igreja de Jesus Cristo significa “guardar a fé”: mesmo
diante dos escândalos humanos da Igreja, mesmo diante da indiferença do mundo
atual, das perseguições e sofrendo por causa do Evangelho,
guardar, conservar, manter a fé: “Nós não somos desertores, para a perdição.
Somos homens de fé, para a conservação da nossa vida” (Hb 10,39).
São Pedro e São Paulo, rogai por nós!
Pe. Paulo Cezar Mazzi